Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, março 19, 2006

Um pipoqueiro na Rocinha

Heráclito, o pipoqueiro cronista *.

Após longos posts de ausência, eu o pipoqueiro mais sagaz no mundo blogueiro estou de volta ao incomensurável. Dessa vez, trago revelações mais bombásticas do que o último episódio de “Lost”.
Todos, com um mínimo de informação, acompanharam a saga do exército brasileiro pelas favelas cariocas em busca das armas roubadas de um quartel do Rio de Janeiro. A recuperação das armas na última terça-feira encerrou o episódio, no entanto a mídia mais uma vez equivocou-se na investigação dos fatos e se não fosse esse que vos escreve, tudo o que ocorreu nesse terça-feira resumiria-se às palavras de Willian Bonner no telejornal mais assistido do Brasil.
O relato descrito abaixo é apenas uma parte de toda a experiência que eu vivi como fornecedor de pipoca extra-oficial dos membros da TraDeFRE (Traficantes Detentores dos Fuzis Roubados do Exército), cujo nome foi posteriormente alterado para TraDeFIhTPATOAPARE ( Traficantes Detentores dos Fuzis Ih Tem uma Pistola Aqui Também Onde? Aqui Pou Ai Roubados do Exército ) que ocuparam a Rocinha durante essa semana. Vamos aos fatos, cuidadosamente anotados no meu diário:

Terça-feira, 14 de março de 2006

12 h – Nunca fiz tanta pipoca na minha vida. Esses caras só querem saber de comer pipoca, assistir bob esponja, fumar, cantar a música da Xuxa e atirar, não necessariamente nessa mesma ordem. Eles estão um pouco agitados hoje. Vivalderson, o nariz de clitóris, disse que recebeu seguras informações de que o exército ia invadir o morro hoje. Mesmo assim, Blyan, o Robocop do sertão, disse que não vai perder a feijoada da dona Creuza.

15 h – Fui obrigado a subir mais um pouco o morro junto com eles e aqui estou na birosca da dona Creuza. A feijoada atrasou um pouco porque faltou o pé de porco. O problema já foi resolvido e após a morte de mais um PM já tem pé, orelha e todo o resto do corpo do porco. Faltou também algum tempero que o Chimbiquinha foi lá em baixo buscar e daqui a pouco estará de volta.

17 h –Finalmente a feijoada ficou pronta. A minha religião não permite comer feijoada depois das 16:59 minutos e por isso eu estou apenas saboreando umas pipocas. Chimbiquinha disse que também não vai querer feijoada. Ele está meio estranho e desde que voltou com o tal tempero anda totalmente desastrado. Até a peruca da dona Creuza ele já rancou.

23 h – Acabei de chegar em casa. A polícia queria me deter para averiguações, mas graças o cd pirata do Bruno e Marrone que eu tinha no bolso, o PM me liberou. Por volta das 19 h as coisas começaram a ficar estranhas na Rocinha. Blyan, Vivalderson e os outros membros do TraDeFIhTPATOAPARE tiveram duas notícias bombásticas. Primeiro, ficaram sabendo que o exército estava invadindo o morro em uma mega operação. Depois, descobriram que o banheiro da Dona Creuza estava em obras. O revertério estomacal provocado pela feijoada foi tão grande que eles pegaram os fuzis e saíram desesperados para o matagal mais próximo. O resto da história vocês já sabem.


A saga completa poderá ser conferida no livro que irei lançar em breve. Se você não tiver dinheiro para comprá-lo, basta esperar a minha aparição no JÔ Soares. Se você não possuir um aparelho de televisão, aguarde o lançamento de “A saga do pipoqueiro em busca dos dez fuzis roubados”, narrado por Cid Moreira. Se você não possuir dinheiro, um aparelho de som ou uma televisão, quando retornar ao planeta terra providencie um.

*Heráclito, o pipoqueiro cronista além de fazer pipocas executa investigações mais secretas que idade de mulher. Sempre que pode, ele escreve para o incomensurável.