Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

quarta-feira, junho 29, 2005

Agradecimento

Querida Professora doutora Maria Judith Sucupira da Costa Lins, gostaria de lhe dizer primeiramente que eu achei o seu nome uma das coisas mais lindas que eu já ouvi nessa minha estadia pelo planeta terra. No começo achei um pouco difícil de gravar, mas com o tempo pude perceber a verdadeira sublimidade desse sobrenome. Quem me dera ter um sucupira no meu sobrenome. Imagino até algum livro meu sendo citado: “como afirma Sucupira em seu mais recente livro...”. Mas já que eu não tenho Sucupira, o objetivo deste humilde escrito é lhe agradecer por todo esse semestre em que tive a senhora como educadora. Aprendi muitas coisas durante esse tempo.

Graças à senhora eu pude aprender que a televisão é algo muito, mas muito ruim mesmo e que eu não devo sentar à frente dessa maligna caixa preta, afinal o risco de ser atingido por uma mensagem subliminar não só existe, como é inevitável. Aprendi também que posso lanchar na sala de aula, já que os alunos das universidades alemãs fazem isso a todo momento. Compreendi que posso, sempre que tiver uma dúvida ou uma opinião discordante, interromper a fala do professor. Só não posso citar fontes medíocres como o fantástico, porque se eu fizer isso, meu argumento não será nem mesmo ouvido.

A sua pessoa me ensinou também que para criticar algo não é preciso ter conhecimento sobre o assunto. Foi assim que a senhora deu aquela genial lição em que criticou o filme “Menina de ouro” sem nem ao menos ter visto. – Eu li várias coisas sobre esse filme e ele é realmente uma coisa horrenda, tão horrenda que eu não vou nem dar o meu dinheiro para vê-lo. Não posso apoiar um absurdo desses, foi o que a senhora disse. E mesmo depois que eu disse que o interessante seria ver o filme para ter uma opinião mais fundamentada acerca do assunto. Mesmo depois de eu ter dito que um filme é uma obra de arte e que portanto não tem necessidade de apresentar um debate acerca de determinado assunto, sendo essencialmente uma visão e uma forma de expressão do seu autor. Mesmo eu citando o exemplo de “Mar adentro”, um filme que também trata da eutanásia e que aliás a senhora pode ver a minha opinião sobre ele nesse link aqui. Mesmo depois de eu ter dito isso tudo, a senhora sustentou a sua posição e através de um contra-argumentação pautada na repetição da sua primeira fala encerrou o assunto.

Espero um dia ter a capacidade que a senhora tem e assim poder criticar sem ter nem ao menos uma apreensão do objeto da crítica. Quando eu conseguir atingir esse nível, poderei sair por aí com a minha metralhadora de críticas descarregando a minha munição pelo mundo afora. Nesse dia, não perderei mais tempo tentando, através de diferentes fontes de informação, desenvolver o meu censo crítico.
Com a senhora eu aprendi ainda que o provão implementado pelo governo FHC foi uma coisa muito boa. Eu argumentei que como aluno, eu sequer notei a sombra de qualquer participação discente ou docente nesse indecente projeto e disse que eu não percebi qualquer outra forma de avaliação da qualidade de ensino além de uma prova ao final do curso. Lembrei-lhe ainda que o objetivo de melhorar o ensino superior nem de longe foi atingido. Ouvindo os meu argumentos, tolos argumentos me desculpe, que como a senhora mesmo disse evidenciam a minha falta de informação, a sua pessoa me fez o favor de esclarecer a minha mente. Revelou então para toda a turma um segredo mais bem guardado que a identidade secreta do batman. Revelou que os professores que participaram da elaboração do projeto formavam um grupo secreto, que compartilhava informações altamente confidenciais, no melhor estilo da liga da justiça. Infelizmente a senhora não revelou se chegou a fazer parte desse grupo, mas eu suspeito que sim, afinal só os membros dessa sociedade secreta poderiam ter conhecimento acerca da existência do grupo. Imagino até a senhora deixando a faculdade de educação e embarcando em seu Sucupira móvel à caminho da reunião secreta a lado de outros super-educadores. Só não consigo imaginar o uniforme utilizado pela sua identidade secreta.

