Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

quinta-feira, abril 21, 2005

Reflexões sobre o quase

Eu quase consegui. Quem nunca quase atingiu um objetivo? Eu quase consegui revelar os meus sentimentos para ela, quase consegui aquela vaga, quase venci, quase cheguei lá, quase disse a verdade. Os “quases” da nossa vida são realmente infindáveis e as vezes é um simples detalhe que impede que o quase concretize-se. Como diria o mundo livre s.a estamos quase sempre otimistas, tudo vai dar quase certo.Mas o quase não basta e ele é uma barreira quase intransponível. Eu estava a pensar sobre isso após assistir ao filme “Quase dois irmãos”, indicação do meu amigo falcão.
Se você já viu o filme, então pule esse parágrafo, pois ele é um simples resumo. O filme fala sobre dois amigos de infância que vêm de mundos totalmente diferentes. Nos anos 50, eles se conhecem na infância em um roda de samba: Miguel, um garoto branco de classe média, filho de um jornalista apaixonado por samba e Jorginho, um menino negro morador de uma favela, filho de um grande compositor popular. Anos depois, na década de 70, eles se reencontram no presídio de Ilha Grande onde Miguel, um preso político e Jorge, um assaltante de bancos são encarcerados juntos de acordo com a recém-implementada Lei de Segurança Nacional que esvaziava o caráter político da ação de militantes de esquerda. O filme Mescla cenas dessas duas épocas com cenas atuais em que o Deputado Miguel conversa com Jorge, que comanda o tráfico de dentro da cadeia. Para completar a mistura de mundos diferentes, a filha de Miguel envolve-se com um traficante e passa a subir o morro constantemente.
O mais interessante do filme é que ele mostra que o quase está muito distante do certo. A convivência e até mesmo a amizade não são capazes de romper com as barreiras sociais. Realidades diferentes podem se cruzar, mas não se misturar. E aí fica a questão: Como podemos resolver todos os problemas sociais que temos, sabendo que os mesmos envolvem pessoas diversas advindas de contextos diversos e que muitas vezes as regras coletivas não fazem sentido para todos da mesma forma? Como estabelecer a igualdade na lei, se ela nunca foi vista na realidade? São mais questões que juntam-se ao hall de questões sobre o Brasil que quase conseguimos encontrar uma solução. Mas infelizmente o quase não basta...