Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

quarta-feira, agosto 31, 2005

Robinho, o super-herói brasileiro

O mais novo craque do Real Madrid é uma exceção e conseguiu se destacar dentre milhões de jovens que tem um destino bem diferente do dele.

Dizem que o Robinho sabe pedalar como ninguém. -O “muleke” é bom, tem futuro e “esculacha” geral, é o que muitos repetem por aí. Até mesmo o “rei” Pelé reconhece o talento do garoto. Eu tenho que admitir que, em parte, concordo com eles. Vejo o Robinho como uma espécie de meta-humano, um ultra-man. Um desses super-heróis que parecem sair das revistas em quadrinhos, desses heróis hollywoodianos sempre destacam-se em meio à multidão. Robinho parece um desses personagens de filme que superam todos os vilões e terminam com malas cheias de dinheiros e loiraças à tira colo.

Robinho é a exceção, o destaque, o cara que surpreende. Robinho, Negro, 19 anos e brasileiro descobriu que tinha super-poderes de repente. Foi quando, entre milhões de jovens ele se destacou. Jovens, que até aquele momento eram quase iguais a ele. Jovens que a cada dia aumentam as estatísticas de mortalidade, desesperançosos com o futuro e sem perspectivas de vida. Jovens que vivem ali, no limite e que logo cedo precisam optar entre dois destinos: Viver pouco e comprar tudo o que aa propagandas oferecem ou sobreviver muito tempo no anonimato e no sofrimento diário. Robinho descobriu seu verdadeiro talento quando pôde ter uma terceira opção.

A fama chegou até ele e o dinheiro não mais faltou. Aos poucos ele foi aperfeiçoando os seus super-poderes. Primeiro conseguiu ser um negro bem-sucedido, depois virou ídolo de milhões e livrou-se de um futuro incerto compartilhado por milhões de jovens pobres. Ele ainda estava aprendendo e, quando os terríveis vilões seqüestraram sua mãe, nada pôde fazer. Mas agora as coisas mudaram e Robinho mostrou ser um verdadeiro super-herói brasileiro. Atingiu o Olimpo do futebol e lá, bem longe dos problemas do seu país, ele vai ganhar cerca de 10 milhões de reais por ano. Lá, ele não irá viver com medo de ser assaltado ou de ter sua mãe seqüestrada. Ele conseguiu.

Os super-heróis brasileiros não voam nem disparam raios pelos olhos. Eles conseguem contrariar as estatísticas e tornarem-se exceções. Os nossos super-heróis nem mesmo nossos são. Logo que descobrem seus poderes, tratam de fugir daqui. Pegam suas loiras, seu dinheiro e voam para bem longe de vilões que são bem parecidos com eles. Vilões, jovens como eles, que infelizmente não se descobriram como super-heróis e que precisam continuar sobrevivendo por aqui.

Nossos super-heróis não ajudam os fracos e oprimidos. Vez ou outra, um espírito cristão baixa neles e o troco da Ferrari do ano, recém adquirida, vai parar em alguma instituição de combate à fome. Os super-heróis brasileiros são bem atuais e só ajudam a si mesmos, no mais puro espírito individualista da nossa sociedade capitalista neoliberal. Eles usam seus poderes para encher os cofres e sonham um dia nadar no dinheiro, igualzinho ao Tio Patinhas. Vez ou outra eles visitam o Brasil, para se divertirem com algumas mulatas no carnaval ou para aparecerem em algum programa de televisão.

Robinho conseguiu. O mais novo super-herói brasileiro chegou ao Olimpo e lá de cima, na Europa, ele irá apenas lamentar os problemas da sua terra natal. A corrupção, a fome, a desigualdade social e tantas outras mazelas sociais irão passar pela cabeça do nosso herói, e isso será tudo. Infelizmente eu não posso ajudá-los, pensará ele. Robinho afirmou que estava realizando um sonho, ao jogar no Real Madrid. Você enganou-se, Robinho. Você não sonhava em jogar no Real Madrid. O seu sonho, que o perseguia desde a infância, é o sonho de muitos outros garotos, o sonho de vencer na vida. Agora, você conseguiu. Não vai mais precisar ficar vendo garotos miseráveis fazendo malabarismo no sinal de transito e nem vai ter que blindar o seu carro. Agora, Robinho, você livrou-se do Brasil e do estigma de jovem negro e pobre. Agora, você pode tudo, porque agora você é um super-herói.

domingo, agosto 28, 2005

Ainda sobre Ex.

