Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, outubro 30, 2005

MInha vizinha e suas construções maravilhosas



Hoje eu vou homenagear a minha vizinha e o seu dom como construtora. Nessa foto, pode ser observada o seu mais novo empreendimento: uma passarela que visa a ampliação da sua “casa”. A obra da minha vizinha fica bem de frente para o quintal da minha casa e é essa linda paisagem que eu admiro toda vez que chego à varanda da minha residência.

Minha vizinha tem como principal paixão as obras. Desde colocação de grades tortas, passando por escadas que desafiam a lei da gravidade, até chegar no seu mais novo empreendimento – uma grande e suspeita passarela – ela adora tijolos, massas e tem um fetiche especial por sacos de cimento. No momento ela está ocupada com a ampliação do seu conjunto de quartos alugados, que eu carinhosamente chamo de “cabeça de porco” em homenagem ao mais famoso cortiço que já existiu no Rio de Janeiro. Como pode ser visto na foto, ela é adepta de um estilo arquitetônico retrô com tendências rústicas, embora alguns digam que os tijolos à mostra são coisa de favelado mesmo.

3 coisas importantes sobre a minha vizinha:

-Ela já salvou minha vida. Tudo aconteceu quando eu tinha cerca de 9 anos e acidentalmente introduzi um caroço de azeitona dentro do meu nariz. Minha mãe logo chamou a vizinha, que era enfermeira e ela me livrou do maligno e mortal caroço de azeitona.

-Ela tem dois filhos e é separada do marido. Dizem as más línguas que as desavenças foram ocasionadas por dois acessórios bovinos que ela carinhosamente colocou na cabeça do seu conjugue. Eu acho mais plausível a hipótese de que eles aproveitaram um momento de distração dela e fugiram. Pelo menos, essa seria a minha escolha. O fato é que o ex ainda a visita esporadicamente, alternando sua presença com o outro, uma figura que assemelha-se ao Dr. Brown, cientista da famosa série de filmes “De volta para o futuro”.

-Ela adora fazer ruídos. Acredito que ela seja alguma instrumentista frutada que ocupa suas horas tirando som de ferros, martelos, madeiras, maçaricos e equipamentos elétricos em geral. Geralmente, ela escolhe as horas mais propícias para fazer sua música e domingo às 8 horas e 30 minutos da manha eu normalmente acordo no ritmo da sua melodia.

Eu não confio muito nas construções da minha vizinha. Talvez eu seja céptico demais, mas por via das dúvidas estou elaborando uma espécie de bolão como forma de ganhar um dinheirinho. O apostador pode investir em três categorias diferentes para testar sua sorte e quem sabe ganhar alguns prêmios:

1º categoria: Teste de resistência.
Em quantas semanas a passarela irá desabar?

Prêmio: Uma aula prática de construção e ampliação de cortiços.

2º categoria: Teste de Peso.
A passarela construída por ela suporta quantas pessoas?

Prêmio: Uma foto autografada com o Dr. Brown.

3º categoria: Teste do São Jorge.
Quantas semanas o Dr. Brown vai levar para fugir dela?

Prêmio: Um encontro com ela à luz do luar no aposento mais alto do andar mais alto do cortiço.

sexta-feira, outubro 28, 2005

Quando a surdez é uma benção: Parte 1.

A conversa seguia o seu curso normal, até que um determinado ser humano resolveu publicizar o seu apoio ao desenvolvimento da bomba nuclear no Brasil. Eu, logo fiz a ligação entre sua posição e o discurso defendido por um certo barbudo que de 2 em 2 anos aparece gritando o número 56 na televisão. Em seguida, o mesmo ser humano pronunciou as palavras que os meus tímpanos prefeririam não ter captado:

-O Enéias é um cara que eu admiro muito como político. Acho inclusive que ele consegue ser tão ou até mais inteligente que o Clôdovil.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Um presidente "otário" e azarado


-Que tal domingo?
-Domingo não rola, eu vou trabalhar no referendo?
-Que merda hien. Pô, tu não ta ligado no esquema para se livrar disso não?
-Que esquema?
-Pô cara, o tio do primo da irmã de uma conhecida da minha ex-namorada não respondeu à convocação. Mandaram o juiz na casa dele e ele mandou avisar que não morava mais lá. Resultado: ele se deu bem e não precisou trabalhar nas eleições.
-Ah, eu não vou fazer isso não. Vou trabalhar mesmo.
-Fala sério? Tu vai dar esse mole? Eu te ajudo a armar um esquema aí cara. Vai ser mais eficaz que o mensalão.
-Não, obrigado. Eu vou trabalhar mesmo.


