Elogio ao mensalão
A nossa indignação é uma mosca sem asas que não ultrapassa a janela de nossas casas, já dizia Samuel Rosa, em uma época que o skank ainda possuía algum sentido além de emplacar hits nas rádios “jovens”. Convenhamos que se todo brasileiro deixasse sua indignação alçar vôos maiores, essa seria a nossa única ocupação. No Brasil, os escândalos protagonizados pela nossa classe política são tão constantes que se deixarmos de ler o jornal por dois dias, perdemos a denuncia da vez. Propinoduto, Carlos cachoeira, Romero jucá e o escândalo dos correios são apenas alguns dos últimos assuntos dignos de serem abordados pelas páginas policiais.
Parece-me que há um acordo entre esses engravatados salteadores. Uma espécie de rodízio de escândalos, que consiste na lógica de que uma denúncia pode ser esquecida e arquivada se for superada por outra. Dessa forma, os nossos ilustres deputados revezam-se nas manchetes dos jornais, de modo que no decorrer no processo todos acabem sendo inocentados. As denúncias contra Romero Jucá, o queridinho do Lula, por exemplo, nem merecem mais a citação dos telejornais. A onda agora é falar do mensalão. Um escândalo sobrepõe-se ao outro e todos vão vivendo felizes com suas liminares judiciais. É claro que o esquema não é perfeito e eventualmente um André Luiz da vida perde o mandato. Existem ainda aqueles que não se encaixam no acordo e preferem usar a tática do contra ataque fulminante, como o nosso ilustre Roberto Jéferson, que acuado diante das denúncias envolvendo o seu nome, bombardeou o governo.
A maioria dos brasileiros indignou-se diante das denúncias do deputado Roberto Jéferson. Todos passaram a semana revoltados, surpresos e abismados diante do novo escândalo da vez. Eu não. Achei inclusive muito boa a idéia do mensalão. Antes que você, caro leitor, revolte-se contra a minha pessoa, permita-me explicar a minha posição, já que nossas desenvolvidas instituições democráticas nos deram a liberdade de expressão.
Em outubro de 2002, a grande maioria dos brasileiros depositou em Lula todas as esperanças de renovação e superação dos escândalos políticos. Lula personificava a esperança de um novo Brasil. Desde o primeiro dia de janeiro de 2003, quando o ex-metalúrgico, finalmente recebeu a faixa de presidente, ao nos olharmos no espelho, percebemos que a nossa imagem foi aos poucos mudando. Temos agora algo a mais. Além da fatigada aparência de brasileiro, temos agora peruca, maquiagem, e uma grande e vermelha bola em nossos narizes. Não há mais espaço para a ilusão de que estamos no caminho certo e que as coisas irão melhorar. Reelegemos o mesmo presidente sem saber.
Os escândalos políticos e o grandioso esforço em prol da nação para impedir as cpi´s continuam. Ao menos, o último escândalo pode melhorar a nossa imagem, no mais puro sentido da palavra. Vamos então apoiar o mensalão. O nosso querido presidente ludibriou uma nação que em sua maioria sobrevive com R$280,00 por mês. Imaginem, portanto, se estendêssemos um mensalão de R$30, 000,00 para todo brasileiro que votou em Lula. Já posso até imaginar as denúncias nos telejornais: “presidente é flagrado negociando com seus eleitores a instituição de um mensalão em prol do apoio ao seu governo e à sua reeleição”. Os mais honestos poderiam questionar-se acerca da integridade pessoal, mas convenhamos que trinta mil reais por mês podem comprar qualquer integridade. O mensalão é, portanto um direito de todos os brasileiros que elegeram o nosso atual presidente. Devemos agradecer ao deputado Roberto Jéferson pelas denuncias, abraçar a idéia e instituir a campanha: “Eu sou brasileiro, quero o meu mensalão e não desisto nunca”.