Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, maio 29, 2005

Sobre a parada gay

Não, eu não sou gay. Isso deve ficar bem claro, já que nossa sociedade exige que nós homens, estejamos constantemente reafirmando a nossa masculinidade. Homem não chora e nem dá o braço a torcer. Máximas como essa nos são passados desde a nossa mais tenra idade. Desde criança, nós os homens, somos educados a agir como homens. Brinquedos de homens, palavras de homens, atitudes de homens, enfim coisas de homens. Da adolescência em diante, a coisa não muda. Você é homem e se você não pegar uma menina que esteja te dando mole, você é boiola. A menos que ela seja tão escabrosa quanto uma batida de trem à meia noite no vale das sombras, você precisa mostrar que é homem. E quanto à mulher? Se uma mulher deixa de ficar com um cara, ela é considerada homossexual? Eu nunca vi ou ouvi isso acontecer. Uma mulher pode chorar, pode expressar os seus estimentos sem ter a sua sexualidade questionada.
Lembro de um professor da faculdade ter falado um vez que ser homem é muito mais difícil do que ser mulher. E ele tem razão, porque o homem tem que estar a todo momento provando que é homem, enquanto que a mulher não chega a ser questionada se realmente é mulher.
E quanto aos homossexuais? Será que é fácil ser homossexual? Os preconceitos ainda são grandes e talvez por isso, não seja tão fácil assim. Os movimentos protestam e reivindicam os seus direitos lutando contra os preconceitos. Tente, no entanto, ligar a televisão. Nesta caixa preta você não verá o preconceito ou as possíveis dificuldades de ser gay. A televisão, como um meio de comunicação de massa que influencia diretamente a população, colocou ou tenta colocar o homossexualismo na moda. As novelas da rede globo tem sempre que ter homossexuais. E não são qualquer homossexuais. São gays ou lésbicas que são bem sucedidos, tem um caráter impecável, são esforçados e coerentes. Apresentadores "simpáticos" também tem espaço como gays. Todos os canais tem os seu gays principais. Eles estão tornando-se ícones televisivos que estão na moda. A televisão parece tentar provar que ser homossexual é bom. Eles afirmam estar acabando com os preconceitos, mas será que representar gays idealizados e que não se encontram nas ruas, ajuda a acabar com o preconceito?
Não, eu não assisto ao faustão, mas por um acaso de um destino que não existe, eu assisti a um trecho. Estava lá, segundo o fautão, o "jornalista", "escritor" e vencedor do Big Brother Jean. Em sua fala Jean disse que, apesar de as pesquisas apontarem que a maior parte das pessoas que participam da parada gay possuem renda acima de R$1,500 reais por mês, os governantes devem estar atentos para políticas públicas que beneficiem os gays pobres, que segundo ele são muitos. O que seriam políticas públicas para os gays pobres? Talvez um comício gay já seja um começo para a nossa classe política ansiosa por votos. Uma parada gay bancada pelos nossos impostos talvez seja a solução proposta por Jean. Um feriado para os gays também pode ser uma possibilidade.
Algumas vezes eu me surpreendo como certas pessoas pulam do nada para a mídia e começam a emitir opniões sobre as mais variadas coisas. Um cidadão que vence um ridículo reality show torna-se um ícone, quase um ídolo para alguns. Não importa a falta de conteúdo que ele possui. O que realmente vale é que ele é o Jean. Nada mais que um professor de um desses centros comerciais de educação superior. Sua titulação: vencedor do Big Brother Brasil e nada mais. No faustão ele é até chamado de "jornalista" e "escritor", uma forma de enriquecer informações dissimuladas passadas por esse apresentador global.
Não, eu não tenho preconceito contra os homossexuais. Isso deve ficar claro, já que a espécie humana em seu processo evolutivo tem conseguido cada vez aceitar menos aquilo que foge ao padrão. Mas eu sou contra o homossexualismo. Isso porque um livro que serve de base para a minha crença afirma que os homossexuais não herdarão o reino des céus. Isso não foi escrito essa semana por algum fundamentalista. Isso está na bíblia. Portanto, por mais conservador que isso possa parecer, eu realmente acredito que a natureza do homem o leva a conviver com uma mulher e não com outro homem. Nosso criador, que nos conhece melhor do que nos mesmo afirmou isso. Será que podemos discutir com nosso criador?
Nosso machismo, a mídia, a parada gay e as minhas crenças. Talvez eu tenha misturado coisas demais em um só post. Foi só uma enxurada de opniões acerca de coisas que nos são passadas de uma forma tão natural, que parecem ser verdades inquestionáveis. No próximo post eu melhoro.