Todos os deveres de um cidadão dão à “vítima” que tem de executá-los duas opções: ser “malandro” e se livrar da obrigação ou ser um “otário” e cumprir com suas obrigações. Não existe um meio termo. Eu, cumprindo meu dever como o “otário” não tentei utilizar de nenhum artifício e passei o meu domingo na 59º seção da 234º zona eleitoral do Rio de Janeiro. Mais do que isso, eu fui o presidente da seção, o bam bam bam, o recheio do pastel de vento, o jedi máximo, o portador do anel mágico; enfim, a autoridade máxima dentro daquela sala de aula.

Acordei às 6:37h e me dirige à escola que fica na mesma rua da minha casa. Chegando lá, dei uma olhada na lista dos nomes dos meus subordinados e vendo que só haviam seres humanos do sexo feminino fui logo ficando disposto à trabalhar. Quando os tais seres chegam, logo de cara vejo que uma delas tem uma beleza bem exótica. Ao longo do dia descubro através de uma descompromissada troca de palavras que as outras duas teriam de voltar para casa logo pois precisavam cuidar dos seus filhos.

Ao menos descobri que estou evoluindo e se antes eu atraía só mulheres comprometidas, agora o meu imã também aceita mães. Não sei qual das duas opções atesta mais a minha gigantesca sorte para com os seres humanos do sexo feminino. O fato é que o domingo chegou ao fim, levando consigo o meu dia como presidente. Agora é só esperar pelo próximo referendo: uma consulta popular acerca da proibição do comércio de facas ginsu no Brasil.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Referendo-se ao referindo, ou melhor: referindo-se ao referendo...


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Em uma grande metrópole, numa balada qualquer:

-Sabe gata, se você fosse uma urna eletrônica eu apertaria o 2 e confirmaria.
-Ah, é? Pois se você fosse uma urna eletrônica eu apertaria o 1.
-O 1? Mas porque? Você parece uma mulher tão pacifista.
-Pacifista eu sou, mas eu tenho que no mínimo ter o direito de portar algo para me proteger contra cantadas desse tipo.


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Em um banco de praça qualquer:

- Sabe amor, precisamos conversar?
- Conversar? Por que? Eu nem broxei ontem.
- Não é sobre isso, é sobre o referendo.
- O que que tem o referendo?
- É que eu vou votar sim e você vai votar não.
- Ué, e daí?
- E daí que se você resolver comprar um arma, eu posso sem querer pegar ela, por um acaso do destino te dar um tiro, por acidente te matar e ficar com todo o dinheiro do seguro só para mim...

domingo, outubro 16, 2005

SE7E

O Diego enviou-me essa corrente. Ela pelo menos não joga praga em quem não repassar. Aí vai:

7 coisas que eu odeio fazer ou de que tenho medo:

- Odeio fazer compras.
- Odeio escolher presentes.
- Odeio os guardas municipais da praça XV.
- Odeio participar de eventos formais.
- Tenho medo de fracassar.
- Tenho medo do Bento XVI.
- Odeio ouvir: “eu tenho namorado”.

7 coisas que gosto:

- mulheres inteligentes.
- andar de skate.
- Pudim de leite.
- Rir com o meu irmão.
- discutir.
- Ouvir um sim.
- Ouvir Los Hermanos de madrugada na escuridão do meu quarto.

7 coisas importantes no meu quarto:


- Minha estante de livros.
- Meu shape que virou uma prateleira.
- Minha estante de xerox.
- O Banner que eu usurpei da Sbec no qual colei várias fotos.
- Meu truck pendurado na parede que tornou-se um porta-bonés.
- A cópia do poema “Ítaca” que colei no painel da parede.
- Meu irmão fazendo bagunça.

7 fatos quaisquer sobre mim:

- Já apareci no programa da Angélica, na época em que ela era da Manchete.
- Sou monitor de História Antiga I.
- Me encarrego de preparar a janta toda segunda-feira.
- Fui o orador da minha turma na formatura do CA.
- Recebo lambidas das minhas cachorras toda vez que chego em casa.
- Já participei de uma sessão do descarrego da Igreja Universal.
- Tenho um parafuso no meu ombro esquerdo.