Já que elas foram citadas no último post, torna-se necessário detalhar a X e a Y. Tenho tanto a dizer sobre X quanto o tempo em que passamos juntos: muito pouco. Conheci-a por intermédio de um amigo e passamos a viver numa irresponsabilidade despreocupada por mais ou menos 2 meses. Conversávamos sobre tudo, mas uma coisa lhe era peculiar: ela perguntava muito. Não tinha vergonha de dizer que não havia entendido as coisas mais estúpidas e simples e a uma certa altura eu comecei a me ver como um desses velhos que ficam dando conselhos e respondendo os porquês das crianças. A gota d´agua veio quando fomos assistir Shreck 2 e ela não parou de me fazer perguntas sobre o filme. Tudo bem que ela não havia visto o primeiro, mas perguntar porque o gato usava botas já é demais. Para resumir, digamos que X parecia levantar a bandeira da sua ignorância com orgulho. Ao menos em uma aspecto ela me surpreendeu e foi sua a iniciativa de terminar o relacionamento.
Fiquei transtornado, não pelo fato de ter sido abandonado, mas sim por conta da constatação de que eu não fui capaz de agradar nem mesmo um ser que não entendeu porque o “gato de botas” usava botas.

Quanto a Y, muita coisa há para ser dita. Ficamos juntos durante quase um ano. Como tudo na vida, as coisas começaram perfeitamente bem, até que o sentido de um possível amor fez as malas e me deixou sem explicações. Fiz tudo o que poderia ser feito por ela, e cantaria “lagrimas sofridas” dos hermanos para definir essa fase. Até que eu mudei para a faixa “descoberta” e tudo passou a fazer sentido.

Ela não fazia tantas perguntas quanto X, mas pior do que isso, ela concordava com tudo e quando discordava não sabia argumentar. Faltava-lhe dizer não, discutir, brigar, enfim manifestar-se. Mesmo assim, algumas vezes ela me surpreendia e mostrava que seu cérebro não era uma área improdutiva. Sua mãe me adorava e quando eu me estendia em sua casa até as avançadas 8 horas da noite ela logo comentava com uma vizinha que só estava esperando eu ir embora para dormir. Depois desses ocasionais convites eu, surpreendentemente manifestava a minha saída e ela lamentava: - Já vai?. Seu pai, era uma espécie de fundamentalista religioso que abraçava a bandeira do “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. Apesar de tudo isso, ainda valia a pena tê-la ao meu lado. Tudo no entanto, tem um fim e eterno mesmo só as baratas, que segundo os cientistas resistiriam até mesmo a uma bomba atômica.

A descoberta de que o sentido de estarmos juntos não mais existia veio aos poucos. Percebi que ainda gostava dela e seria capaz de fazer qualquer coisa para tê-la comigo quando Y ficou doente, muito doente. Me senti mal de uma forma que nunca havia sentido antes, como se fosse eu o atingido pela enfermidade. Fiz-me no entanto curado e sustentei um apoio que eu não sei de onde veio. Ela logo curou-se e foi aí que os papéis inverteram-se. Precisei fazer uma cirurgia. Um momento de incertezas coincidiu com a internação e a posterior recuperação em casa. No hospital, tive a companhia da minha cama, de um velho senhor que mal falava e daquele mórbido clima de hospital. Em casa, recebia alguns telefonemas de Y me perguntando como estavam as coisas. Suas palavras tornaram-se tão vazia quanto os discursos dos políticos e suas ligações pareciam ser de uma obrigatória e gélida necessidade.

