Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

quarta-feira, setembro 28, 2005

O pregador


Dia desses, estava eu voltando para casa, quando no meio da viagem, levantou-se um pregador e começou a falar dentro do ônibus. Concordei com tudo o que ele disse, só não gostei de três coisas: a altura da voz dele, a forma com que ele falou e o local que ele escolheu para discursar.

O cara falava tão alto que chegava a gritar. Estava proclamando a verdade dele, a salvação cristã, como se fosse uma verdade compartilhada. Esqueceu-se que as pessoas ali poderiam ter crenças diferentes e fez um discurso carregado de um cego juízo de valor. Além disso, ele nem sequer perguntou se os presentes estariam dispostos a ouvir sua mensagem. Dessa forma, todos foram obrigados a ouvir o que ele estava a vociferar. Como já disse, eu compartilho da crença que ele expôs através das suas palavras, no entanto, acredito que a palavra de Deus tenha poder suficiente para penetrar no coração dos homens sem ser imposta de uma forma autoritária. Por isso eu não gosto desses caras que ficam pregando no trem, no ônibus ou em outros lugares onde as pessoas que ali estão não tem outra escolha senão ouvi-los. Isso é desrespeito e não pregação.Em nenhum momento da bíblia, as pessoas são obrigadas a ouvir a mensagem, tal qual aquele pregador fez dentro do ônibus e isso prova que a palavra de Deus não precisa ser imposta.

Outra coisa que me deixou intrigado foi forma como ele falava. Vociferava como se fosse o dono da verdade, coisa que em escalas menores eu já cheguei a fazer aqui no blog no post sobre a “juventude”. Lendo os comentários das pessoas eu percebi como eu estava sendo prepotente ao fazer um juízo acerca dos valores das outras pessoas. Aprendi muito com esse post e hoje já penso de uma forma diferente. Mas voltando ao ônibus, eu fiquei pensando na eventualidade de um defensor de cada religião resolver pregar dentro do ônibus. Será que seria agradável em uma mesma viagem ouvir um espírita, um judeu, um muçulmano, um macumbeiro e um ateu vociferando sobre suas crenças como se fossem as verdades universais?
Odeio pregadores que querem impor a verdade, independente da religião que professam. Se a verdade é mesmo universal ele atinge as pessoas de uma forma natural, não necessitando ser empurrada goela adentro.

sábado, setembro 24, 2005

Um Diálogo na zona sul

Ou: o que você só poderia escutar dentro de um ônibus ao passar por Copacabana.


-Moço, tem outro ponto antes da Siqueira Campos?
-Tem.
-Tem certeza?
-Tenho sim, eu vou descer lá.
-Ah, bom, porque as vezes não tem né, aí agente passa direto e tem que pegar um táxi para voltar um ponto.
...

quinta-feira, setembro 22, 2005

Uma noite no "Maromba night"

As oportunidades para um trabalho antropológico de campo surgem quando menos esperamos. Uma delas apareceu na última sexta-feira. O rolé na pista de skate já havia acabado. Estava eu, Leó Pará, Eric, Suíno e a Adriana voltando para casa, quando veio a idéia:

-Ih, Vamos passar no Maromba night, disse o Pará.
-Maromba night? - todos questionaram
-É, não tem nada para fazer hoje, vamos para o Maromba night, é caminho mesmo.
-Quem maromba night o que, ta todo mundo duro.
-Ih, isso não é problema, a entrada é 0800. –Vamo lá, várias mamadinhas.

Não havia realmente nada para fazer naquela noite, o local era caminho e o Maromba night tornou-se uma opção. Paramos em um boteco, onde algumas coroas dançavam forró, pegamos um tobi-cola e partimos para o “evento”. O cartaz colocado à porta do local trazia o anúncio:

“Maromba Night:
o novo point das academias.
Muito Funk, Tecno e não sei o que lá
Dj fulano de tal detonando nas pickups
Toda sexta-feira. Entrada Grátis”

Como diz um velho ditado, quem está na chuva, lá está para se molhar mesmo. Adentramos ao recinto e lá chegando pude me dar conta de onde havíamos nos metido. O som que rolava era uma espécie de techo-funk cuja letra repetia a frase do momento: “pedala Robinho”. Algumas mulheres que podem ser consideradas lindíssimas em outros planetas dançavam enquanto vários caras, em cujas testas pareciam haver selos escrito: “Cuidado: contém anabolizantes”, circulavam pelo salão. O Pará e o Eric resolveram ver o que haviam de bom no bar e voltaram com uma espécie de red-bull genérico, que segundo eles valeu pela noite. O tempo foi passando e o som corria enquanto o d.j. anunciava a grande atração da noite:

-Daqui a puco, fulano de tal do Malhafunk.
Eu reparei que haviam alguns instrumentos estranhos no peseudo-palco e a anúncio que o dj fez a seguir confirmou as minhas suspeitas:
-A galera ta pedindo funk, daqui a pouco vai ter muito funk, mas agora vocês vão ficar com o grupo “Simpatia e não sei o que lá”.