7 coisas que eu planejo fazer antes de morrer:

- Escrever um livro.
- Escrever outros livros.
- Arrumar leitores para os meus livros.
- Deixar a barba crescer, no melhor estilo Los Hermanos.
- Agredir o garoto propaganda das casas Bahia.
- Ver os meus netos darem um rolé de Skate no quintal da minha casa.
- Dizer: -Não, não me mate, por favor, Nãoooooo...

7 coisas que eu sei fazer:

- Mandar f/s rockslide.
- Carne seca com aipim.
- tocar “Grensleves” na flauta doce (pelo menos sabia).
- trocar fralda.
- criticar.
- dançar frevo.
- Sobreviver no Rio de Janeiro sem nunca ter sido assaltado.


7 coisas que eu não sei ou não vou fazer:

- Não vou desfilar em nenhuma escola de samba.
- Não vou assistir “Dois filhos de Francisco”.
- Não sei a hora certa de me declarar para um mulher.
- Não sei como me declarar para um mulher.
- Nunca vou dizer: “comprei isso aqui porque está todo mundo usando.”
- Nunca vou dizer: “Amor, bota a minha janta e corre aqui que a novela já vai começar.”
- Não vou completar as 7 coisas desse tópico.

7 coisas que eu acredito:

- em Deus.
- no Brasil.
- na vida eterna.
- no teste de fidelidade do João Kleber.
- no amor.
- na masculinidade do Patrick, vizinho do bob esponja.
- nos meus amigos.

As 7 coisas que eu mais falo:

- E aí, beleza?
- Fala aí.
- Victor, não mexe aí.
- Cuidado Victor!
- Novela atrofia o cérebro.
- Não concordo.
- Essa música é muito style.



7 celebridades por quem tenho um apreço especial:

- Og se Souza.
- Jô Soares.
- Marcelo Camelo.
- Tom Hanks.
- Mônica Beilucci.
- Arnaldo Jabor.
- O cachorro do Jatobá (que vem aturando aquele personagem estúpido desde o começo da novela).

7 pessoas que têm que responder isso AGORA:

- Gabriela

- Adriana.
- Eric.
- Suíno.
- Paloma.

sexta-feira, outubro 14, 2005

Era uma vez um Jailton famoso

Semana passada eu mergulhei fundo no universo dos blogs. Queria entender os mecanismos que regem a fama de um blogueiro. Na minha jornada, entrei numa comunidade do orkut e criei um tópico intitulado “um monólogo e só”, onde dei uma de vítima questionando porque o meu blog não recebe muitos comentários. A discussão foi longa. Uns disseram para não ligar para esse lance de comentário e continuar escrevendo, outros tentaram responder à pergunta. Entre várias opiniões, a maioria resolveu começar a esculachar o meu nome, e aí a discussão desandou de vez. Diziam todos:

-Jailton? Isso é nome? É por isso que você não recebe comentários...

Pois bem. Não sei se é costume, mas o fato é que eu nunca liguei para o meu nome. Ele é uma espécie de título formal. Desde pequeno foi assim: na escola era Jailton e fora dela era Junior. Isso continua até onde e digamos que Jailton é o meu título apenas no meio acadêmico e profissional. No restante, o Junior funciona como uma forma de identificar a minha pessoa para grande parte dos meus amigos.

Não conheço nenhum Jailton famoso e talvez por isso eu tenha dificuldade de imaginar o meu nome na autoria de algum livro ou frente à algum título importante. Não existem um fã clube do Jailton e muito menos algum Jailton na academia brasileira de letras. Nenhum Jailton jamais ganhou o prêmio Nobel da paz ou o Oscar. Na novela não existem jailtons contracenando com a Cléo pires ou com a Débora Secco. E aí, eu me pergunto: estariam os jailtons de todo o mundo destinados ao anonimato? Será que esse nome guarda algum karma que impede o sucesso?