Por fim, aprendi uma das mais valiosas lições da minha vida. Algo que só foi possível graças a esse produtivo semestre ao seu lado. Eu aprendi que os professores de psicologia da educação II não devem ser levados a sério, especialmente aqueles que fazem parte do grupo secreto dos sucupiras. Muito obrigado, querida educadora.

obs: Eu quase ia esquecendo de agradecer pelo meu 7,5 de média e de lhe perguntar se a senhora não poderia reservar uma vaga na eletiva de pedagogia que a senhora irá ministrar no próximo semestre. Por favor, garanta a minha vaga, pois mais um semestre tendo a senhora como professora será algo indescritível.

sábado, junho 25, 2005

A minha companhia do fim de semana

Hoje o post vai sair horrívelmente ruim e escabrosamente péssimo, exatamente como o meu estado de saúde. Acontece que desde ontem à tarde tenho sido atordoado por uma desconhecida dor. No começo//////////eu pensei que fosse uma dor na orelha, mas com o tempo essa possiblidade mostrou-se inviável já que nínguem pode ter uma dor na orelha. Você po///////de ter uma dor no ouvido, na cabeça e até mesmo no nariz, mas na orelh////////a não. TAl como existe a palavra proibida, existe a dor proibida. Descobri que a dor na orelha não é tolerada pela nossa sociedade. Dessa forma, diante da unanime opnião de que uma dor na orelha não é possível, eu me conformei que a dor não era na orelha. De////////fato tem tornado-se óbvio que a dor localiza-se realmente na minha cabeça, bem ali na parte de trás, próximo à minha orelha, daí a confusão.
Essa dor realmente gostou de mim e talvez pelo fato de o sentimento não ser recíproco, ela continua a me ataz//////////anar. Passou a noite comigo e piorou ainda mais o meu sono. Tentei me distrair durante o dia de hoje em um típico almoço familiar. Até o jogo do Brasi //////////l que eu não costumo assistir, recebeu a minha atenção e na companhia da minha família e da minha dor até comemorei os gols. Deve ser culpa dessa minha companhia. E agora estou////////eu aqui, tentado estudar para as duas provas que terei na segunda e na terça-feira respectivamente. Algumas milhares de folhas para serem fichadas e revistas. Esse fim de semana é um forte candid//////////ato ao pior da minha vida. Ao menos eu não estou sozinho. A dor faz questão de me fazer companhia.
obs: os//////// ao longo do texto correspondem aos momentos em que as fisgadas da minha cabeça fizeram-se presentes enquanto eu escrevia. É isso mesmo, a dor não é uma dor constante, mas sim constituída por contínuas fisgadas, que eu não desejaria nem para o mais corruptos dos deputados. Pensando bem, eu acho que existem alguns que bem que mereciam umas fisgadas dessas de vez em quando. É, talvez até mesmo eu///////// as mereça.

quarta-feira, junho 22, 2005

Em busca de algo mais que uma pátria de chuteiras

Heráclito, o pipoqueiro cronista*.



Aproveitando o baixo movimento, típico dos dias chuvosos, pude retornar ao incomensurável. Um pipoqueiro não tem muito tempo para redigir textos e como eu não recebo mensalão, preciso trabalhar. Dedicar-se ao trabalho aliás, foi o que pouquíssima gente fez hoje a partir das quatro horas da tarde. Até o pregador xiita que fica por aqui gritando que todos vão para o inferno se não aceitarem Jesus trocou o grito de arrependa-se por entusiásticos “Pedala Robinho”. E o atacante brasileiro parecia estar ouvindo os urros do seu compatriota e obedecendo o mandamento pedalou, pedalou, pedalou e pedalou. Pedalou tanto que a corrente caiu e os japoneses, tão hábeis com os inventos tecnológicos, subiram em suas modernas motonetas e alcançaram a nossa humilde magrela brasileira.