sábado, maio 28, 2005

Estava tudo perfeito

Estava tudo perfeito. Ele tinha a chance de ao menos ter a atenção daquela que não havia deixado nenhuma possibilidade de ele pensar em algo que não remetesse a ela. Desde que ele contemplou aquele par de olhos castanhos pela primeira vez, o mundo não era mais o mesmo. Tudo havia mudado em função daquele olhar. Para todos os lados que ele olhasse, em tudo que ele fizesse ou pensasse, sempre haveriam de estar aqueles olhos castanhos. Não eram simples olhos castanhos. Eram mais do que olhos, muito mais. Eram talvez mais até do que janelas da alma. Era um par de olhos de um castanho inebriante, estarrecedor e mágico. Era um quadro da perfeição.

Estava tudo perfeito. Ela olhou para ele e lentamente caminhava na mesma direção. Ele não olhava, mas apreciava-a. Toda vez que ele a via, era como se estivesse descobrindo o pôr de sol. Algo inalcançável, mas de uma sublimidade sobrenatural. Algo que não se pode entender, não se pode explicar, e que só pode ser sentido. E assim era toda vez que ele a via.

Estava tudo perfeito. Dessa vez ele teria a chance. Mas o que fazer? O que falar? Ela era tão completa, que ele não havia pensado na possibilidade de uma chance. Ele não havia planejado nada. Ele não sabia nada sobre ela e quando a via nem sobre ele mesmo sabia algo. Como agir? A sua identidade era anulada perto dela. Ele não conseguia executar as mais simples ações. Ele não sabia o que fazer.

Estava tudo perfeito. Ela passava por ele e sorria. Ele passou por ela e a ausência de ações marcou sua atitude. As palavras não vieram, o cérebro falhou, ele falhou. Dez segundos depois, tudo estava claro. O que dizer chegou a sua boca. Como agir surgiu como um estalo em sua mente. O que fazer parecia tão natural. Mas ela já estava longe. Ela já havia partido e o deixado ali, sozinho com a sua incompreensão. E ele ficou ali ainda por algum tempo, tentando entender o que não havia acontecido e repetindo para si mesmo: Porque? Estava tudo perfeito.

quinta-feira, maio 26, 2005

Alguns clientes e muitas pipocas

Heráclito, o pipoqueiro cronista*


-Doce ou salgada?, emiti as palavras que indicam o questionamento mais recorrente no meu ofício, com a impressão de que aquele engravatado não me era estranho.
-Salgada, respondeu ele, e foi aí que eu disse pra mim mesmo: Eureka. Precisei confirmar e como quem nada quer, enquanto salgava a sua pipoca, ia sondá-lo quando ele mudou de idéia e disse:
-Salgada não, tire o meu nome desse lista e me dê a doce por favor.
Com a pipoca salgada pronta na minha mão, a chegada do carteiro Jairinho, um velho cliente meu, evitou o desperdício. Falastrão como sempre Jairinho, também chamado de Robinho por conta da sua semelhança física com o jogador santista, foi logo falando:
-Passa esse saquinho pra cá que eu vou mandar de sedez Express para o meu estômago. Quando ele viu o engravatado, não pensou duas vezes e quase que gritou:
-Caraca aí, Tu num é o Romero Jéferson, aquele maluco da previdência que deu uma fazenda fantasma como garantia para um empréstimo?
-Romero Jefferson?, eu sou o Roberto Jéferson. O ministro da previdência é o Romero Jucá e as denúncias contra ele são todas calúnias. Ele disse que ia me ajudar a tirar assinaturas para a CPI. E maluco é o tal do Elias que matou o Tim Lopes e foi condenado hoje a 28 anos de prisão.
-Desse Elias maluco eu posso falar, entrou na conversa Dona Maria, a vendedora de tapioca que estava passando na hora. O seu olhar encheu-se de revolta e ele disse: -a prima da filha da minha tia de terceiro grau por parte de pai teve o Marido e dois filhos mortos por esse assassino.
-Ué, mas eles não falaram disso aí na globo. Lá eles falaram que o cara matou o Tim Lopes e nada mais, exclamou assustado o carteiro.
- E falaram que tu pediu propina pra num sei quem também, acrescentou apontando para o Roberto Jéferson.
- Eu sou inocente, tire o meu nome dessa lista. Defendeu-se o deputado.
Nesse mesmo instante chegou um garotinho com uma flor na mão pedindo um pouco de pipoca. Garotinhos não combinam com flores, mas aquela flor que ele segurava não era qualquer flor. Era um pequena rosa que tinha um algo a mais. A rosinha que ele segurava chegava a combinar tanto com ele que os dois pareciam formar uma só pessoa. Coloquei em pouco de pipoca para ele enquanto o carteiro e o Roberto Jefferson discutiam amigavelmente. Quando o garotinho foi embora, os dois pareciam estar quase se entendendo quando eles notaram que suas carteiras haviam sumido.
-Garotinho ladrão, exclamaram os dois ao mesmo tempo. O carteiro, acostumado com o centro da cidade, correu até o chamado beco da desova e encontrou o garotinho negociando a compra de votos para a eleição de representante escolar com o dinheiro roubado. Quando viu Jairinho, tentou dribá-lo, mas para o seu azar o carteiro tinha a manha das ruas e em um só movimento pegou o Garotinho pela Orelha e tomou o dinheiro dele. Sem nunca se separar da Rosinha, o Garotinho foi pego em flagrante, mas mesmo assim negou veementemente. O carteiro, retornou à minha carrocinha e foi saudado por Roberto Jéferson que agradeceu veementemente:
-Muito obrigado, muito obrigado mesmo. escuta, eu não vou te oferecer nada aqui como recompensa porque nós podemos estar sendo gravados por uma câmera escondida. Pega aqui o meu cartão e passa lá no meu gabinete em Brasília que eu te arrumo um cargo lá pra você, disse o deputado enquanto apertava a mão do carteiro.
-Ih, chefe, pode deixar, ta tranqüilo, cola o selo e tá tudo certo, respondeu Jairinho.
Os dois puderam então saborear suas pipocas tranqüilamente e tudo não acabou em pizza, mas acabou em pipoca.



