Estava tudo perfeito
Estava tudo perfeito. Ele tinha a chance de ao menos ter a atenção daquela que não havia deixado nenhuma possibilidade de ele pensar em algo que não remetesse a ela. Desde que ele contemplou aquele par de olhos castanhos pela primeira vez, o mundo não era mais o mesmo. Tudo havia mudado em função daquele olhar. Para todos os lados que ele olhasse, em tudo que ele fizesse ou pensasse, sempre haveriam de estar aqueles olhos castanhos. Não eram simples olhos castanhos. Eram mais do que olhos, muito mais. Eram talvez mais até do que janelas da alma. Era um par de olhos de um castanho inebriante, estarrecedor e mágico. Era um quadro da perfeição.
Estava tudo perfeito. Ela olhou para ele e lentamente caminhava na mesma direção. Ele não olhava, mas apreciava-a. Toda vez que ele a via, era como se estivesse descobrindo o pôr de sol. Algo inalcançável, mas de uma sublimidade sobrenatural. Algo que não se pode entender, não se pode explicar, e que só pode ser sentido. E assim era toda vez que ele a via.
Estava tudo perfeito. Dessa vez ele teria a chance. Mas o que fazer? O que falar? Ela era tão completa, que ele não havia pensado na possibilidade de uma chance. Ele não havia planejado nada. Ele não sabia nada sobre ela e quando a via nem sobre ele mesmo sabia algo. Como agir? A sua identidade era anulada perto dela. Ele não conseguia executar as mais simples ações. Ele não sabia o que fazer.
Estava tudo perfeito. Ela passava por ele e sorria. Ele passou por ela e a ausência de ações marcou sua atitude. As palavras não vieram, o cérebro falhou, ele falhou. Dez segundos depois, tudo estava claro. O que dizer chegou a sua boca. Como agir surgiu como um estalo em sua mente. O que fazer parecia tão natural. Mas ela já estava longe. Ela já havia partido e o deixado ali, sozinho com a sua incompreensão. E ele ficou ali ainda por algum tempo, tentando entender o que não havia acontecido e repetindo para si mesmo: Porque? Estava tudo perfeito.