Foi aí que as coisas começaram a ficar claras. Era como se estivéssemos separados por um vidro desde o começo. Eu, iludido, fui pintando uma imagem dela no vidro e com o tempo, passei a olhar apenas para aquela pintura, acreditando estar vendo Y ali. A pintura era perfeita e eu fazia tudo por ela, que por sua vez apenas era admirada. Tal qual um quadro que em si nada faz para que lhe seja dado um valor, assim ela agia. Mas a pintura foi se apagando e o tempo é cruel em termos de desilusões. Ele pode demorar, mais implacavelmente tudo destrói. Com a pintura não foi diferente e ela apagou-se quebrando consigo o vidro. Pude então olhar para Y diretamente e senti-me surpreso ao ver que ela estava virada de costas para mim. Virei-me então e tudo passou a fazer sentido. Com o tempo pude voltar a cantar uma dessas melodias que deixam o coração falar e “...Hoje vivo muito bem sem tua boca e sozinho não conheço mais a dor...”

quinta-feira, agosto 25, 2005

À um fio da ex.

A fome já havia me dominado e eu estava pronto para vencê-la quando, rompendo a silêncio daquela tranqüila noite, o telefone fez questão de dar um sinal de uma vida que não tem. Do outro lado da linha, ouço uma voz que não me é estranha. Ela pergunta logo se a sua voz é reconhecida como se quisesse saber se sua dona ainda representa algo para mim. Eu dissimulo e quase me convenço de que não reconheço. Como sempre, ela diz que ligou só para saber como estão as coisas e pergunta se meu coração está ocupado. Eu não dissimulo e digo a verdade. Ela espera a réplica, mas eu a deixo esperar. Ela irrita-se afirmando que eu não quero falar com ela, despede-se e desliga o telefone. Eu, tenho a minha fome aumentada e finalmente vou em direção à sua aniquilação.

Ex- namorada é um ser estranho, bem estranho. Essa, que protagonizou o caso relatado acima eu vou chamar de X para preservar o nome. De tempos em tempos me liga para saber como estão as coisas e sempre se irrita porque eu não conto detalhes. Ela parece ser uma espécie de câmera do big brother que insiste em me filmar, só para saciar a curiosidade. Sua ligação me lembrou o telefonema de outra ex que vou chamar aqui de Y.

Essa foi mais prática e depois de quase um ano que estávamos sem nos falar, ligou para o meu celular apenas para saber como chegar em um determinado local. Eu, inocente indiquei um ônibus e ela marcou o primeiro ponto ao afirmar que estava vindo acompanhada, não de ônibus. Um a zero para ela. Eu não queria empatar o jogo e dei as instruções corretas. Quando ela me viu, caminhou em minha direção como um artilheiro correndo em direção à baliza e chutou. Jogou, isso mesmo, ela jogou o namorado para cima de mim. Esse aqui é o fulano de tal, sem nem mesmo um bom dia para quebrar o gelo. Eu apenas apertei a mão do cidadão enquanto lia nos seu olhos o que ela realmente queria me dizer:

-Ta vendo? Quem mandou você me deixar! Arrumei um bem melhor. Você aí sozinho e eu aqui com um bem melhor que você.
Até a risadinha sarcástica chegou aos meu ouvidos. O meu lado negro da força sugeriu que eu respondesse algo do tipo:

-Coitado dele, Meu pêsames camarada. Mas o conselho de jedis da minha mente, buscando manter a ordem, apenas me disse para ficar calado e no íntimo do meu coração, desejar felicidade aos dois. E foi o que eu fiz; fiquei calado, sorri e deixei o placar ficar mesmo em dois a zero para ela, afinal nem sempre se pode vencer.