*Heráclito, o pipoqueiro cronista, escreve para o incomensurável com uma regularidade tão inconstante quanto o estourar de um milho de pipoca.

domingo, maio 22, 2005

Um ano

Ontem foi a festinha de aniversário de 1 ano do meu irmão. Festas de crianças são sempre iguais. A parte mais engraçada que eu acho é o ritual das fotos na mesa do bolo. Ontem foi muito engraçado pois o meu pai saiu apressando todos para tirarem foto com o Victor. E aí, foi um tal de vem cá tirar uma foto fulano, vem cá você, você ainda não tirou e etc. Coitado do garoto que ficava passando de colo em colo sem entender nada. Eu não me lembro do meu aniversário de 1 ano e ele provavelmente não irá lembrar, mas mesmo assim eu acho que ele se divertiu e essas boas lembraças de alguma forma irão influenciar positivamente na sua personalidade e mesmo que ele não lembre da festa em si, o seu subconsciente irá relacionar festas com bons momentos (acho que viagei legal). As lembranças que nós temos da nossa vida são realmente muito importantes. Quem assistiu o filme "brilho eterno de uma mente sem lembranças" deve saber do que eu estou falando. Quem não assistiu simplismente não pode perder esse filme pois ele é muito bom mesmo. Talvez eu tenha gostado porque eu me identifiquei um pouco com o personagem principal, não sei. Mas vale a pena assistir. É um filme que fala sobre a importancia das nossas lembraças. Espero que o Victor tenha boas lembranças de mim. É incrível como um ano passa rápido e mais incrivel ainda como uma pessoinha em um ano te conquista de tal forma que você para a realmente amá-la. Eu realmente amo meu irmão.


