Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, maio 28, 2006

Espremido, imprensado e acochado

A correria do dia a dia tem feito muito mal para os habitantes das grandes cidades. As pessoas andam muito estressadas. Dia dessas presenciei uma discussão dentro do ônibus por causa da divisão de um banco.
-Para de me espremer aí, o rapá, reclamava o sujeito.
-Ih, se liga, vê se eu ia querer te espremer.
- Mas que tá espremendo tá.
-Eu não to espremendo ninguém, até porque você não é uma laranja.
- Ah, seu engraçadinho. Olha que é muito ruim ser espremido no banco do ônibus. Vai dizer que tu gosta? Tu gosta de levar uma imprensadinha não gosta? Se tu gosta de ser imprensado tudo bem, mas eu não curto essa parada não maluco. Vai imprensar teu macho.
- Quem gosta de ser imprensado é folha de jornal. Talvez você esteja querendo dizer que você está sendo acochado, é isso?
- To dizendo. Ó o cara aí. Isso é papo de homem? Que lance de acochado é esse? E dá licença aí, o baixinho. Eu vou descer.
- Ih, Baixinho é o caramba.
O versão econômica de King Kong levantou-se e ficou trocando insultos com o Nelson Ned mais bem alimentado.
- Tu é grande mas não é dois não, dizia o baixinho.
- Não sou dois, mas te divido em dois, disse o grandalhão antes de descer do ônibus.
- Tu tá é precisando fazer um regime. Se tu fosse menos gordo ia poder sentar na moral sem ficar reclamando que eu tava te espremendo, gritou o baixinho pela janela do ônibus, depois que o grandalhão já tinha descido.

O convivência entre os seres humanos só não fica pior porque apesar de estarem cada vez mais estressadas, as pessoas jamais deixaram de ser engraçadas, mesmo que seja sem a intenção.

domingo, maio 21, 2006

A sua música

Aperto o play. A música toma conta do ambiente. Não é qualquer música, mas sim a sua. Deito-me, ali mesmo no chão. Está um pouco frio, mas o sol está começando a esquentar. Fico ali, entre o gelo do piso e o calor do sol. Assim está bom. Sinto-me vivo. Fecho os olhos e a música entra na minha mente. Sinto seu perfume, aquele que ainda não foi classificado como nenhuma fragrância e que não está em prateleira alguma. Vejo seu sorriso, bem despreocupado; seu olhos, um tanto quanto inseguros, mas realmente verdadeiros. Ouço sua voz, ela confunde-se com a melodia da música. Peço para que a música não acabe. Imploro para que ela não leve você de mim. Nada pode interromper esse momento, nem mesmo alguém reclamando do barulho da música, até porque isso não é um barulho. Essa é a sua música, só sua e hoje eu quero ficar aqui, deitado ao chão, sob o calor do sol, de olhos fechados, rindo sozinho e deixando a sua imagem tornar-se uma presença dentro da minha mente.

terça-feira, maio 16, 2006

Ele está diferente

Heráclito, o pipoqueiro cronista*
Já faz algum tempo que não compareço a este periódico. Juro que essa minha volta não se deve a uma possível candidatura à um cargo político. Também não vim aqui para falar sobre o fim da greve de fome do Garotinho, apesar de ter sido o irresistível cheiro da minha pipoca, o responsável pela desistência deste pequeno garoto. Tão pouco vim até aqui para contar como eu escapei da tentativa do Evo Morales de nacionalizar a minha carrocinha de pipoca. Hoje, eu vim por um motivo verdadeiramente importante; algo que tem me intrigado nas últimas semanas. Hoje, vou falar sobre o meu companheiro de blog.

O meu amigo Jailton Junior está diferente. Vocês já viram o que ele escreveu no profile do orkut dele? Ele tentou me explicar, mas eu não entendi. Me falou algo sobre ela achar que ele está confundindo as coisas, não sei. O fato é que desde janeiro deste ano, ele não é mais o mesmo. Anda meio aéreo, contemplativo e as vezes fica rindo sozinho. Parou de tentar puxar conversas com desconhecidas comprometidas dentro do ônibus, não fica mais inventando coisas absurdas para conhecer meninas em shows de hardcore e o mais estranho de tudo: perdeu no mínimo três oportunidades reais com o sexo feminino. Primeiro, uma antiga conhecida de vista o encontrou em uma dessas tarde em que nada se espera da vida. Conversaram sobre várias coisas, mas no final ele nem mesmo pegou o telefone dela. Disse-me que ela era sem sal. Depois, foi intimado para um compromisso sério, conhecendo os pais dela e tudo. Também não quis, afirmando que não era ela. Por fim, disse não até mesmo para uma oferta descompromissada no estilo “ninguém é de ninguém”. Em outras épocas as coisas seriam bem diferentes.

Quanto aos posts aqui do blog eu já tentei convencê-lo a parar com essas coisas los hermanísticas. Isso, além de ser uma exposição excessiva, é uma perfeita forma de queimar o filme. Ele me prometeu que iria tentar parar de publicar as coisas que ele escreve acerca dela. Por falar nela, eu ainda não sei quem é, mas eu nunca vi o meu amigo dessa forma por causa de alguém. Acho que deve mesmo valer a pena. Só espero que o meu amigo sobreviva a isso tudo.


*Heráclito, pipoqueiro de fé e irmão camarada, publica suas apreensões acerca de tudo a sua volta sempre que pode.

domingo, maio 07, 2006

As palavras

Olhei ao redor e não as vi. No princípio, suspeitei de uma ausência temporária. Tentei avistá-las, alcançá-las, mas não pude. Verifiquei os meus bolsos; todos eles, meus sapatos, meu chapéu e até ao relógio apontei meu olhar. Ali, elas também não estavam. Tateei o nada, tentando fazê-las surgirem. Tentei lembrar como poderia fabricá-las, mas a minha memória recusou-se a desempenhar tal tarefa. Elas realmente haviam me abandonado, constatei. No momento em que mais precisava delas, não as tinha comigo.

Como são cruéis as palavras. Fogem de mim sem nem ao menos dar um aviso e aí, quando preciso escolher aquelas que mais se aproximam dos meus sentimentos, não as encontro. Não que elas dessem conta de toda a intraduzível manifestação do meu coração, mas ao menos, com as palavras mais próximas, poderia tentar expressar tudo o que sinto por você. Sem elas, ficam o olhar, os gestos e os pequenos atos, que você talvez nem mesmo se dê conta. Sem palavras, restam apenas mínimas manifestações que tentam preencher o espaço deixado pela ausência de uma tradução para os meus sentimentos. Sem elas, talvez você não alcance a amplitude de tudo o que eu sinto por você.

Ingratas palavras. Sempre fogem de mim. Um dia hei de aprisionar cada uma delas e, após esperar pelo momento certo, libertá-las, uma a uma, na exata ordem em que devem ser pronunciadas. Nesse dia, você ouvirá o que de mais próximo a linguagem humana pode chegar de tudo o que sinto por você.