A rede balançou tanto, que um alemão resolveu inovar e fez um gol consigo mesmo. Teve gente que até comemorou e aqui no boteco do seu Joaquim, o auto gol humano recebeu mais comentários que a nomeação da nova ministra da casa civil. Coisas de alemão, a única língua em que gol não tem o som de gol, mas sim de thorrrrrrrrrrr. Imagine se o Galvão Bueno fosse alemão. Além do Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaldinho, cuja falta nessa copa das confederações tem causado crises de identidade no locutor brasileiro, teríamos que ouvir o thorrrrrrrrrrrrrr, toda vez que a rede balançasse.
-Até que não foi tão mal assim, comentou o funcionário da pastelaria chinesa, que de tanto ser chamado de Japa, quando viu o segundo gol do Japão, soltou um estrondoso grito que ninguém entendeu.
-Não foi tão mal? Você tá maluco? Não foi tão mal por time de vocês, mas para o Brasil foi uma vergonha, sentencia o vendedor ambulante.
Vergonha é um sentimento, que se tratando de Brasil, só toma conta de nós quando a seleção de futebol perde. Jamais ouvi alguém chegar aqui, depois de tomar conhecimento de alguma dessas infindáveis denúncias de corrupção, e dizer indignado que sente vergonha em ter votado em determinado deputado.
-Isso não é possível. Esse não é o Brasil que eu conheço. Nós temos condições de vencer, mas toda vez deixamos essa chance escapar por causa de alguns jogadores que fazem besteiras em campo. Quando pensamos que o time vai embalar, somos surpreendidos com alguma derrota. Assim não dá! exclama algum torcedor brasileiro, após o término na partida.

Aquilo que Nelson Rodrigues um dia chamou de pátria da chuteiras, parece que não sabe retirar as chuteiras após os jogos. Nossa cobrança e indignação contra o Parreira, não possuem nem 10% de correspondência em relação aos nossos representantes entre o poder público. Imagine algum sujeito indignado, dirigindo-se para o deputado em quem votou e dizendo:
-Pô cara, assim não dá! Você está muito na retranca. Têm que apresentar mais projetos. E aquela lei acerca do dinheiro público que você prometeu? E aquele acessor que você convocou? De onde você tirou aquele cara? Ele é muito ruim. Tem que se preparar bem para o próximo jogo hein. Com bons argumentos, análise do processo e coerência agente pode vencer aquele time de corruptos. Tô de olho em você!
Se ao menos, puséssemos usar a mesma cobrança que exercemos sobre o Parreira para a nossa classe política, seríamos mais que uma pátria de chuteiras.



*Heráclito, o pipoqueiro cronista, escreve para o incomensurável sempre que pode, com uma inconstância que só encontra paralelos no tempo que um mesmo milho levaria para estourar.

sábado, junho 18, 2005

Como fazer um evento "jovem"?

Em primeiro lugar é preciso ter uma grande marca para bancar o evento. Uma grande empresa norte-americana com a qual todos se identifiquem é a idealizadora ideal para esse tipo de acontecimento. Escolhida a empresa, é preciso inventar um nome. Agregue ao nome da empresa algumas palavras e, inglês. Os “jovens” adoram inglês e além disso não pega muito bem nomear um evento de grande porte com esse com essa nossa subdesenvolvida língua, falada pela nossa subdesenvolvida população. Um nome bem escolhido pode nem mesmo ter sentido, mas com uma boa propaganda irá cair na boca de todos. A propaganda, aliás é um fator importantíssimo, pois se este negócio tivesse alma, a propaganda a seria. Divulgue o evento com antecedência; cole cartazes por todos os lados sem se importar com a poluição visual; anuncie nas rádios “jovens”, na televisão e onde mais você puder. O importante é fazer os “jovens” crerem que eles não podem deixar de ir, e que se não forem serão pessoas fracassadas que não sabem aproveitar a vida.

O local do evento também é importante. Escolha um local que seja bem distante para a maior parte da população. A maioria é sempre formada pela ralé e um evento que se preze não pode permitir que pessoas desse nível compareçam. Escolha um local bem grande, onde todos possam ter liberdade para se pegarem o quanto quiserem, beberem a vontade, experimentarem as mais alucinantes “viagens”; enfim divertirem-se. Uma boa localização aliada a um preço alto, além de valorizar o seu evento irá fazer uma seleção monetária do publico, excluindo assim os menos favorecidos.

Escolhido o local e fixado o preço, você precisa selecionar as bandas que irão tocar. Contrate algumas dessas bandas que tocam nas rádios “jovens”. Dessas que tem umas letras bem vazias e que são adoradas pelo público “jovem”. Essa é a parte mais fácil. Existem dezenas de bandas desse tipo que estariam dispostas a apresentar-se. Anuncie também a presença de uma banda internacional, de preferência norte-americana. Ela não precisa nem mesmo ser conhecida. O que importa é que ela seja anunciada como a grande atração e seja internacional. Se você fizer uma boa propaganda, uma desconhecida atração internacional pode ganhar milhares de fãs de um dia para o outro.