Eu e o Victor ontem no seu aniversário de 1 ano.
publicado por "o incomensuravel

sexta-feira, maio 20, 2005

As celebridades e os livros

A bienal não é um programa barato. Os livros, com raras exceções são caros, a comida é cara, o rio centro é distante e, convenhamos, que nem todos podem desfazer-se de dez reais para adentrarem à feira. Então, por que será que o público que comparece ao evento é cada vez maior? Por que tanta gente faz questão de marcar presença? A resposta é simples: para ver os famosos. Ali, eles se equiparam a nós, simples mortais. Somente na bienal é possível em um mesmo dia esbarrar com várias celebridades entre os livros. Tem famoso para todos os gostos. Desde aquele quase figurante daquele programa que você nunca ouviu falar, até o presidente da república. E por falar em presidente, a visita empreendida por Luiz Inácio Lula da Silva à Bienal causou um enorme rebuliço. Lula é realmente bem querido pelo povo brasileiro, pois grande foi o número de pessoas que fizeram questão de levantar os seus traseiros do sofá e correr atrás de um autógrafo do presidente. Poucos conseguiram, pois o nosso excelentíssimo mais excelentíssimo do Brasil estava empreendendo uma árdua busca ao “Manual de como evitar uma CPI”.
Anulada a possibilidade de um autógrafo presidencial, os caçadores de famosos que lotam a bienal tem que contentar-se em correr atrás das celebridades televisivas. Atrizes do momento como Débora Seco, a “solfredora”, ocupam as posições mais altas no ranking dos disputados na bienal. Na posição intermediária estão os cantores sertanejos, pagodeiros ou fabricadores de rits mais tocados dos último tempos na última semana. Ao lado deles e em crescente queda encontram-se os ex-big brothers, com a fama totalmente dependente das aparições na mídia. Por último, temos uma categoria heterogênea, que une celebridades instantâneas em geral, mães de filhos de pagodeiros, “modelos” que fazem ensaios “artísticos” para revistas masculinas, atores de novelas da band e do sbt e outros aventureiros que eventualmente aparecem na nossa caixa preta.
De um modos geral, os artistas que vão a bienal para fazer três coisas. O primeiro grupo comparece ao evento para realmente comprar livros e participar dos debates literários. Eles são realmente artistas no sentido original do termo e, apesar de eventualmente serem submetidos a cretinos textos das novelas globais, quando tem oportunidade de atuar no cinema ou no teatro mostram o seu verdadeiro talento. Vale salientar que esse grupo constitui uma minoria que não precisa correr atrás de aparições grátis na mídia.
O segundo grupo é o dos políticos em geral, que precisando estar em sintonia com seus eleitores, vêem na bienal uma ótima oportunidade de testar a popularidade, além é claro de comprar alguns livros com sugestivos títulos tais como “ludibriar é uma arte, aprenda a exercê-la.” Por último, mas não menos importante, temos o mais numeroso grupo de “famosos” que comparecem à bienal. É o clã do “queremos dar uma entrevista por favor”, que como o próprio nome já diz nem mesmo ligam para o fato de a bienal ser do livro. Se fosse bienal do cd, dos contos da carochinha ou das colheres de pau pouco importaria para eles, já que o que vale é a aparição e a manutenção na sua imagem entre o senso comum.
A bienal do livro é um evento muito interessante que daria um excelente estudo antropológico. A ocasião realmente cativa as pessoas. Eu mesmo ouvi uma dessas celebridades instantâneas afirmar ter adorado o evento reforçando que todo ano iria retornar para a bienal do livro no rio centro. Espero que ela se divirta.

quarta-feira, maio 18, 2005

O Sorriso

Manhã de terça-feira na antiga Universidade do Brasil. A aula intitulada História Moderna II desenrolava-se dentro de uma corriqueira normalidade. A excelentíssima professora da renomada instituição de ensino superior expunha para um grupo de simples alunos as idéias de um determinado autor por ela escolhido para uma discussão acerca da Revolução Americana. Questões acerca do texto surgiam, evidencias da ignorância da professora em relação à determinado assunto eram expostas, novas questões, novas evidências marcavam uma auto-exposição da falta de conhecimento.
A aula corria dentro de uma medíocre regularidade, até que surgiu um sorriso. Eu não vi aquele sorrido. Eu apenas ouvi aquela que auto-intitula-se como mestre declarar em um tom nada amistoso: -Por que você está sorrindo? Do que você está rindo? Por favor pare com isso que não é a primeira vez que eu noto isso, e isso me incomoda profundamente. E prosseguiu a aula. Mas eu não consegui mais assistir a aula como antes do sorriso. O que trazia aquele sorriso de tão provocante a ponto de conduzir uma respeitável senhora a uma quase estágio de insanidade tomada por uma ira momentânea? Essa questão invadiu minha mente e de lá não saiu até agora. Certo é que a menina do sorriso, sorriu novamente ao término da aula. Mas verdadeiramente não foi o mesmo sorriso, pois tal qual é impossível molhar os pés mais de uma vez nas mesmas águas posto que as águas sempre se renovam, também um sorriso nunca se repete. Sorrisos repetem-se, mas o sorriso nunca se repete.
Ao menos outros sorrisos eu vi, e posso garantir que a menina do sorriso realmente sabe elevar o ato de mostrar os dentes a uma categoria de sublimidade que chega a ultrapassar o enquadramento de seu ato na palavra sorriso. É muito mais do que isso. É O Sorriso. Por que impedir O Sorriso? Por que poupar-nos de, em meio a demonstrações de ignorância recorrentes na aula, sermos convidados a viajar sem sair do lugar naquele sorriso?
Eu apoio o sorriso. O mundo precisa sorrir e nunca duvide do efeito desse simples ato. Por isso, Sorria. Sorria porque você tem O Sorriso. Sorria porque o mundo fica menos triste com o seu sorriso. Sorria porque você é livre para sorrir. Sorria também simplesmente por sorrir, pois tal qual o coração não tem ou não precisa de razões, um sorriso também não necessita de um motivo para ocorrer. Apenas Sorria.

segunda-feira, maio 16, 2005

Novo colunista do incomensurável: Heráclito, o pipoqueiro

Resposta do desafio do cobrador mestre Ioda:
O que é o que é que quando colocado na panela torna-se branco?
O milho, e não a pipoca, sacou?