Reafirmo que ex-namorada é um ser estranho, muito estranho e interiorizo a certeza de que eu preciso mudar o número do meu telefone, antes que do fundo do baú, ou melhor, do fio do telefone, surja novamente a voz de uma ex.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Uma pedra no sapato

Tem certas coisas que importunam. Incomodam mais do que um elefante, ou dois, ou três...São como pedras no sapato, nos acompanhando a cada passo e sempre nos lembrando, seja pelo incômodo, pela dor ou pelas duas coisas juntas, que estão ali. Livrar-se desses incômodos é um desejo compartilhado por todos os que não fazem parte de algum grupo sado-masoquista. A maneira para sentir o alívio de tirar os sapatos e lançar longe as incômodas pedras possui uma variedade quase infinita. Mas não são todos os que tentam livrar-se da importuna situação. Alguns convivem com a pedra, seja pela ausência de outras opções, seja pela preguiça de tirar os sapatos.

Eu poderia escrever um livro sobre os diferentes tipos de pedras no sapato com as quais temos que conviver. Um desses pequeninos pedaços de rocha que faz questão de querer colocar-se entre o nosso pé e a palmilha do sapato, no entanto, despertou a minha atenção depois de assistir ao documentário “Ônibus 174”. O filme, como o próprio nome sugere, trata do episódio em que um assaltante manteve por várias horas cerca de seis pessoas como reféns no ônibus da linha 174 no Rio de Janeiro. Com um fim trágico, marcado pela morte de uma das reféns e do assaltante, ou melhor, seqüestrador, o caso evidenciou problemas sociais típicos das grandes cidades. São esses problemas que o filme discute através da análise do caso a partir da vida do Seqüestrador.

Sandro, o seqüestrador, é uma pedra no sapato e tanto, daquelas que insistem em incomodar e que não saem de jeito nenhum. Com seis anos, viu sua mãe ser esfaqueada e morta e iniciou sua trajetória incômoda para a sociedade. Fugiu de casa e uniu-se a outros tantos garotos que moram nas ruas, e convenhamos que esses garotos incomodam demasiadamente. Eles sujam a paisagem da nossa linda cidade, afastam os turistas e ainda ficam nos pedindo um trocado para matar a fome, como se tivéssemos alguma coisa a ver com a fome alheia. Para completar alguns deles ainda roubam.

Os meninos de rua são uma tremenda pedra no sapato da nossa sociedade. Não uma pedra qualquer, mas uma daquelas que não sai, principalmente porque nós estamos tão preocupados em engraxar nossos sapatos que nem atentamos para as pedras. Aprendemos a conviver com elas e temos que admitir que fazemos isso com maestria. Olhamos para as paisagens e não os vemos, exceto quando eles pedem algum trocado ou tentam nos assaltar. No primeiro caso, é fácil despistá-los e a melhor tática é mesmo fingir que eles não existem e pensar nas próximas férias ou na trama da novela das oito. No caso de um assalto, fingir que eles não existem não adianta. Perdem-se os objetos, o precioso dinheiro e fica apenas o lamento, acompanhado de uma certa indignação.

Voltando à pedra chamada Sandro, até que tentaram livrar-se dela. Foi em 1993, quando ele estava entre um grupo de menores que dormia em frente a uma igreja. Era madrugada, quando alguns valentões daqueles que gostam de fazer justiça com as próprias mãos mandaram ver e acordaram o grupo à tiros. 7 foram mortos, mas alguns sobreviveram e entre eles estava a nossa pedra principal do 174. Bem que tentaram, mas algumas pedras insistem em incomodar e tentar apenas livrar-se delas muitas vezes não dá resultado. Depois disso, Sandro ainda foi preso por assalto e mesmo assim insistiu em viver e em incomodar. Fugiu daquela instituição de correção onde umas 50 pessoas eram amontoadas em uma cela que cabiam 10 e continuou a importunar a sociedade como se estivesse gritando que ele ainda estava ali.