Por último, mas não menos importante, você deve enfatizar o aspecto “jovem” do evento. Coloque alguns espaços com tipos de música diferentes, caracterizados pela repetição de batidas sonoras; algo que os “jovens” adoram. Anuncie também alguns esportes radicais, mesmo que você não tenha idéia do que eles realmente significam. O importante é anunciar com um evento radical, o que irá atrair muitos “jovens”.

Um evento “jovem” que se preze deve conter todos esses ingredientes: “Bandas jovens”, um local que propicie a liberdade que os “jovens” adoram, identidade “jovem”, marcas “jovens”, esportes radicais “jovens”, e é claro muitos “jovens”. Realizando um bom evento, você estará prestando um ótimo serviço para esses “jovens”. Diversão com algum sentido e programações culturais em geral não são a cara deles. Eles não se preocupam com os problemas do mundo, com o futuro e muito menos com a realidade do país. Eles gostam mesmo e´ de se divertir. Com um evento bem realizado você também poderá ganhar uma coisa muito valiosa que esses seus clientes “jovens” tem para oferecer: muito dinheiro. Convenhamos que só isto já basta, tanto para eles, quanto para você.

quarta-feira, junho 15, 2005

Diálogos de um homem só

-Eu não acredito! Acho que ela está olhando para mim.
-Olhando para você? Quem?
-Aquela ali que está de pé.
-Ela? Olhando para você?
-É, está sim, repara só. Hoje é o meu dia de sorte
-Nossa! Ela é linda.
-Linda? Ela tem uma beleza estonteante. Repare só nos olhos dela. Esse olhar dela me faz esquecer de tudo o que existe além de nós.
-como assim nós? Você tá louco?
-É, exagerei um pouco no nós, mas que ela tá olhando para mim, isso está.
-você está louco. Já se olhou no espelho? Ela não pode estar olhando para você.
-Qual o problema? O que há de errado com a minha aparência.
-Não vou entrar em detalhes, mas você não faz o tipo dela.
-E qual seria o tipo dela?
-Ah, um desses caras bombados que vive na academia, tem dinheiro para presentear as mulheres, tem contatos, se veste bem, tem carro; enfim, um cara que possa fazê-la feliz.
-E quem disse que eu tenho que ter isso tudo para fazê-la feliz?
- As mulheres dizem.
-Claro que não. Existem mulheres que não se preocupam com essas coisas.
-Ah tá, e também existe um velhinho que mora no pólo norte e que no Natal presenteia as crianças de todo o mundo.
-As mulheres não querem só dinheiro. Tudo bem que eu não seja fisiculturista, não tenha carro próprio, receba uma merreca por mês, não me vista com calças centopeito ou trajes típicos da mauricinholândia, mas eu sou um cara legal. Tenho bom-humor, sou simpático, fiel, romântico e até inteligente. Existem várias mulheres que procuram por um homem assim e ela pode ser uma delas.
-Você realmente não entende de mulheres. Elas são como os políticos, dizem uma coisa, mas fazem outra. Elas afirmam que gostam de homens inteligentes e tal, que o dinheiro não é importante, mas só são vistas com os mauricinhos endinheirados. Lembre-se de uma coisa: as mulheres namoram para exibir os seus conquistados para as amigas. Dizem que os homens são todos iguais, mas fazem um verdadeiro processo seletivo para escolhê-los. Tudo isso para que? Para o exibirem para as amigas. È o fato, e é por isso que ela não pode estar olhando para você.
-Você é tão pessimista
-Pessimista não, realista.
-Pois eu não acredito em nada do que você disse e também acho que ela está mesmo olhando para mim.
-Você tem cada idéia sem noção. Mulheres bonitas e interessantes gostando de caras simples e inteligentes. Eu hein. Você não existe. Acredita até que o mundo tem solução!
-Olha, ela está se movendo. Nossa, ela é realmente espetacular.
-Ela está indo embora, ta vendo só.
-Espera...
-Tá vendo só como eu estava certo.
...
-Estava nada, você viu isso?
-Aham. É, tenho que reconhecer o meu erro. Ela estava mesmo olhando para você.
-Agora você fala isso, agora já era.
-È, agora já era...

sábado, junho 11, 2005

Elogio ao mensalão

A nossa indignação é uma mosca sem asas que não ultrapassa a janela de nossas casas, já dizia Samuel Rosa, em uma época que o skank ainda possuía algum sentido além de emplacar hits nas rádios “jovens”. Convenhamos que se todo brasileiro deixasse sua indignação alçar vôos maiores, essa seria a nossa única ocupação. No Brasil, os escândalos protagonizados pela nossa classe política são tão constantes que se deixarmos de ler o jornal por dois dias, perdemos a denuncia da vez. Propinoduto, Carlos cachoeira, Romero jucá e o escândalo dos correios são apenas alguns dos últimos assuntos dignos de serem abordados pelas páginas policiais.