A partir de hoje, o incomensurável terá um novo colunista. Após um concorrido processo de seleção para o qual inscreveram-se nomes como José Murilo de Carvalho, Paulo Coelho, Fernando Henrique Cardoso, Arnaldo Jabour, Nelson Rubens e o ex big brother Jean chegamos a um veredicto e escolhemos alguém que sabe manejar as palavras tão bem quanto as pipocas; trata-se de Heráclito, o pipoqueiro. Tendo como ponto fixo o largo da carioca no centro do Rio de Janeiro, os 26 anos, 2 meses e 6 dias dedicados ao ofício de estourar pipocas, renderam-lhe uma diversificada e ampla clientela. Mas deixemos que ele próprio encarregue-se da sua apresentação e nos faça saborear suas palavras:

Meu pai sempre me disse que vida é como uma panela de pipocas. Alguns ouvem apenas o seu barulho e morrem sem entender a sua essência. Outros, na ânsia de aproveitá-la queimam-se, e feridos, incorporam o medo de viver à sua personalidade. Mas alguns, realmente vivem com destreza, e com cautela sabem esperar a hora certa de saborear a sua essência. Desde criança as lições que me foram passadas, enquanto meu pai me passava os segredos de uma saborosa pipoca, foram e ainda são úteis todos os dias da minha vida. Trabalhar lidando com pessoas dos mais diversos contextos sociais foi o que acostumei-me a fazer. Aprendi que lidar com pessoas não é fácil e a cada dia que passo concordo com Hobbes; o homem é realmente lobo do próprio homem.

Pessoas virtuosas que tiveram suas vidas destruídas passam por aqui todos os dias. Algumas persistem, outras deixaram-se perder as esperanças. Muitas vezes sou obrigado a ignorá-las, pois a cada dia que passa elas crescem em número e tudo tem um limite, até mesmo o auxílio aos miseráveis.

Pessoas que realmente não possuem algo conhecido como coração, mas que prosperam e sempre buscam meios de passar por cima de alguém também passam por aqui diariamente. São homens poderosos que tem muitos aos seus pés, seja quando pisam neles, seja quando são adorados. Por fora, uma aparência impecável que desperta o interesse das mais belas mulheres. Por dentro, algo tão vazio que a ausência das minhas palavras seria melhor para descrevê-los.

Esse é um cotidiano duro, uma desigualdade social que me massacra todos os dias. Uma realidade cruel que me leva a questionar a existência de uma justiça divina. Mas tudo isso não me impede de saborear a essência da vida. Que culpa tenho nisso tudo é uma pergunta que eu me faço todas as noites. As possíveis soluções passam pela minha cabeça a todo o momento. Passam como as pessoas que por aqui passam. São aliás essas pessoas que me distraem e me levam a ver o outro lado do ser humano, o lado que alimenta a minha utópica visão de que todos os problemas do mundo terão uma solução. O lado que confirma que Deus fez realmente uma obra inigualável ao nos criar. Um lado humano que me leva a rir sozinho todos os dias e me faz ver que fazer vender pipocas ainda vale a pena.

Encerro por aqui a minha estréia, posto que preciso dormir já que amanhã um longo dia de trabalho e diversão me espera. E será justamente a diversão do meu trabalho que irá ser o tema principal desta minha coluna. As minhas impressões acerca de impagáveis cidadãos que comem a minha pipoca e diálogos que parecem terem sido tirados de livros de ficção. Por último, mas não menos importante gostaria de agradecer a oportunidade que o incomensurável está me dando de escrever neste renomado periódico, já que são grandes os preconceitos que um pipoqueiro cronista enfrenta. Muito Obrigado.

domingo, maio 15, 2005


penhasco
publicado por Jun1or, o cara.

sexta-feira, maio 13, 2005

Três Viagens, três estressados

As minhas diárias viagens, utilizando o incrível sistema de transporte público de César Maluquinho, tem me ensinado muitas coisas. Essa semana eu pude diferenciar alguns tipos com os quais você já deve ter esbarrado. São os estressados viajantes.