No momento em que o som do cavaquinho chegou aos nossos ouvidos nos entreolhamos e eu disse:
-Brincadeira tem limite, vamos embora.
-É, vamos embora, todos concordaram.
Passar uma sexta-feira à noite ouvindo pagode do Maromba Night já era demais. Fomos embora e perdemos o som do “Simpatia e não sei o que lá”.

domingo, setembro 18, 2005

A Barata

-Amorrrrrrrrrrrrrrrrrr, corre aqui que tem um bicho horrível na cozinha, gritou Analaiúde em um tom tão alto que poderia quebrar as vidraças do palácio de cristal se ele não fosse tão longe. Teosvaldo, que estava vendo os gols do Brasileirão, a princípio fingiu que não ouviu, mas os gritos de sua recém desposada amada eram tão insistentes que ocuparam-lhe todos os cinco sentidos. Ele levantou-se lentamente da cama e ao chegar na cozinha deu de cara com lauidizinha, como ele carinhosamente lhe chamava, em cima da mesa, quase tirando a recém comprada camisola do corpo. Aquela visão deixou Teosvaldo tão empolgado que ele nem mesmo reparou no inseto que estava quase aos seus pés.
-Olha aí, valdinho, ela vai te pegar, avisou Analaiúde.
-Pega nada, É só uma baratinha, afirmou em um tom de voz mais grosso que o normal, o homem da casa.
-Mata logo ela, ou será que você está se identificando com o fato de ela não pegar nada também, atirou-lhe na cara, Analaiúde enquanto ainda se equilibrava na mesa.
-Eu já disse que isso nunca havia acontecido comigo antes.
-É o que todos dizem.
-Como assim todos? Até parece que você tem experiência nessa área.
-Não tenho experiência, mas tenho conhecimento para falarrrrrraiiiiiiiiiiiii. Ela ta se mexendo.
-Ela quem, sua experiência?
-Não, A Barata né Teosvaldo.
-Ah, já que você quer dar fim à existência desse inocente ser, eu vou satisfazer o seu desejo de morte agora.
-Mata logo ela e para de enrolar com esse teu vocabulário de poeta frustrado.
-Eu, poeta frustrado? Saiba você, que na área as letras, os gênios são revelados quase sempre após os 40 anos, alguns até com 50.
-Ah é? E os broxas, são revelados com quantos anos? Com 32?
- Você sempre leva a discussão para esses termos, isso prova a sua falta de argumentos.
-Quem tem falta de alguma coisa aqui é você e ela vai fugir hein.
-Ela vai fugir? Você não chamava de ele?
-Acorda Teosvaldo, Eu to falando da Barata, que aliás ao contrário dele está viva, bem viva.
Smack, o estalo ecoou por toda a cozinha e a barata finamente morreu.
-Estava viva, porque agora ela já foi dessa para melhor, declarou o assassino.
-Poxa, Valdinho, também não precisava esmagar ela né, coitada.
-Você queria o que? Que eu desse uma injeção letal para ela não sentisse dor? Eu não entendo as mulheres.
-E nem precisa, só precisa me entender.
-E isso é que parece ser o mais difícil.
-É nada, é só você me tratar com jeitinho, igualzinho na nossa lua de mel, lembra?
-Se lembro, aquele hotel tinha um campo de futebol perfeito com uma grama lisinha. Pena que agente nunca conseguia completar dois times certinho.
- Eu tava falando de nós, seu cachorro.
-Ah, sim claro. Da lua de mel você não tem nenhuma reclamação quanto ao meu desempenho, tem?
-Muito pelo contrário. Aliás, que tal agente fazer uma reprise com os melhores momentos hein.
-É pra já, Teosvaldo sentenciou antes de pegar sua lauidizinha no colo e ir em direção ao quarto. Ele já estava preparado para literalmente levantar sua alto-estima quando da boca dela veio outro grito:
-Aiiiiiiiiiiiiiiii, Socorro, outra barata, Socorro!
O motivo do grito de Analaiúde, dessa vez possuía asas e deu muito mais trabalho à Teosvaldo. O caçador de baratas com quem Analaiúde havia se casado, pulou, correu, deu chineladas e usou a inseticida, mas em 10 minutos de caça, o único resultado era o barulho. Os gritos de lauidizinha foram tão enérgicos que no dia seguinte Manoelzão, o vizinho do apartamento de baixo, ao encontrar Teosvaldo no elevador, saudou-o com um tapinha nas costas e após um sorrisinho disse:
-A coisa foi boa ontem lá hein.
Na verdade, a noite anterior não havia deixado muitas lembranças boas para Teosvaldo. A barata, depois de ser energicamente caçada conseguiu fugir pela janela e Analaiúde, ao invés de dor de cabeça, teve medo do retorno da barata.
-Mas a janela já tá fechada meu amor, tentava Teosvaldo, mas nada tirou dela o medo da barata, que por mais estranho que possa parecer, logo a fez cair no mais profundo sono. Ele, antes de fechar os olhos prometeu para si mesmo que no dia seguinte iria detetizar a casa e os dois, suados e exaustos dormiram.