Parece-me que há um acordo entre esses engravatados salteadores. Uma espécie de rodízio de escândalos, que consiste na lógica de que uma denúncia pode ser esquecida e arquivada se for superada por outra. Dessa forma, os nossos ilustres deputados revezam-se nas manchetes dos jornais, de modo que no decorrer no processo todos acabem sendo inocentados. As denúncias contra Romero Jucá, o queridinho do Lula, por exemplo, nem merecem mais a citação dos telejornais. A onda agora é falar do mensalão. Um escândalo sobrepõe-se ao outro e todos vão vivendo felizes com suas liminares judiciais. É claro que o esquema não é perfeito e eventualmente um André Luiz da vida perde o mandato. Existem ainda aqueles que não se encaixam no acordo e preferem usar a tática do contra ataque fulminante, como o nosso ilustre Roberto Jéferson, que acuado diante das denúncias envolvendo o seu nome, bombardeou o governo.

A maioria dos brasileiros indignou-se diante das denúncias do deputado Roberto Jéferson. Todos passaram a semana revoltados, surpresos e abismados diante do novo escândalo da vez. Eu não. Achei inclusive muito boa a idéia do mensalão. Antes que você, caro leitor, revolte-se contra a minha pessoa, permita-me explicar a minha posição, já que nossas desenvolvidas instituições democráticas nos deram a liberdade de expressão.

Em outubro de 2002, a grande maioria dos brasileiros depositou em Lula todas as esperanças de renovação e superação dos escândalos políticos. Lula personificava a esperança de um novo Brasil. Desde o primeiro dia de janeiro de 2003, quando o ex-metalúrgico, finalmente recebeu a faixa de presidente, ao nos olharmos no espelho, percebemos que a nossa imagem foi aos poucos mudando. Temos agora algo a mais. Além da fatigada aparência de brasileiro, temos agora peruca, maquiagem, e uma grande e vermelha bola em nossos narizes. Não há mais espaço para a ilusão de que estamos no caminho certo e que as coisas irão melhorar. Reelegemos o mesmo presidente sem saber.

Os escândalos políticos e o grandioso esforço em prol da nação para impedir as cpi´s continuam. Ao menos, o último escândalo pode melhorar a nossa imagem, no mais puro sentido da palavra. Vamos então apoiar o mensalão. O nosso querido presidente ludibriou uma nação que em sua maioria sobrevive com R$280,00 por mês. Imaginem, portanto, se estendêssemos um mensalão de R$30, 000,00 para todo brasileiro que votou em Lula. Já posso até imaginar as denúncias nos telejornais: “presidente é flagrado negociando com seus eleitores a instituição de um mensalão em prol do apoio ao seu governo e à sua reeleição”. Os mais honestos poderiam questionar-se acerca da integridade pessoal, mas convenhamos que trinta mil reais por mês podem comprar qualquer integridade. O mensalão é, portanto um direito de todos os brasileiros que elegeram o nosso atual presidente. Devemos agradecer ao deputado Roberto Jéferson pelas denuncias, abraçar a idéia e instituir a campanha: “Eu sou brasileiro, quero o meu mensalão e não desisto nunca”.

quarta-feira, junho 08, 2005

Sobre três cegas

Um filme brasileiro sobre a vida de três irmãs cegas. Para muitos, um tema desprezível, sendo superado por pancadaria estrelada por Vin Diesel. Não para mim.
O documentário fala sobre a vida de três irmãs que nasceram cegas e que desde criança acostumaram-se a cantar nas ruas de Campina Grande em troca de esmolas. Dois pontos me chamaram a atenção. Em primeiro lugar, a própria forma com que a vida delas é apresentada. Em uma época em que uma novela das oito coloca dois cegos como atores, com o claro e forçado objetivo de superar preconceitos e mostrar que cegos podem fazer todas as coisas, o filme apresenta um ponto de vista diferente.