O primeiro tipo é o estressado boca suja, com o qual eu me deparei na última quarta-feira. Confesso que eu estava um tanto quanto revoltado por ter esperado mais de 30 minutos por um ônibus incomensuravelmente lotado. O motorista encarnava o lema da empresa: “nossos ônibus são como coração de mãe: sempre cabe mais um”. Assim, não importava para ele se todos estavam sendo amassados, o que valia mesmo era o lema da empresa. A viagem transcorria em um ritmo de para sobe, espreme, amassa e sobe mais gente, até que em um determinado ponto, ele resolveu abrir a porta de trás para que mais pessoas pudessem entrar, já que na frente isso era impossível. Foi aí, que o cidadão do meu lado resolveu puxar freneticamente a cordinha que aciona a cigarra enquanto gritava: - vambora piloto!
Nisso, o “piloto” levantou-se, olhou para o sujeito e disse:
-Você ainda não aprendeu a ser homem não, o rapa?
Ele havia violado a regra número um ao lidar com o estressado boca suja: Nunca duvide da sua masculinidade. Como resposta o boca suja disparou todo o seu arsenal de palavras de baixo escalão. Só de “vai tomate azul” foram mais de vinte. Além disso, ele ainda desafiou o “piloto” para um duelo, dizendo: -vamos resolver isso lá em baixo, quero ver se tu é homem seu filho da...
-É isso aí, desce que o ônibus vai ficar mais vazio, gritou um membro da turma do fundão do coletivo, que só esqueceu que se o motorista descesse todos iríamos ficar parados assistindo a briga. Talvez fosse esse o objetivo dele, assistir uma briga. Mas o motorista prosseguiu a viagem e o boca suja ainda foi mostrando que havia lido o manual prático de como ofender um “piloto” por alguns quilômetros. E eu do seu lado me segurava pra não rir daquela situação.

No mesmo dia, em outra linha que ía em direção à zona sul, encontrei o segundo tipo de estressado, agora na sua versão feminina; era a Maria revoltada. O veículo encontrava-se nas mesmas condições do primeiro: todos viajando no coração de mãe. Parado em um determinado ponto, todos eram amassados enquanto esperavam o motorista seguir viagem, até que a Maria revoltada gritou: -poxa motorista, anda logo com essa merda que eu to atrasada.
Ela continuou resmungando, mas por ser mulher utilizou mini-palavões trocando o p... pelo poxa e acrescentando alguns merdas na sua fala. O motorista e não o “piloto” seguiu viagem e fingiu não ter ouvido, sendo defendido pela cobradora.

Na quinta-feira à noite, estou eu retornando para a minha residência após um longo dia de estudos, novamente dentro de um ônibus lotado. Parece até que eu gosto de andar amassado, só parece. O fato é que o terceiro tipo de estressado apareceu, era o estressado valentão. Ficou revoltado porque o motorista não o deixou passar o cartão do rio enganacard e descer pela frente, e enquanto passava pela roleta disparou: -eu to pagando essa M..., seu filho da..., sorte sua que eu não vou aí te dar umas porradas, eu to tão bonzinho hoje, disparou ele em tom ameaçador tentando ao menos mostrar para todos os presentes que ele era um autêntico Machu...cado.
O cobrador dessa linha era uma mistura de mestre Yoda com o personagem do Roberto Benini do filme “a vida é bela”. Mestre Yoda porque ele respondeu o estressado valentão com um inspirado pensamento: - Provocações fingimos nós que não ouvimos, porque levar para casa muitas pessoas temos. E dando uma de “a vida é bela” gostava de adivinhações do tipo o que é o que é.
Três viagens, três estressados. Viajar como uma sardinha em lata não é fácil, mas pelo menos eu me divirto.

Desafio do cobrador:
O que é o que é que após ser colocado na panela torna-se branco?
Resposta no próximo post.

domingo, maio 08, 2005

Dia das mães

Mãe, uma única palavra que representa tanto
Mãe, aquela que sempre lhe deu tudo
Lhe deu o seu primeiro lar
Lhe deu maor
Lhe deu carinho
Proteção
Abrigo
Mãe, mais que uma palavra
Uma heroína
Sempre disposta a lhe oferecer os mais sublimes sentimentos
Constatemente ao seu lado
Apoiando-o e lhe dando amor
...
E Já que ela sempre lhe deu tanta coisa
TOME VERGONHA NA SUA CARA
E PELO MENOS NO DIA DAS MÃES
DÊ ALGO PARA ELA ALÉM DE TRABALHO...
...
Mãe lembra filhos, filhos lembram irmãos e por falar em irmão:
O aniversário do meu irmão está se aproximando e a pedido dele eu elaborei uma importatíssima lista de presentes. Confiram os pedidos do Victor.