Espero que antes que eu lance o meu best-seler, seja entrevistado pelo Jô, apareça na capa da Veja, visite o papa, sirva de roteiro para o filme “Jailton, um filho de Jailton”, lance um cd acústico pela MTV, produza um seriado televisivo, seja jurado do programa do Sílvio Santos, Participe de um debate no programa da Luciana Gimenez, do teste de fidelidade do João Kleber, seja babado pelo Fautão no “Arquivo confidencial”, seja zoado pelo pânico na TV, faça uma participação especial na novela das oito sem ser cego, revolucione a historiografia, apareça na campanha do desarmamento, vire o autor da moda, seja capa da Tribo, tenha uma parte na 411, vença o big brother; espero que antes disso tudo algum outro Jailton prove que o nome não determina o sucesso de uma pessoa.


quarta-feira, outubro 12, 2005

Porrada, muita porrada, ou: Quando eu tinha dez anos.

Dia desses estava eu na locadora escolhendo um dvd, quando presenciei um diálogo que me fez lembrar um pouco a minha infância:

-Pega esse aqui mãe.

-Esse não.

-Ah, vai mãe, por favor.

-Não minha filha, ninguém merece Kill Bill de novo. -Você já viu esse filme três
vezes.

E a garotinha que aparentava ter no máximo dez anos teve que se conformar.

Quando eu tinha dez anos era fã dos filmes do Jean Claude Van Dame. Só “O grande Dragão branco” eu assisti umas cinco vezes. Quando chegava na locadora, corria para a parte de ação e pegava a primeira fita que tinha uma cara fazendo pose de briga e entregava para o meu pai. Quase sempre ele acatava a minha escolha.

Eu adorava aqueles filmes, mesmo sendo todos sempre bem parecidos. Eram histórias de vingança, superação e amor regadas a sangue e muita porrada. Na última cena, o mocinho sempre apanhava até quase não agüentar mais. Ele apanhando e eu ali, na expectativa da virada. E a reviravolta sempre ocorria. O cara levantava-se com muito esforço, todo sangrando, e via todas as suas motivações passarem pela sua mente. Olhava para o adversário e com um só golpe o derrubava. Eu extasiava, comemorando energicamente o trunfo do herói que quase sempre terminava nos braços de alguma amante.

Nos meus dez anos eu adorava ver porrada. Mas quando ela saía da televisão eu nunca conseguia agir como os meus heróis. Quando se tem 10 anos, as brigas de rua parecem colocar em risco toda a sua vida. Uma briga pode determinar o nível da sua coragem perante toda a vizinhança. Correr, nem em último caso, já que a fama de covarde era bem pior que a dor dos hematomas. No meu caso, ou eu batia ou batia já que se chegasse em casa chorando apanhava mais ainda. Era a lógica da criação machista: volta lá e bate, bate muito. E eu ia lá. Não era muito bom nos punhos, mas a sorte sempre estava comigo.

Em uma briga, eu ia ser atingido por uma voadora, o golpe mais hábil daquele tempo, quando eu desviei e o garoto enroscou-se na grade da quadra de futebol. Outra vez, eu havia sido pego de surpresa e o meu adversário estava segurando o meu pescoço através de uma espécie de gravata. Sem outras opções não pensei duas vezes e mordi o braço do meu vilão com toda a minha força. Ele ficou lá gritando de dor e todos ficaram discutindo se uma mordida era digna ou não. Prevaleceu a opinião de que a mordida estava valendo, já que ele tinha me pego de surpresa.

O mais legal de quando se tem 10 anos é que as desavenças sempre se resolvem no dia seguinte. Um dia após estar odiando o meu inimigo com todas as forças, estava eu jogando bola com o agora amigo. Isso é o que falta no mundo de hoje. Se os grandes líderes mundiais tentassem resolver suas desavenças em uma velha briga de rua, muitas mortes seriam evitadas. Muita porrada em um dia e amizade no dia seguinte. Seria muito bom se todos resolvessem suas desavenças assim, como garotos de 10 anos.



domingo, outubro 09, 2005

O que você quer ser quando crescer?


Hoje, o meu controle remoto caiu no chão. Acidentes acontecem, mas as suas consequências são quase sempre inesperadas. No meu caso, a televisão pulou para um programa onde 8 mulheres rebolavam ao serem anunciadas como as finalistas do grande concurso da nova morena do tchan. Eu achava que essa moda de dançarina do tchan já tinha cabado. Ledo engano.
O apresentador perguntou para as moças porque elas deveriam ser escolhidas. Elas responderam coisas óbvias como sempre e só ficou faltando uma declaração a favor da campanha do desarmamento. Uma delas disse:
-Eu quero ser a nova morena do tchan porque esse sempre foi o meu sonho.
Eu fico com medo dos sonhos que a mídia alimenta. Temo, um dia, que um diálogo daqueles despretenciosos em que a professora pergunta para os alunos o que eles querem ser quando crescerem transforme-se em algo como isso:
-O que você quer ser quando crescer?
-Eu? Eu quero ser morena do tchan.
-Ah, que legal, tomara que você consiga Mariazinha. E você Joãozinho? Qual profissão você quer seguir quando crescer?
-Eu quero ser escritor professora. Quero escrever livros.
-Escritor? De onde você tirou isso? Eu hein...