sexta-feira, setembro 16, 2005

Sugestões para o Esperto Jeferson

Agora que o ex-obeso mais famoso do Brasil virou também ex-deputado, e portanto, adentrou no mundo dos desempregados, o “incomensurável” resolveu dar algumas sugestões de ocupação para o Esperto Jefferson.

Dicionário Esperto Jefferson:
O ex-deputado pode muito bem acabar com a hegemonia do Aurélio Buarque e lançar o seu próprio dicionário. Palavras como Boquirroto, fariseu e rufião poderiam vir acompanhadas de comentários acerca da sua aplicabilidade diante de denúncias de corrupção.

Pomada Espertol Jefersonical
Indicada para deputados que prestes a depor para Cpi´s, acidentalmente batem a testa em estantes. A pomada, além de trazer uma cura rápida, possibilita àquele que a utiliza uma exposição na mídia.


Os produtos podem dar bons lucros ao nosso ex-deputado, no entanto o ramo de atividades mais promissor parece ser a área dos cursos, mini-cursos ou workshops, para ficar mais chique. Todos Ministrados por Esperto Jefferson:


Aulas de Oratória:
Como se defender de denúncias utilizando uma vasta gama de referências que vão desde Homero, passando por citações de advogados franceses, até alusões à familiares. Curso mais prático e eficaz que envio de dinheiro para o exterior via doleiros.

Aulas de Canto:
Como cantar óperas italianas em momentos adversos e ainda ter sua voz transmitida no horário nobre em cadeia nacional. Curso destinado à deputados desafinados e temerosos do futuro.
Obs: O limite de idade é de 60 anos, posto que Severino Cavalcante inscreveu-se mas não obteve êxito no exercício de suas cordas vocais.

Aulas de poesia:
Como ofender o adversário de uma forma poética, quase shaskerperiana. O aluno graduado neste curso poderá criar suas próprias ofensas educadas. Com muita prática ele chegará bem perto da mais célebre das que saíram da boca do professor: “Vossa Excelência me amedronta, porque vossa excelência desperta em mim os instintos mais primitivos.”

Mini-curso: “Como passar de acusado a acusador”
Com um título auto-explicativo, esse mini-curso tem como público alvo políticos que tem a sua mamata interrompida por referências maldosas à sua índole. Considerando que a melhor defesa é o ataque, Esperto Jefferson ensina nesse curso como desviar a atenção e de acusado, passar a ser, além de acusador, defensor da ética.
Obs: Inscrições limitadas. A família Maluf já garantiu as suas vagas.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Reflexões sobre a natureza dos meus posts

Foi depois de ler um post sobre “coisas miúdas” e mais especificamente sobre um abajour, que eu me toquei que de todos os blogs que eu leio, com exceção do “borboletas também choram”, nenhum deles fala sobre política ou nada parecido. Nenhum deles dedica posts à crise política do governo Lula ou à críticas em geral. Será que essas pessoas são alienados, simpatizantes de figuras como Roberto Jefferson ou simplesmente eles não ligam para a política ou para os aspectos sociais da nossa sociedade?