Na novela, os cegos não existem como personagens, mas sim como cegos descobrindo o mundo. Todas as cenas trazem questionamentos acerca dos limites de uma pessoa cega e a novela parece quere provar que eles não existem. Eu acredito que os preconceitos devam ser vencidos de forma natural. Acredito portanto que seria muito mais enriquecedor colocar na novela personagens cegos que verdadeiramente tivessem uma vida normal e que possuíssem um papel dentro da trama, e não apenas aparecessem como atores protagonistas de propagandas da associação de cegos.

“A pessoa é para o que nasce” não limita-se a tratar dos desafios e preconceitos presentes na vida de um cego. O filme, aliás passa distante desse tema. Ele mostra a vida das três irmãs como a vida de três pessoas, e não como a vida de três cegas apenas. Elas são as estrelas do filme e estão presentes ali temas dignos das mais arrojadas tramas hollywoodyanas. O amor, as mágoas, os sofrimentos, as alegrias, os desafios; tudo isso faz parte da vida das chamadas “ceguinhas de Campina Grande”, e o documentário passa justamente por essas questões. Além disso, as imagens gravadas entre 1998 e 2003 resultam em uma espécie de filme sobre o documentário, onde é acompanhado o caminho em direção à fama trilhado pelas três irmãs.

O segundo ponto que me chamou a atenção tem a ver com o próprio título. As protagonistas colocam o destino como central na vida de todos. Uns nascem para estudar, uns para trabalhar e outros, como elas, nascem para cantar e pedir esmolas. Mas o destino que elas citam não é um simples destino, mas um destino que tem um propósito, tanto que elas afirmam que foram criadas para isso e que nada podem fazer contra, já que foi uma decisão divina. A própria cegueira, vinda de nascença é vista como uma vontade divina que teria algum propósito.

Impressionou-me a aceitação da situação. Eu tenho tudo o que preciso para viver de uma forma saudável e muitas vezes questiono-me sobre a validade ou o propósito da minha vida. Aprecem então, três irmãs cegas e a convicção com que elas falam sobre o que crêem cai como um balde de água fria sobre mim.

O ser humano não me surpreende apenas pelas crueldades capaz de cometer. Felizmente ele também choca pela sabedoria que pode advir das mais inesperadas pessoas. É por isso que precisamos nos redescobrir como povo e como país, detentores de uma cultura que não pode ser aprendida nos grandes centros de saber. Precisamos redescobrir o sentido da vida e o nosso propósito nesse mundo, que muito tem a ver com o propósito de Deus para nós. Nesse sentido, a pessoa é para o que nasce.

segunda-feira, junho 06, 2005

A Rebeldia Responsável

No último domingo, honrei o show do Dead Fish com a minha presença. Dead Fish assim com letra maiúscula mesmo, porque eles realmente conseguem aproximar-se da perfeição. A união de um hardcore pesado, mas ao mesmo tempo com uma forte melodia, com uma letra que impressiona pela crítica social, cantada em português faz do Dead Fish A Banda.

Apesar de ter adentrado ao glorioso mundo da MTv, a banda não perdeu suas características e continua provando que é possível fazer um som de qualidade no Brasil. Mas chega de tentar ser crítico musical e vamos ao show. O evento rolou em um clube bem pequeno da vila da penha, no melhor estilo underground. Eu adoro essa palavra: underground. Ela resume um sentido alternativo de ser, que procura fugir da ditadura de uma sociedade com gostos uniformizados. O mais estranho no entanto é que as pessoas que procuram fugir da normatização, muitas vezes formam grupos de resistências uniformizados. Dessa forma, como as pessoas adoram rotular, você é conclamado a definir-se dentro de um grupo social adequando-se ao modo de vestir, falar e ao gosto musical compartilhado pelo grupo. Eu odeio rótulos e definições precisas de gostos musicais. Eu escuto o que gosto, falo como quero e me visto da forma que eu gosto, sem estar inserido dentro de um padrão social.

Eventos do cenário alternativo carioca são ótimas fontes para estudos antropológicos. Uma forma de se vestir, que apesar de ser diferenciada, possuí em sua maioria algo em comum. Os hábitos e a forma de agir diante da música são peculiares e enfatizam a particularidade do grupo. Mas deixemos o estudo antropológico para os antropólogos.