sábado, outubro 08, 2005

Ronaldo, bundas e escândalos, muitos escândalos

O Brasil é internacionalmente conhecido como o país do futebol e do samba. Afirmar publicamente que se é brasileiro e ter como certo ouvir com um sotaque estranho duas palavras: Bunda e Ronaldo. Bunda é a parte mais visada do carnaval e por isso eles confundem um pouco samba, carnaval e bunda, mas a idéia é a mesma. Ronaldo resume futebol, as vezes sendo trocado por Pelé, mas não sendo nunca substituído por Obina. Se algum gringo falar Obina pode crer que ele não está falando sobre futebol. O fato é que o brasileiro é sempre reconhecido como aquele cara que veio daquele lugar onde tem bunda, mulher, samba e Ronaldo. Se o Jean Charles, aquele brasileiro que foi morto do metrô de Londres tivesse gritado: -Stop, Ronaldo, Bunda; com certeza teria tido sua vida poupada.

Recentemente descobriram um escândalo protagonizado por um corrupto amador que ainda tem muito a aprender com os grandes. Inspirado nos nossos deputados ele resolveu inovar e acabar com a hegemonia dos cartolas no âmbito das falcatruas futibolísticas. Se deu mal, muito mal, e agora até o Eurico Miranda aparece para criticá-lo querendo dar uma lição de honestidade. Aliás, isso é o que é ser humilhado: ser chamado de corrupto pelo Eurico Miranda.

Bom, mas voltando aos escândalos, só falta agora descobrirem corrupção no samba para o pacote ficar completo. Aí, quando se falar em Brasil os Gringos vão dizer: -Brasil, Buenos Aires, Bunda e escândalo para rimar com Ronaldo, o fenômeno. O carnaval está chegando e é bem provável que até lá o jornal nacional exiba alguma gravação que denuncie algum tipo de máfia das bundas falsas ou alguma espécie de escândalo do carnavalesco que não era gay. Quando isso acontecer, eu vou fazer questão de ir ao estádio mais próximo e exibir a minha plaquinha:

FILMA EU GALVÂO, EU JÁ SABIA...

quinta-feira, outubro 06, 2005

Trabalhos da XXVII J. I. C. A. C da UFRJ: um enfoque estruturalista sobre a Hipocorização de truncamento otimalista.

Hoje, apresentei o meu trabalho na Jornada de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ. Na volta para casa, eu resolvi folhear o caderno da programação, que contém os títulos e os nomes dos autores de todos os trabalhos apresentados durante essa semana. Alguns desses títulos chamaram tanto a minha atenção que eu resolvi publicá-los aqui no bolg, mantendo os seu autores em anonimato é claro. Segue a seleção que eu fiz:

Análise do Filme “Shrek” segundo o modelo morfológico do conto popular proposto por Vladimir Propp
E eu que pensava que esse filme servia apenas para causar risos.

"O Arranjos para Assobio e a poesia como Totalidade"

Esse trabalho deve ser tão complicado que tem cinco alunos na sua autoria. Todos apoiados com bolsas de pesquisa.


"Os pássaros nos rótulos de cachaça"

Poxa, sabe que eu nunca reparei se tem pássaros ou não nos rótulos de cachaça. Talvez os pinguços atentem mais para esse detalhe:
-Desse uma branquinha aí, aquela do bem-te-vi. E o dono do bar responde:
-Ih Rapaz, só tenho a do sabiá.
-Essa eu não bebo. Só bebo a pinga do Bem-te-vi. Questão de princípios.


"Hiporcorização com reduplicação: Um enfoque otimalista para o padrão de cópias dos segmentos à Direita."

Ah?

"O tratamento otimalista de um padrão variável de Hipocorização: A cópia dos segmentos à Esquerda."

Ah, saquei. Hipocorização à direita e à esquerda. Legal.

