Três Viagens, três estressados
As minhas diárias viagens, utilizando o incrível sistema de transporte público de César Maluquinho, tem me ensinado muitas coisas. Essa semana eu pude diferenciar alguns tipos com os quais você já deve ter esbarrado. São os estressados viajantes.
O primeiro tipo é o estressado boca suja, com o qual eu me deparei na última quarta-feira. Confesso que eu estava um tanto quanto revoltado por ter esperado mais de 30 minutos por um ônibus incomensuravelmente lotado. O motorista encarnava o lema da empresa: “nossos ônibus são como coração de mãe: sempre cabe mais um”. Assim, não importava para ele se todos estavam sendo amassados, o que valia mesmo era o lema da empresa. A viagem transcorria em um ritmo de para sobe, espreme, amassa e sobe mais gente, até que em um determinado ponto, ele resolveu abrir a porta de trás para que mais pessoas pudessem entrar, já que na frente isso era impossível. Foi aí, que o cidadão do meu lado resolveu puxar freneticamente a cordinha que aciona a cigarra enquanto gritava: - vambora piloto!
Nisso, o “piloto” levantou-se, olhou para o sujeito e disse:
-Você ainda não aprendeu a ser homem não, o rapa?
Ele havia violado a regra número um ao lidar com o estressado boca suja: Nunca duvide da sua masculinidade. Como resposta o boca suja disparou todo o seu arsenal de palavras de baixo escalão. Só de “vai tomate azul” foram mais de vinte. Além disso, ele ainda desafiou o “piloto” para um duelo, dizendo: -vamos resolver isso lá em baixo, quero ver se tu é homem seu filho da...
-É isso aí, desce que o ônibus vai ficar mais vazio, gritou um membro da turma do fundão do coletivo, que só esqueceu que se o motorista descesse todos iríamos ficar parados assistindo a briga. Talvez fosse esse o objetivo dele, assistir uma briga. Mas o motorista prosseguiu a viagem e o boca suja ainda foi mostrando que havia lido o manual prático de como ofender um “piloto” por alguns quilômetros. E eu do seu lado me segurava pra não rir daquela situação.
No mesmo dia, em outra linha que ía em direção à zona sul, encontrei o segundo tipo de estressado, agora na sua versão feminina; era a Maria revoltada. O veículo encontrava-se nas mesmas condições do primeiro: todos viajando no coração de mãe. Parado em um determinado ponto, todos eram amassados enquanto esperavam o motorista seguir viagem, até que a Maria revoltada gritou: -poxa motorista, anda logo com essa merda que eu to atrasada.
Ela continuou resmungando, mas por ser mulher utilizou mini-palavões trocando o p... pelo poxa e acrescentando alguns merdas na sua fala. O motorista e não o “piloto” seguiu viagem e fingiu não ter ouvido, sendo defendido pela cobradora.
Na quinta-feira à noite, estou eu retornando para a minha residência após um longo dia de estudos, novamente dentro de um ônibus lotado. Parece até que eu gosto de andar amassado, só parece. O fato é que o terceiro tipo de estressado apareceu, era o estressado valentão. Ficou revoltado porque o motorista não o deixou passar o cartão do rio enganacard e descer pela frente, e enquanto passava pela roleta disparou: -eu to pagando essa M..., seu filho da..., sorte sua que eu não vou aí te dar umas porradas, eu to tão bonzinho hoje, disparou ele em tom ameaçador tentando ao menos mostrar para todos os presentes que ele era um autêntico Machu...cado.
O cobrador dessa linha era uma mistura de mestre Yoda com o personagem do Roberto Benini do filme “a vida é bela”. Mestre Yoda porque ele respondeu o estressado valentão com um inspirado pensamento: - Provocações fingimos nós que não ouvimos, porque levar para casa muitas pessoas temos. E dando uma de “a vida é bela” gostava de adivinhações do tipo o que é o que é.
Três viagens, três estressados. Viajar como uma sardinha em lata não é fácil, mas pelo menos eu me divirto.
Desafio do cobrador:
O que é o que é que após ser colocado na panela torna-se branco?
Resposta no próximo post.