Para as três opções eu mesmo posso responder por elas com um não. A questão é que, normalmente em blogs lemos coisas que difiram dos jornais e a maioria dos autores se esforça para ser original. O primeiro passo para a originalidade talvez seja o tema do post e daí a fuga dos temas abordados pelos noticiários. Eu, no entanto, não consigo deixar de escrever sobre o que acontece no Brasil e no Mundo e os posts acabam saindo assim, como um desabafo em letras, publicado na web. Escrevo sobre coisas corriqueiras mas também não consigo deixar de escrever sobre a situação política do nosso país e sobre o tudo o que acontece no mundo. Talvez faltem coisas interessantes na minha vida que possam ser relatadas de uma forma original aqui no blog.

O fato é que o “incomensurável” é ainda muito novo e eu estou longe de ter muitos leitores. Por isso, ele é assim, minha criação e uma criação não pode se desvencilhar do criador. As idéias que saem da minha mente são assim; misturam “causos”, vivências, exercício da imaginação, revolta, críticas e muito mais. Esse blog é isso e aqui tem muito da minha pessoa. Além disso, não existe uma fórmula para blogar e enquanto eu gostar de escrever, independentemente do assunto, eu vou fazê-lo. Apareceu a idéia, eu mato no peito, dou uma ajeitada com a ajuda do Word e mando para o gol, ou melhor, publico.
Encerrada essa reflexão sobre a natureza dos meus posts, vamos prosseguir com a programação anormal do “incomensurável”.

domingo, setembro 11, 2005

Abajour X Missão social

# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
Aí, escrever sobre abajour é sacanagem hein
Falcon diz:
Rsrs
# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
Ao menos vc fugiu dos temas óbvios, coisa que eu não consigo fazer
Falcon diz:
É...Vc tem uns textos muito políticos..rs
# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
pô... tipo que eu acabo de ler o jornal e preciso escrever algo...
# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
é meio que um desabafo...
Falcon diz:
Por isso que eu nem leio mais...rs
# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
é... a julgar pelo último post acho que vc não é o único a não ler...
(isso foi o que o meu pensamento me disse para digitar, mas como nem sempre eu obedeço a ele, não digitei nada)
Falcon diz:
apesar de escrever bem.. vc acha q tem uma missão social..rs
# _I. I_I. I\I. 1. 0 .r.# diz:
rsrsrs. Missão social...Muito bom isso
( nesse momento veio a idéia desse post e depois disso a conversa descambou para o Los Hermanos).


*
como é possível perceber, isso foi colocado aqui através do que é para alguns a melhor invenção da humanidade, o Ctrl + c/ Ctrl + v. Essa conversa aí no MSN, entre eu e o falcão talvez explique um pouco porque recebo poucos comentários no meu blog.

sexta-feira, setembro 09, 2005

E agora Bush?

A substituta de Collin Powell, Condolleza Rice carrega mantimentos para os desabrigados pelo furacão Katrina. Fidel Castro, Hugo Chavez e até a autoridade política do Irã oferecem ajuda. O império foi mais uma vez atingido e pela primeira vez pediu auxílio à União Européia. O cowboy texano que desde pequeno sempre teve a ajuda do Papai, mais uma vez foi surpreendido e vai ter que fazer algo. A sua primeira surpresa, após assumir um dos cargos mais disputados do mundo, veio em uma manhã de setembro do agora distante ano de 2001. Quem não lembra das imagens do filme do Michael Moore em que ele, enquanto contava estorinhas para algumas criancinhas, foi avisado do inesperado. Cena patética em que, ninguém menos que o presidente dos EUA, parecia querer pedir ajuda ao Papai.

O 11 de setembro atingiu em cheio o império norte-americano. Pela primeira vez ousaram atacar o território da nação mais poderosa do mundo. Pearl Habor era apenas uma base militar e não estava propriamente dentro dos EUA. Mesmo assim, após o ataque dos Japoneses a resposta foi rápida e enérgica. Duas bombas atômicas e milhares de mortos: isso sim é que é uma resposta enérgica. A segunda guerra mundial acabou e eles, os poderosos norte-americanos, saíram como os mocinhos que venceram o cruel e sanguinário ditador Alemão. Em 1959, alguns barbudos resolveram ter dignidade e seguir uma outra opção, ali bem pertinho do Império. Um cruel embargo econômico foi a resposta principal do Império. Em 1989 veio a confirmação de que ninguém pode vencê-los e os defensores do justo e digno sistema capitalista triunfaram com seus carros velozes e suas televisões coloridas.

