Sobre três cegas
Um filme brasileiro sobre a vida de três irmãs cegas. Para muitos, um tema desprezível, sendo superado por pancadaria estrelada por Vin Diesel. Não para mim.
O documentário fala sobre a vida de três irmãs que nasceram cegas e que desde criança acostumaram-se a cantar nas ruas de Campina Grande em troca de esmolas. Dois pontos me chamaram a atenção. Em primeiro lugar, a própria forma com que a vida delas é apresentada. Em uma época em que uma novela das oito coloca dois cegos como atores, com o claro e forçado objetivo de superar preconceitos e mostrar que cegos podem fazer todas as coisas, o filme apresenta um ponto de vista diferente.
O documentário fala sobre a vida de três irmãs que nasceram cegas e que desde criança acostumaram-se a cantar nas ruas de Campina Grande em troca de esmolas. Dois pontos me chamaram a atenção. Em primeiro lugar, a própria forma com que a vida delas é apresentada. Em uma época em que uma novela das oito coloca dois cegos como atores, com o claro e forçado objetivo de superar preconceitos e mostrar que cegos podem fazer todas as coisas, o filme apresenta um ponto de vista diferente.
Na novela, os cegos não existem como personagens, mas sim como cegos descobrindo o mundo. Todas as cenas trazem questionamentos acerca dos limites de uma pessoa cega e a novela parece quere provar que eles não existem. Eu acredito que os preconceitos devam ser vencidos de forma natural. Acredito portanto que seria muito mais enriquecedor colocar na novela personagens cegos que verdadeiramente tivessem uma vida normal e que possuíssem um papel dentro da trama, e não apenas aparecessem como atores protagonistas de propagandas da associação de cegos.
“A pessoa é para o que nasce” não limita-se a tratar dos desafios e preconceitos presentes na vida de um cego. O filme, aliás passa distante desse tema. Ele mostra a vida das três irmãs como a vida de três pessoas, e não como a vida de três cegas apenas. Elas são as estrelas do filme e estão presentes ali temas dignos das mais arrojadas tramas hollywoodyanas. O amor, as mágoas, os sofrimentos, as alegrias, os desafios; tudo isso faz parte da vida das chamadas “ceguinhas de Campina Grande”, e o documentário passa justamente por essas questões. Além disso, as imagens gravadas entre 1998 e 2003 resultam em uma espécie de filme sobre o documentário, onde é acompanhado o caminho em direção à fama trilhado pelas três irmãs.
O segundo ponto que me chamou a atenção tem a ver com o próprio título. As protagonistas colocam o destino como central na vida de todos. Uns nascem para estudar, uns para trabalhar e outros, como elas, nascem para cantar e pedir esmolas. Mas o destino que elas citam não é um simples destino, mas um destino que tem um propósito, tanto que elas afirmam que foram criadas para isso e que nada podem fazer contra, já que foi uma decisão divina. A própria cegueira, vinda de nascença é vista como uma vontade divina que teria algum propósito.
Impressionou-me a aceitação da situação. Eu tenho tudo o que preciso para viver de uma forma saudável e muitas vezes questiono-me sobre a validade ou o propósito da minha vida. Aprecem então, três irmãs cegas e a convicção com que elas falam sobre o que crêem cai como um balde de água fria sobre mim.
O ser humano não me surpreende apenas pelas crueldades capaz de cometer. Felizmente ele também choca pela sabedoria que pode advir das mais inesperadas pessoas. É por isso que precisamos nos redescobrir como povo e como país, detentores de uma cultura que não pode ser aprendida nos grandes centros de saber. Precisamos redescobrir o sentido da vida e o nosso propósito nesse mundo, que muito tem a ver com o propósito de Deus para nós. Nesse sentido, a pessoa é para o que nasce.