Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

segunda-feira, maio 16, 2005

Novo colunista do incomensurável: Heráclito, o pipoqueiro

Resposta do desafio do cobrador mestre Ioda:
O que é o que é que quando colocado na panela torna-se branco?
O milho, e não a pipoca, sacou?

A partir de hoje, o incomensurável terá um novo colunista. Após um concorrido processo de seleção para o qual inscreveram-se nomes como José Murilo de Carvalho, Paulo Coelho, Fernando Henrique Cardoso, Arnaldo Jabour, Nelson Rubens e o ex big brother Jean chegamos a um veredicto e escolhemos alguém que sabe manejar as palavras tão bem quanto as pipocas; trata-se de Heráclito, o pipoqueiro. Tendo como ponto fixo o largo da carioca no centro do Rio de Janeiro, os 26 anos, 2 meses e 6 dias dedicados ao ofício de estourar pipocas, renderam-lhe uma diversificada e ampla clientela. Mas deixemos que ele próprio encarregue-se da sua apresentação e nos faça saborear suas palavras:

Meu pai sempre me disse que vida é como uma panela de pipocas. Alguns ouvem apenas o seu barulho e morrem sem entender a sua essência. Outros, na ânsia de aproveitá-la queimam-se, e feridos, incorporam o medo de viver à sua personalidade. Mas alguns, realmente vivem com destreza, e com cautela sabem esperar a hora certa de saborear a sua essência. Desde criança as lições que me foram passadas, enquanto meu pai me passava os segredos de uma saborosa pipoca, foram e ainda são úteis todos os dias da minha vida. Trabalhar lidando com pessoas dos mais diversos contextos sociais foi o que acostumei-me a fazer. Aprendi que lidar com pessoas não é fácil e a cada dia que passo concordo com Hobbes; o homem é realmente lobo do próprio homem.

Pessoas virtuosas que tiveram suas vidas destruídas passam por aqui todos os dias. Algumas persistem, outras deixaram-se perder as esperanças. Muitas vezes sou obrigado a ignorá-las, pois a cada dia que passa elas crescem em número e tudo tem um limite, até mesmo o auxílio aos miseráveis.

Pessoas que realmente não possuem algo conhecido como coração, mas que prosperam e sempre buscam meios de passar por cima de alguém também passam por aqui diariamente. São homens poderosos que tem muitos aos seus pés, seja quando pisam neles, seja quando são adorados. Por fora, uma aparência impecável que desperta o interesse das mais belas mulheres. Por dentro, algo tão vazio que a ausência das minhas palavras seria melhor para descrevê-los.

Esse é um cotidiano duro, uma desigualdade social que me massacra todos os dias. Uma realidade cruel que me leva a questionar a existência de uma justiça divina. Mas tudo isso não me impede de saborear a essência da vida. Que culpa tenho nisso tudo é uma pergunta que eu me faço todas as noites. As possíveis soluções passam pela minha cabeça a todo o momento. Passam como as pessoas que por aqui passam. São aliás essas pessoas que me distraem e me levam a ver o outro lado do ser humano, o lado que alimenta a minha utópica visão de que todos os problemas do mundo terão uma solução. O lado que confirma que Deus fez realmente uma obra inigualável ao nos criar. Um lado humano que me leva a rir sozinho todos os dias e me faz ver que fazer vender pipocas ainda vale a pena.

Encerro por aqui a minha estréia, posto que preciso dormir já que amanhã um longo dia de trabalho e diversão me espera. E será justamente a diversão do meu trabalho que irá ser o tema principal desta minha coluna. As minhas impressões acerca de impagáveis cidadãos que comem a minha pipoca e diálogos que parecem terem sido tirados de livros de ficção. Por último, mas não menos importante gostaria de agradecer a oportunidade que o incomensurável está me dando de escrever neste renomado periódico, já que são grandes os preconceitos que um pipoqueiro cronista enfrenta. Muito Obrigado.