sexta-feira, maio 06, 2005

Irritabilidades

Hoje eu não vou me irritar, esse foi o primeiro pensamento que ocupou a mente de Cleosvaldo numa típica sexta-feira. A proximidade do tão esperado fim de semana era mais um indício de que aquele dia,cujos primeiros raios de sol fizeram questão de atingir a sua janela tal qual um dia cantou Renato Russo, seria no mínimo sereno e manteria qualquer irritação bem distante dele. Cleosvaldo era um sujeito tão incomum quanto o seu nome. Trabalhava em uma firma funerária canina, possuía não um carro, mas uma carroça, namorava uma mulher 20 anos mais velha e para completar criava um jacaré um sua banheira residencial. Mais singular ainda eram os motivos que despertavam a sua ira.
O que mais o enfurecia não eram as derrotas do seu time de coração pois ele nem mesmo gostava de ver 22 homens correndo atrás de uma bola para depois chutá-la. Os longos engarrafamentos dos quais diariamente era vítima também não eram capazes de despertar o seu furor. O que mais o encolerizava eram realmente os seus representantes políticos. Aqueles homens engravatados que eram pagos para cuidar dos seus direitos eram constantemente submetidos à avaliação de Valdo, como era conhecido entre os amigos. Quando questionado acerca do seu interesse por política ele apenas respondia: -Sou cidadão e sou eu quem paga os salários desses caras, afirmava em um sereno tom de voz, pois o seu gosto por política era inversamente proporcional ao interesse por discussões que tivessem Brasília como palco principal.
Descrito o personagem principal, como manda o manual dos contos contados, passemos à ação. Hoje eu não vou me irritar era o pensamento que ainda tomava conta de Valdo e ele fazia questão de mantê-lo recorrente enquanto saía de casa. Viu o lixo revirado pelos cachorros mas lembrou da máxima que iria guiar o seu dia: Hoje eu não vou me irritar. Foi parado por Dona Beatonilda que queria conversar sobre o relacionamento entre Brad Pitt e Anjelina Jolie e mais uma vez lembrou: Hoje eu não vou me irritar. Dirigiu-se para o ponto de ônibus, esperou quase uma hora por um coletivo, viajou mais amassado que camisa em boca de sapo, teve seu pé não pisado, mas esmagado, desceu no ponto errado; mas sempre pensando: Hoje eu não vou me irritar. Desceu do ônibus e enquanto recebia um fora da sua namorada pelo telefone pisou nos dejetos de algum poodle; desviou-se o quanto pode dos entregadores de papeizinhos de propaganda de agiota e de termas sempre tendo em mente: Hoje eu não vou me irritar. Foi quando ele avistou uma banca de jornais. Ah, uma banca de jornais era como um oásis para Valdo só comparável a uma livraria. O saber, ou pelo menos a tentativa de produzi-lo emanava daquela simples banca de jornais. A gigantesca caixa de informações atraiu Valdo como um imã. Ele parou então para ler as manchetes dos jornais e pela primeira vez no dia sorriu. Estava lá em letras garrafais: “Deputado André Luiz foi cassado” e “Parlamentares decidem reformar os seus apartamentos para reduzir os gastos com o auxílio moradia”.
-Ao menos duas notícias boas, pensou em voz alta Valdo. E esse foi o seu erro, pois ao seu lado havia em desses críticos populares que respondeu:
-Notícia boa?
-É ué, finalmente cassaram um deputado, engatou a conversa Valdo.
-E não fizeram mais que a obrigação deles. O tal do Pedro Corrêa, que por um acaso é líder do partido daquele idiota do Severino, já teve o seu processo de cassação arquivado ontem. Tinham que pelo menos cassar esse quatro-olhos da zona oeste aí do André Luiz.
Valdo começava a sentir o sangue esquentar em suas veias, mas tentava acalmar-se tentando repetir: Não me irritar. Virou-se para o sujeito e disse:
-Mas pelo menos a outra notícia é verdadeira né? Eles vão reformar os apartamentos e economizar muito dinheiro.
-Economizar é o caramba. Eles já tiveram um aumento de 30 por cento na verba ministerial deles. Abrem um buraco negro no orçamento e depois espalham para a mídia que estão contendo gastos.
-Não, Não e Não. Repetia Valdo enquanto sua vista começava a embaçar, sua cabeça doer como vítima de uma terrível enxaqueca e sua pela aos poucos mudava de cor. Ele repetia Não e começava a emitir grunhidos enquanto seus músculos iam saltando por entre sua camisa e aos poucos rasgando o seu paletó. R$359,90 em forma de tecido eram aos poucos rasgados e desmanchavam-se como papel molhado.
Em 10 segundos a banca já estava totalmente vazia e todos admirados observavam aquela figura vinda diretamente das histórias em quadrinhos. Valdo havia dobrado em tamanho e estava verde. Não um verde claro, mas um verdadeiro verde digno da mais alta fúria que nele só poderia ser despertada por duas coisas: Por aquela coisa melosa que o Felipe Dilon chama de música e pela percepção de que algumas centenas de engravatados riem da cara de 180 milhões de brasileiros enquanto fingem trabalhar na distante cidade da Brasilópolis. Valdo havia falhado em sua árdua tarefa diária de não irritar-se. Graças à nossa classe política ele havia provado que o Brasil também possuí super-heróis.