Até agora, todas as tentativas de lutar contra o império, ou foram frustradas ou receberam uma enérgica resposta. Depois do 11 de setembro, Bush não poderia agir de outra forma, precisava responder à altura. Foi aí que ele massacrou os afegãos e criou a lenda do Bin-laden, um barbudo maluco que gosta de jogar bomba nos inocentes ocidentais. Depois, não satisfeito, decidiu livrar os iraquianos das cruéis garras do sanguinário Saddan Hussein. Tudo bem que alguns soldadinhos americanos foram sacrificados nessa empreitada, mas esse é um pequeno preço que precisa ser pago. Além disso, o cowboy texano, que conseguiu se livrar do serviço militar na sua época, não tem muita noção do que seja servir como soldado invadindo uma nação estranha.

Hoje, quase quatro anos após o audacioso ataque às Torres gêmeas, o império está ferido mais uma vez. Dessa vez, no entanto, não foi culpa daqueles insanos fundamentalistas e muito menos resultado de uma afronta política ou econômica. Dessa vez, foi a natureza e a menos que Bush revolte-se contra Deus, o culpado não será eleito como das outras vezes. Não será possível invadir um país qualquer, desses que ninguém sabia que existia. Ele também não terá como colocar a culpa em algum barbudo e começar a caçá-lo desesperadamente. Dessa vez, o quintal do Tio Sam foi bagunçado pelos ventos e o líder do Império vai precisar tomar medidas que difiram das corriqueiras bombas lançadas pelo mundo afora.

segunda-feira, setembro 05, 2005

O alívio que vem do palácio do planalto

Poucos líderes conseguem, através de seus pronunciamentos passar uma real segurança para os seus ouvintes. O nosso amado presidente faz parte dessa restrita lista e hoje passou uma incrível confiança em seu último discurso. Segundo ele, a crise política atravessada pelo país, não irá afetar a economia. Através de uma apurada retórica ele afirmou que o sonho de que o Brasil se torne a nação do futuro não será frustrado. Disse ainda, que a população pobre não será afetada e que o Brasil continuará com o crescimento econômico de sempre, mesmo com a Crise.

Após tomar conhecimento dessas palavras, pude até mesmo ouvir o grito de júbilo dos excluídos, ou melhor dos incluídos nessa nossa convidativa economia. Dizem que pobre tem poucas alegrias e acho que poderíamos incluir entre elas o conforto proporcionado pelas palavras do presidente. Saber que essa política econômica empreendida pelo governo que aliás, tão bem faz para a população mais carente do nosso país; saber que nada disso será alterado é uma das melhores notícias dos últimos anos. Isso porque mesmo gastando milhões só para pagar os juros da dívida externa, mesmo sacrificando programas sociais e verbas da saúde e da educação para honrar os compromissos da nossa nação do futuro; mesmo assim essa política econômica tem sido como um Pai para a população menos favorecida do nosso país.

Quando iria se pronunciar à nação sobre a crise, lembro que o Lula nos brindou com tantos números que até um matemático se perderia. Tudo para provar que o país estava crescendo. Lembro também que ele exaltou o fome zero afirmando que o programa de combate à fome não iria acabar. Toda vez que o Lula se pronuncia, fico imaginando a reação dessa população pobre de quem ele tanto fala e na qual ele afirma ter suas origens. Seus discursos devem ser um verdadeiro alívio para essas pessoas.
Imagino um Luiz qualquer em casa descansando após um longo dia. Cansado de ouvir não, diante de todos os pedidos de emprego possíveis e imagináveis, ele tenta ouvir o presidente falar enquanto sua esposa avisa que a comida acabou e os seus filhos pedem o brinquedo que viram passar no comercial da televisão. Totalmente desiludido com a realidade, ele vê aquele simpático barbudo, Nordestino, ex-metalúrgico, um cara que sempre afirma que sabe muito bem o que é passar por dificuldades. As palavras do Luiz famoso chegam aos ouvidos do Luiz que só se torna um número a mais nas estatísticas do país. O Luiz que não é famoso, apesar de tudo, deve se sentir aliviado ouvindo que essa nossa eficiente política econômica não será alterada. Assim, como ele, milhões que se encontram na mesma situação devem rejubilar de alegria e sentir seus corações reconfortados pelas palavras de Lula, o presidente do nosso país.

sábado, setembro 03, 2005

O futuro é uma aguardada e indigesta pizza

Heráclito, o pipoqueiro cronista*

Hoje fui convidado para almoçar. O cardápio seria surpresa, uma espécie de brincadeira do pessoal aqui da área. Mostrei a minha educação em público e sentei-me na cadeira, não na mesa. Esperei pela refeição com uma expectativa nunca antes experimentada. Todos cochichavam ao meu redor, tentado dificultar a minha espera, até que o garçom chegou. Esperava finalmente assassinar a minha curiosidade como um serial killer, mas o Genoílson, o balconista na birosca do Jonas, entregou um papelzinho para o garçom e dirigiu-me uma risadinha.

