Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, maio 07, 2006

As palavras

Olhei ao redor e não as vi. No princípio, suspeitei de uma ausência temporária. Tentei avistá-las, alcançá-las, mas não pude. Verifiquei os meus bolsos; todos eles, meus sapatos, meu chapéu e até ao relógio apontei meu olhar. Ali, elas também não estavam. Tateei o nada, tentando fazê-las surgirem. Tentei lembrar como poderia fabricá-las, mas a minha memória recusou-se a desempenhar tal tarefa. Elas realmente haviam me abandonado, constatei. No momento em que mais precisava delas, não as tinha comigo.

Como são cruéis as palavras. Fogem de mim sem nem ao menos dar um aviso e aí, quando preciso escolher aquelas que mais se aproximam dos meus sentimentos, não as encontro. Não que elas dessem conta de toda a intraduzível manifestação do meu coração, mas ao menos, com as palavras mais próximas, poderia tentar expressar tudo o que sinto por você. Sem elas, ficam o olhar, os gestos e os pequenos atos, que você talvez nem mesmo se dê conta. Sem palavras, restam apenas mínimas manifestações que tentam preencher o espaço deixado pela ausência de uma tradução para os meus sentimentos. Sem elas, talvez você não alcance a amplitude de tudo o que eu sinto por você.

Ingratas palavras. Sempre fogem de mim. Um dia hei de aprisionar cada uma delas e, após esperar pelo momento certo, libertá-las, uma a uma, na exata ordem em que devem ser pronunciadas. Nesse dia, você ouvirá o que de mais próximo a linguagem humana pode chegar de tudo o que sinto por você.