terça-feira, maio 03, 2005

Inultilidades úteis

Acordo as 5 horas e 37 minutos. Não às 5:30h e nem às 6:00h, mas às 5:37h. Espremo-me em uma lata velha que recebe o nome de ônibus até chegar ao centro da cidade, onde entro em um veículo que até pode ser chamado de ônibus, mas que apresenta-se igualmente lotado. Pouco antes das 9:00h chego à Faculdade de Educação da U.F.R.J. na praia vermelha para assistir a minha aula de Psicologia da educação II. Todas as segundas e quartas eu enfrento a mesma maratona para chegar na hora da aula. Entro na sala e uma calorosa discussão está sendo travada acerca da diferença entre invenção e criação. A professora, cuja existência real eu ainda questiono por motivos que ao longo do texto serão explicitados, afirma que diversos autores já se ocuparam acerca do problema da diferença entre invenção e criação, produzindo uma vasta bibliografia, a qual ela orgulha-se em conhecer. Alguns provavelmente morreram angustiados por não atingirem os resultados esperados em suas pesquisas. A turma, totalmente interessada levanta questionamentos e eu me pergunto se sou o único presente que pensa que uma discussão destas é uma total perda de tempo.
Finalmente ela muda de assunto e quando eu penso que a aula vai embalar ela se questiona se os pássaros tem glândulas salivares. Para que eu vou querer saber se os pássaros tem glândulas salivares? Eu por acaso estou estudando desenvolvimento da alimentação deles? Estou cursando veterinária? Crio pássaros? Trabalho em uma loja de rações? O mais incrível é como aquele ser reveste essas coisas totalmente inúteis de uma enorme importância. Ela é a única que consegue unir em uma mesma aula gêmeos homozigotos com questionamentos que sempre intrigaram a humanidade em relação aos pássaros. A tal professora parece ter saído do filme “a volta dos mortos vivos” e eu realmente pondero acerca dessa possibilidade levando em conta que em seus momentos de falshback ela relembra o repórter Esso e a televisão à manivela( alguém já ouviu falar da televisão à manivela? Será que o cara deveria ficar rodando uma manivela para assistir à sua novela preferida?). Estou pensando seriamente em tomar os seus depoimentos como fonte de história oral para estudar os últimos dois séculos brasileiros.
Algumas vezes eu me pergunto sobre a possibilidade de ter que passar por essa situação escabrosa por ter cometido algum pecado. Outras vezes eu até penso em desistir dessas aulas. No entanto, nesses momentos eu lembro que só os fortes sobrevivem. Segundo a teoria que eu venho desenvolvendo, as matérias de Licenciatura, das quais graças à benção divina essa é a última que eu faço, constituem-se como um teste de paciência para aqueles que pretendem aventurar-se na profissão do magistério. Se o futuro professor agüentar essas impagáveis aulas ele conseguirá lidar com os mais desafiadores alunos que possam existir na face da terra. Eu realmente tento achar alguma utilidade para aquelas aulas tão inúteis, mas a utilidade está justamente no diploma, no prêmio para somente aqueles bravos alunos que perseverarem até o fim e resistirem as provações e afrontas às suas capacidades intelectuais. Contra mim, estão eles, os insaciáveis professores em sua maioria pedagogos, dispostos a me testar a todo o momento com as suas citações e falas totalmente desconexas retiradas do jornal Extra.
As pérolas da aula de psicologia da educação II são infindáveis e eu terei que dedicar nos próximos posts uma seção com as pérolas da semana. Todas elas são apenas provações e tentativas de me desviar do caminho, mas eu estou determinado a resistir e perseverar até o fim.