-Pensou que ia ser tão fácil assim? Disparou o Josicleison, flanelinha muito gente boa, um debochador de carteirinha. –Dessa vez agente consegue te pegar.
A Brincadeira é simples. Toda sexta-feira agente almoça no Amareladinho, uma imitação barata do Amarelinho, e cada semana um de nós precisa adivinhar o prato do dia de olhos vendados. Se acertar, ganha além do almoço grátis, a admiração da Marineide, a garçonete e uma boa bolada, a soma das apostas.

Naquele dia havia algo de estranho no clima do Amareladinho. As coisas pareciam estar do mesmo jeito à primeira vista. Executivos de 10º categoria, daqueles que de executivo só tem o terno e a gravata, almoçavam e conversavam sobre futebol enquanto deixavam à mostra os alimentos sendo mastigados. Casais de futuros amantes trocavam elogios tão superficiais quanto loiras famosas e imaginavam como seria a noite. Um Velho bêbado era chutado para fora do estabelecimento e juntava-se na porta aos mendigos que esperavam a única coisa que poderia ser deles, as sobras. Apesar dessa aparente normalidade, um ar insólito enchia o Amareladinho naquela tarde.

Ao contrário das outras vezes, em que eu sempre esperava a comida chegar, para através do meu apurado faro, reconhecer a iguaria, naquela tarde eu estava em dúvida entre dois pratos antes mesmo da comida ser servida. Os meus cálculos de probabilidade apontavam para um suculento bife com fritas, mas eu bem lá no fundo, sentia que iria saborear uma pizza. Estava eu com minhas divagações, quando finalmente vendaram os meus olhos. Dessa vez, no entanto, o garçom demorou mais que o normal para chegar e eu fiquei ali, com a dúvida martelando minha mente. Não poderia ser uma pizza, pensava eu. Isso seria óbvio demais. Essa iguaria italiana já havia finalizado o nosso almoço de sexta-feira várias vezes e não parecia que ela iria voltar a estrelar o nosso evento semanal. Todos queriam que eu perdesse dessa vez, o que nunca acontecia e se o prato fosse uma simples pizza, eles sabiam que eu iria adivinhar facilmente. Isso porque eu adoro pizza quase tanto quanto pipoca.

Depois de todo o esforço para me vencer, ninguém poderia esperar uma pizza. Longas horas devem ter sido gastas com o planejamento desse momento e o desfecho de tudo isso teria um público maior que o de costume. Todos que estava presentes no restaurante levantaram-se e aproximaram-se da mesa, para aguardar o prato principal. Executivos, verdadeiros e falsos, garçonetes e até aqueles que nunca se interessam por esse tipo de evento, estavam atentos à minha mesa. Disseram-me até que “o diário das biroscas”, um renomado periódico, havia mandado um fotógrafo para registrar o momento.

O garçom desembarcou o prato na minha mesa e a minha voz interior confirmou que era uma pizza, uma suculenta pizza de calabresa com muita cebola. Eu quase não podia acreditar e pude até mesmo descobrir o que estava estranho no Amareladinho. Todos, absolutamente todos preferiam não acreditar na pizza, mas eles, bem lá no fundo, esperavam por ela. Foi aí que eu dei o meu palpite e ao retirar as vendas, tive a confirmação. Era mesmo uma apetitosa pizza que estava à minha frente, e isso não me surpreendeu. O que mais que causou estranhamento foi a reação de todos os que estavam no restaurante. Eles lamentaram, reclamaram, alguns até riram, mas nenhum, nem uma viva alma, fez algo. Eles apenas conformaram-se e voltaram para a rotina de cabeça baixa. Todos na minha mesa lamentaram, mas riram, riram como nunca haviam mostrado os dentes antes. Todo o esforço, toda a motivação inicial, o empenho e a crença de que as coisas iriam ser diferentes; tudo isso chegou ao fim assim como tudo há de terminar e Tudo, absolutamente tudo acabou em pizza.


*Heráclito, o pipoqueiro cronista, relata os “causos” de sua agitada vivência como pipoqueiro sempre que pode.