O título desse post deveria ser “a rebeldia responsável” ou algo assim, inspirado no show do Dead Fish. Isso porque o vocalista, logo no início do show, simplesmente dispensou aquelas barreiras que normalmente separam o público do palco e conclamou todos para aproximarem-se do palco. Estabeleceu um contrato com o público baseado na proibição de se subir no palco e na advertência em relação as duas torres gêmeas de iluminação. Feito o contrato, o show iniciou-se com a tradicional roda punk no meio do salão e com os mais fanáticos pulando próximo ao palco e cantando junto com o grupo. O que poderia parecer uma completa anarquia desenrolou-se na mais perfeita ordem fundada no contrato entre o vocalista do grupo e o público. Isso lembrou-me o conceito de rebeldia responsável, que venho forjando a algum tempo. Trata-se de uma revolta fundamentada, um protesto que tenha conteúdo e que esteja atento às conseqüências dos atos. As manifestações de quebra-quebra não fazem parte da rebeldia responsável. Muito menos os atos que possam prejudicar o próximo. A rebeldia responsável é a proximidade de uma revolução da mente, fundamentada em valores coerentes. Utópica ela pode ser, mas isso não anula a sua pertinência. Mais do que nunca, a rebeldia responsável torna-se um anseio do mundo contemporâneo. Fundamentada na união, a rebeldia responsável precisa vencer o individualismo de massa dos tempos modernos, vencer a acomodação, a descrença a ilusória ordem da nossa sociedade.

Tal qual o publico do Dead Fish anarquisou com responsabilidade, temos que protestar coerentemente, tendo em nossas mentes a noção das conseqüências. Isso vale para tudo. Até mesmo para curtir a vida de uma forma louca, é preciso ter responsabilidades pois querendo ou não as conseqüências dos nossos atos sempre recaem sobre nós. Abençoada seja a rebeldia responsável.

sexta-feira, junho 03, 2005

Ela vai arrasar

-Olha só que coxão, ela vai arrasar na festa.

-Só a blusa foi R$ 80, 00, com mais essa saia e o sapato, dá mais de R$ 200,00.

-Mas ela vai arrasar, e olha isso aqui só, disse ela exibindo o novo invento humano, uma espécie de peito postiço. Os homens nem percebem, prosseguiu ela. E não parou por aí:
-Assim, ela se sente o máximo, com esses peitões, essa saia, que não é curta, mas que mostra esses coxões, a maquiagem, o cabelo alisado, ela vai arrasar.

-Essa roupa, não tem aqui no Rio não. É importada. Ela vai arrasar.

-Lembra daquela outra festa que você foi? Até a aniversariante gostou da sua roupa. E Ela prosseguiu em sua fala: - Todos ficaram de boca aberta quando você chegou.

-Diz aí, ela não vai arrasar?

Este diálogo de uma pessoa só não é uma invenção. Não saiu da minha fértil imaginação. Ele realmente aconteceu esta manhã no meu aposento. A protagonista foi a minha tia que dirigia-se à minha mãe se referindo à minha prima de 21 anos, que como ela fez questão de enfatizar, iria arrasar em uma festa de casamento para a qual a família foi convidada.

O mais estranho de tudo isso é que a minha prima não fala nada. Ela apenas ri e parece existir para satisfazer os desejos da mãe, que nela se vê realizada. Eu confesso que cada vez que eu as reencontro eu me surpreendo. São pensamentos, opiniões, atitudes e diálogos inacreditáveis. Algumas vezes me questiono se eles realmente são reais, mas aí eu vejo que eles são pessoas ótimas, muito engraçadas e legais. As pessoas são diferentes e eu prefiro acreditar que, apesar de não parecer, eles são reais, sangue do meu sangue. Pelo menos eu me divirto com o absurdo dos valores que eles cultivam.

Eles acabaram de deixar a hospedaria, ou melhor, a minha casa para visitar outros parentes, e eu não resisti. Precisei sentar na frente do computador e escrever sobre essa família de 4 pessoas. A essa altura, as minha primas estão dirigindo-se ao salão de cabeleleiro, onde irão aproveitar o dia, submetendo seus fios capilares a um tratamento químico que irá lhes proporcionar, além de lisos e sedosos cabelos, 5 dias de cuidados extremos. Sem ir à praia, sem dobrar o cabelo e sem pensar em chegar perto de água, elas irão aproveitar essa quase uma semana. Mas tudo vale a pena, afinal como diria minha tia, elas vão arrasar.
Vou encerrando por aqui sem poder entrar em detalhes e esperando que eles não tenham acesso ao meu blog. Para todos os efeitos, foi o pipoqueiro que escreveu esse post.