Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

sexta-feira, abril 01, 2005

Eu? Tanásia? Nem Morto.

Todos já devem saber, mas eu vou comentar. Eu nem ia falar nada, mas eu me recuso a assistir a propaganda eleitoral em que César Maia tenta nos convencer de que a crise na saúde do Rio é culpa do governo federal. Além é claro de propagar a sua imagem de bom administrador de uma cidade que não tem problemas; tudo isso visando obviamente a sua candidatura a presidência da república.
Mas voltando ao assunto que me trouxe a frente do computador, hoje a Americana Terry morreu depois de 13 dias sem receber qualquer alimentação. A atitude do seu marido foi um tanto quanto estranha. Retirou a única fonte de alimentação de sua mulher e portanto a levou à morte, caracterizando um assassinato. Mais estranha que a atitude dele, foi a decisão da justiça da Flórida que permitiu que o marido tomasse exercesse tal ação. Se o objetivo da decisão era reduzir o sofrimento de Terry que não mais vivia, apenas vegetava, por que deixá-la sem alimentação sofrendo por mais 13 dias? Por que não aplicar logo de uma vez uma injeção letal ou algo assim posto que isso causaria um morte instantânea sem maior sofrimento?
Eu sou a favor da eutanásia de acordo com os quatro pontos expressos pela ong ADMD ( Associação Direito a Morrer Dignamente): O primeiro é que o doente tenha manifestado reiteradamente o desejo de interromper a vida, o que no caso de Terry fica difícil de precisar já que cada parte da família afirmava uma coisa. O segundo é que a doença seja crônica ou grave, afinal a decisão do doente tem que ser fundamentada. O terceiro, que a eutanásia seja feita por um médico, o que de certa forma poderia regularizar a prática. E o quarto, que a doença provoque sofrimento físico ou psíquico.
Apesar de ser a favor, eu certamente não teria coragem de autorizar a eutanásia de um parente próximo a mim, mas no entanto se fosse eu o doente não hesitaria em me submeter a prática.
A questão central da eutanásia está no direito individual. Acredito que todos devemos e podemos decidir se queremos interromper nossas vidas ou não e estando incapazes de fazer isso, só nos resta pedir a ajuda de alguém.
No filme “Os Incríveis” o sr. Incrível é processado por um homem pelo simples fato de ter impedido o seu suicídio. O homem argumenta no filme que o super-herói intrometeu-se na sua decisão e ainda o feriu no pescoço, no momento em que se atirou do prédio para o salvar. O trecho do filme levanta justamente a questão acerca do direito que temos sobre a nossa vida ser questionado em relação à morte. Podemos fazer tudo já que a vida é nossa, mas se decidimos acabar com essa vida somos questionados. Até onde vai a nossa liberdade?
A morte é um tabu cercado de amarras religiosas, morais e jurídicas –todas muito fortes. Para nossa sociedade judaico-cristã, impera a visão de que foi Deus que nos deu a vida e que, portanto, só ele pode tirá-la. Eu acredito que Deus não gostaria de nos ver submetidos a sofrimentos, tal qual ocorre em um estado vegetativo. Além do mais viver não se resume à respiração.

Obs1: Esse texto foi escrito durante a propaganda eleitoral de ontem protagonizada por ninguém menos que César Maluquinho. Eu tentei publicar isso ontem, mas o bolg estava de mau humor.

Obs2: quem quiser saber mais sobre o assunto, assista ao filme “Mar adentro” e leia a entrevista da super-interessante do mês de maio com Aurora Baú, uma das dirigentes da ADMD. E sem ligação direta com o assunto, assista também “Os Incríveis” que você não vai se arrepender.

Obs3: Falando em filme, alguém viu o final do filme “A isca perfeita”? É que eu não vi o filme todo.