"O encurtamento de formas sem moferma de truncamento: Um enfoque otimalista."

De novo o tal do otimalista. O cara é bom.

“Quer um cafezinho?” Um estudo em sociolinguística Variacionista.

O cafezinho eu aceito, mas a sociolinguística variacionista eu vou deixar para a próxima.

"Escutando quem traz a Criança."

Como assim? Quem traz a criança pra onde? Coitada dela, tá vindo com um sujeito oculto.

“Banheirão”: Um estudo sobre as relações homoeróticas em banheiros públicos do Rio de Janeiro

Eu hein. Ainda bem que a minha religião não permite a freqüência em banheiros públicos.


E para encerrar a lista:
“Guerra e Contextos funerários nas tragédias de Eurípides”, de um tal de Jailton R. Junior.

domingo, outubro 02, 2005

O dançarino e o denunciante

Heráclito, o pipoqueiro observador*

Estava eu um dia desses no meu ponto de trabalho, sentindo o corriqueiro aroma das pipocas e observando os artistas de rua, que por aqui existem aos montes. São, na maioria das vezes, desempregados que, em momentos de aperto, descobrem repentinamente dons, que nunca imaginariam ter.

Estou acostumados a ver os mais estranhos seres demonstrarem as mais inusitadas habilidades. Hoje no entanto dois “artistas” em especial chamaram a minha atenção. O primeiro que eu avistei já tinha uma certa idade, era de baixa estatura e os cabelos pretos já haviam o abandonado. Na parte de cima da sua cabeça restava apenas um bem conservado aeroporto de mosquitos, mariposas e outros insetos voadores. O que mais chamava a atenção naquela figura era, no entanto, sua barriga. Ela era tão saliente e dona de si mesma que parecia ter vida própria. A dupla, o baixinho e sua barriga, faziam um verdadeiro show ao ar livre. Ele, vestido de odalisca, balançava freneticamente sua dupla saliente enquanto uma mala que estava aberta à sua frente esperava por um trocadinho.

Sua performance não ia muito bem, mas tornou-se uma catástrofe após a interferência de um outro “artista”. Era um cara meio esquisito, magro mas com uma certa barriga, de estatura mediana e que aparentava já ter sido muito mais gordo. Ele ficava de terno andando pela rua e apontando para os transeuntes. O Jairinho, carteiro aqui da área, me disso que já o viu cantando óperas, fazendo discursos e até vendendo dicionários. Ele era uma espécie de faz tudo. Ao avistar o dançarino, ele aproximou-se e disse:

-Eu te conheço de algum lugar.

O dançarino fingiu que não possuía o dom da audição e prosseguiu. O denunciante, porém, elevou o tom da sua voz e insistiu:

-Como eu não lhe reconheci antes? O que você está fazendo aqui?

O dançarino forjou uma concentração no seu show e continuou ignorando o denunciante, que por sua vez inflamou-se ainda mais e vociferou:

-Eu sabia que era você seu fariseu boquirroto, rufião de uma figa. Vem aqui que eu vou lhe desmascarar agora.
O dançarino tentou defender-se:

-Fique calmo vice, cuidado com os instintos primitivos.

-Eles já foram despertados, disse o denunciante que partiu para cima do barrigudo e arrancou o véu que lhe cobria o rosto. O público, tomado por um espanto, começou a vaiá-lo.

Aquilo havia sido o auge para o denunciante, que regozijante, repetia freneticamente:

-Tirei a roupa do rei, Tirei a roupa do rei.

O pobre desmascarado dançarino pegou sua maleta e ao som das vaias retirou-se da cena enquanto defendia-se repetidamente:

-Eu voltarei, eu voltarei. E voltarei nos braços do povo.

Aquelas duas figuras, provavelmente tinham perdido o emprego recentemente e no desespero de levar um pão para a casa, tentavam de tudo para ganhar um dinheirinho. Alguma coisa, no entanto, me dizia que eu já havia os visto em algum lugar. Por um momento eu tive a impressão de ter sido na televisão. Busquei na memória, mas fiquei apenas no campo das hipóteses. Retornei então para as minhas pipocas, porque elas sim, eu conheço muito bem.

*Heráclito, o pipoqueiro observador escreve para o incomensurável de vez em sempre. Mesmo com a sua conturbada rotina ele não abdica da sua coluna neste periódico e não pretende renunciar a essa função.