A segunda notícia
- Deixa a mamãe ouvir o jornal, deixa minha filha. A pequena Renata acata o pedido de Elizabeth, que tendo sua curiosidade atiçada pela chamada do telejornal quer saber mais notícias sobre o estado de saúde do papa. Os rumores que chegaram aos ouvidos de Beth, afirmavam que a autoridade máxima da Igreja Católica estava em um estado de saúde cada vez mais precário. O próprio Willian Bonner fez questão de chamar a atenção dos telespectadores para o estado de saúde do Papa, logo no início do telejornal líder de audiência desta subdesenvolvida nação.
Mas naquela sexta-feira onde muitos comemoravam a tão esperada chegada do fim de semana, não era só no vaticano que algo havia ocorrido e apesar de Beth ter percebido isso, foi a pequena Renata que mostrou maior curiosidade pela “segunda notícia” do dia. – Foram quantos mamãe? Questionava a menina de apenas cinco anos.
-Não sei filha, acho que foram uns trinta. Respondeu Beth como se estivesse ditando a receita de um bolo.
-trinta! Exclamou um tanto quanto espantada a menina. –Mas porque fizeram isso mamãe? –Essas pessoas eram más? A menina questionava cada vez mais, ávida por informações e por um mínimo de compreensão acerca do assunto. Talvez fosse demais para a cabeça de uma menina de cinco anos, mas o fato é que ela realmente não conseguia entender.
-Pera aí filha que agora ta falando do papa. Beth concentrava todos os seus sentidos na televisão e todo o esforço era válido afinal a longo reportagem era dedicada ao papa que infelizmente estava correndo risco de morte.
- coitado dele, amanha vou lá na sé fazer uma prece para salvar a vida dele. Pensou em voz alta Beth.
-ein Mamãe, porque fizeram isso? Ainda questionava a pequena Renata.
-Não fizeram Renata, é que ele já está bastante velho e doente, e papai do céu deve estar precisando dele lá em cima, por isso que ele está morrendo. Mas se Deus quiser ele ainda vai viver muito. As palavras foram apenas jogadas ao ar por Beth que ainda não havia desviado o olhar da televisão.
-Não mamãe. Eu to falando daquelas pessoas que morreram. A senhora não ouviu o moço falando aí na televisão? Papai do céu estava precisando delas também mamãe?
-Foi aí que as palavras de Renata verdadeiramente chegaram aos ouvido de sua mãe. Beth lentamente desviou o olhar da televisão e quando encontrou as ditas janelas da alma de sua filha viu neles uma incompreensão tão inocente, tomou consciência da “segunda notícia”, abraçou a filha e disse a primeira coisa que lhe veio a mente, na tentativa de reconfortar não só a filha, mas a ela mesma: - é filhinha, elas eram pessoas muito boas e certamente estão lá com o papai do céu agora.
A “segunda notícia” dizia respeito aos acontecimentos da última madrugada numa cidade que, apesar de ser tão próxima da residência de Beth, não chegou a ser a primeira notícia do dia, sendo preterida em favor da situação da saúde do Papa. Trinta pessoas, entre elas crianças e mulheres, que cometeram o erro de estar na rua na hora e no lugar errado foram mortas, ou se preferir chacinadas, um verbo que a crueldade humana fez questão de criar e que de tempos em tempos voltamos a ouvir sendo conjugado.
A pequena Renata, na inocência dos seus cinco anos ainda não havia se acostumado com o fato da morte de trinta pessoas ser apenas mais uma notícia no telejornal. Ela estranhava que o estado de saúde de um velho homem merecesse mais atenção que a morte de 30 pessoas. Estranhava, mas certamente com o tempo ela irá se acostumar com as crueldades que o ser humano é capaz de cometer. Um dia achará normal que 10, 20 ou 30 pessoas tenham morrido, afinal são apenas números. Com o passar do tempo ela irá receber a anestesia e nada mais irá lhe chocar.
Mas naquela sexta-feira onde muitos comemoravam a tão esperada chegada do fim de semana, não era só no vaticano que algo havia ocorrido e apesar de Beth ter percebido isso, foi a pequena Renata que mostrou maior curiosidade pela “segunda notícia” do dia. – Foram quantos mamãe? Questionava a menina de apenas cinco anos.
-Não sei filha, acho que foram uns trinta. Respondeu Beth como se estivesse ditando a receita de um bolo.
-trinta! Exclamou um tanto quanto espantada a menina. –Mas porque fizeram isso mamãe? –Essas pessoas eram más? A menina questionava cada vez mais, ávida por informações e por um mínimo de compreensão acerca do assunto. Talvez fosse demais para a cabeça de uma menina de cinco anos, mas o fato é que ela realmente não conseguia entender.
-Pera aí filha que agora ta falando do papa. Beth concentrava todos os seus sentidos na televisão e todo o esforço era válido afinal a longo reportagem era dedicada ao papa que infelizmente estava correndo risco de morte.
- coitado dele, amanha vou lá na sé fazer uma prece para salvar a vida dele. Pensou em voz alta Beth.
-ein Mamãe, porque fizeram isso? Ainda questionava a pequena Renata.
-Não fizeram Renata, é que ele já está bastante velho e doente, e papai do céu deve estar precisando dele lá em cima, por isso que ele está morrendo. Mas se Deus quiser ele ainda vai viver muito. As palavras foram apenas jogadas ao ar por Beth que ainda não havia desviado o olhar da televisão.
-Não mamãe. Eu to falando daquelas pessoas que morreram. A senhora não ouviu o moço falando aí na televisão? Papai do céu estava precisando delas também mamãe?
-Foi aí que as palavras de Renata verdadeiramente chegaram aos ouvido de sua mãe. Beth lentamente desviou o olhar da televisão e quando encontrou as ditas janelas da alma de sua filha viu neles uma incompreensão tão inocente, tomou consciência da “segunda notícia”, abraçou a filha e disse a primeira coisa que lhe veio a mente, na tentativa de reconfortar não só a filha, mas a ela mesma: - é filhinha, elas eram pessoas muito boas e certamente estão lá com o papai do céu agora.
A “segunda notícia” dizia respeito aos acontecimentos da última madrugada numa cidade que, apesar de ser tão próxima da residência de Beth, não chegou a ser a primeira notícia do dia, sendo preterida em favor da situação da saúde do Papa. Trinta pessoas, entre elas crianças e mulheres, que cometeram o erro de estar na rua na hora e no lugar errado foram mortas, ou se preferir chacinadas, um verbo que a crueldade humana fez questão de criar e que de tempos em tempos voltamos a ouvir sendo conjugado.
A pequena Renata, na inocência dos seus cinco anos ainda não havia se acostumado com o fato da morte de trinta pessoas ser apenas mais uma notícia no telejornal. Ela estranhava que o estado de saúde de um velho homem merecesse mais atenção que a morte de 30 pessoas. Estranhava, mas certamente com o tempo ela irá se acostumar com as crueldades que o ser humano é capaz de cometer. Um dia achará normal que 10, 20 ou 30 pessoas tenham morrido, afinal são apenas números. Com o passar do tempo ela irá receber a anestesia e nada mais irá lhe chocar.