O grito só foi ouvido quando ele tornou-se estrela por um dia. Segundo alguns era esse o desejo dele, certamente não da forma como tudo aconteceu. Pessoas inocentes estavam tranqüilamente voltando para casa, quando de repente a pedra fez questão de incomodar. E como ele incomodou nesse dia. Passou a ser o protagonista de um filme real, uma espécie de reality show, transmitido por todos os canais de televisão. Por que ele incomodava? Porque ele ameaçava a vida de inocentes e trabalhadoras pessoas, que nada tinham a ver com aquele marginal que insistia em sobreviver. Um suspense real ocupou toda a tarde até que, quando parecia que tudo iria acabar bem, com o bandido morto e com algum herói beijando a mocinha, a pedra chamada Sandro incomodou ainda mais e matou uma inocente professora. Insistiu em importunar e só foi deixar de respirar após ser sufocado pela polícia. - Ufa, a sociedade respirou aliviada.
Bandido bom é bandido morto, é o que muitos dizem e no caso de Sandro essa máxima só não foi perfeita porque ele levou consigo alguém que nada tinha a ver com a história. E no fim, a professorinha foi enterrada com todas as homenagens possíveis, enquanto que a Sandro restou a solidão póstuma. A televisão questionou a incompetência da polícia em resolver o caso, leia-se em matar o bandido, só o bandido. Questionou também a insegurança em que os inocentes cidadãos vivem, estando a mercê de várias outras pedras como Sandro. Só faltou perguntar porque a cada dia novas pedras como ele instalam-se no nosso sapato e incomodam tanto e por que nós só as percebemos quando algo como o que ocorreu no 174 toma as páginas dos jornais. Faltou e ainda falta encarar o problema de frente e deixar de fingir que tudo funciona corretamente. A sociedade conseguiu livrar-se a muito custo de Sandro, mas se não repensar os seus valores e passar a agir de olhos verdadeiramente abertos, continuará a ser incomodada por muitas outras pedras. E como elas incomodam...

quinta-feira, agosto 18, 2005

Não se assuste

Não se assuste. Esse é o mesmo incomensurável de sempre, só que com algumas mudanças. Não vou aproveitar a ocasião para escrever sobre mudanças, afinal isso seria óbvio demais. Só estou escrevendo para comunicar a mudança e dizer que foi muito complicado fazer isso tudo. Agradeço à ajuda de duas pessoas que me deram uns toques e o pontapé inicial nessa aventura. Ao Brunno, que não gostava de ser chamado de Mula na época do colégio e à Daniella, que eu não lembro do que gostava ou não gostava de ser chamada na época do colégio.
Não mudei tanto o template quanto o Lula mudou suas idéias, mas até que ficou legalzinho. É claro que faltam alguns ajustes, pois o ideal mesmo é nunca estar conformado e sempre estar buscando o aperfeiçoamento. Mas que ficou legalzinho, ficou...

quarta-feira, agosto 17, 2005

"Fica com o Gordinho"

A caminho de casa por volta das 22 horas sentado em um ônibus coletivo. Sem pilha para o walkman, sem iluminação adequada para ler e na ausência de uma mina para me dizer que tem namorado (ver o post anterior), só me restou uma opção de passatempo: ouvir a conversa alheia. Em meio a muitos ruídos indistinguíveis, destacou-se um diálogo protagonizado por três mulheres:

Ser humano do sexo feminino 1: E aí, você já escolheu?
Ser humano do sexo feminino 2: É, você vai ficar com aquele gordinho ou com aquele outro?
Ser humano do sexo feminino 3: Tá difícil. Eu ainda não sei.
S. H. S. F. 1: fica com o gordinho. Ele é legal.
S. H. S. F. 3: Com o gordinho não rola.
S. H. S. F. 2: Por que não rola? Só porque ele é gordinho
S. H. S. F 1: É, o que você tem contra gordinho? O meu namorado é gordinho
também. Baixinho e barrigudinho. Qual o problema?
S. H. S. F. 2: E o teu gordinho nem é tão gordo assim. Ele até que é alto.
S. H. S. F. 3: O problema é que ele é muito bonzinho.
S. H. S. F.1: E o outro?
S. H. S. F.3: O outro é legal. Eu não sei
S. H. S. F.2: Eu tenho uma idéia! Sabe o que você faz? Leva os dois na sua casa e aí você fica com o que a sua mãe gostar mais.
S. H. S. F. 3 e 1 juntas: AH não. Isso nunca dá certo.
S. H. S. F. 2: Ah, então sabe no que que você tem que pensar? No Natal (isso mesmo, ela realmente falou isso, acredite, eu ouvi). Você tem que ver qual dos dois vai poder te pagar algo legal no Natal. Qual deles tem mais dinheiro?
S. H. S. F. 3: Sei lá, acho que o outro.
S. H. S. F. 1: Mas isso não quer dizer nada, porque tem homem que tem mas que não abre a mão para nada.
S. H. S. F. 2: É, isso é. Por isso que eu prefiro o meu pobrezinho mesmo que me dá coisa pacaramba.
S. H. S. F. 3: É. Mas eu ainda não sei com qual eu devo ficar.
S. H. S. F. 2: Ih, fica com o gordinho.
S. H. S. F. 1: É, fica com o gordinho...

Nesse ponto, as amigas 1 e 2 despediram-se e caminharam em direção à porta de saída. O diálogo encerrou-se e levou junto com ele o meu passatempo. Ficou só o Ser humano do sexo feminino 3. Antes dela descer eu quase lhe disse: -Quer um conselho? Fica com o gordinho.

segunda-feira, agosto 15, 2005

No meio do caminho tinha um namorado

Não costumo reduzir esse periódico a um simples relato do meu dia a dia, como muitos fazem. No entanto, as exceções existem para serem abertas, e eu vou destampar uma delas para falar sobre a aplicabilidade da lei de Murph na minha pseudo-vida amorosa. Uma das máximas dessa infalível lei, diz que se você acreditar que uma coisa vai dar errado, invariavelmente isso vai acontecer, e provavelmente de uma forma bem pior.

Pois bem, fazendo um balanço das minhas últimas tentativas te alteração da parte pessoal do meu profile do orkut, eu descobri que a lei de Murph tem sido muito, mas muito eficiente mesmo comigo. Indo direto ao assunto, todos os seres humanos do sexo feminino dos quais eu me aproximo tem namorado. No meio do caminho sempre tem um namorado e as vezes eu realmente me pergunto se existem mulheres solteiras nesse mundo. Já aconteceu de tudo. Já ocorreu de eu estar conversando com a garota e quando ir para a ofensiva, vir a menção de que ela tinha um namorado e que ele estava no mesmo local. E o que aconteceu? Ele apareceu enquanto nós conversávamos e arrastou ela. Ela educadamente até tentou dar um tchau. Só tentou. Já aconteceu da conversa estar indo muito bem, até que ao dizer o meu nome, ela falar que o namorado tem o mesmo. Que coincidência mais tosca, pensei eu. Ela até me mostrou a aliança. Como eu não pensei nisso antes. Olhe primeiro o dedo para ver a aliança, seu idiota. Mas não, eu iludido fui dando corda e nem olhei o dedo. Mas tinha mesmo uma aliança lá e isso me fez sentir velho.

Não pense que eu perdi a sanidade, mas ver aliança em alguém que você está interessado tem tudo a ver com a sua idade. Foi se o tempo em que a única preocupação era saber se a garota tava tendo um rolo com algum amigo meu, agora é preciso ver se ela já é noiva ou até casada ( eu já encontrei uma dessas também ). Se você já se interessou por alguma mulher que já está noiva, além de você ser muito azarado, sinto lhe dizer, mas você também está ficando velho.

Um sorriso dela e um papo descompromissado que vai melhorando aos poucos. Essa é a fórmula para descobrir que no meio do caminho tem um namorado. Acredite, isso sempre acontece comigo. Quando alguém olha para mim ou puxa assunto no ônibus, na fila ou até na Kombi, eu já digo para mim mesmo: -Não se iluda, ela deve ter namorado. E ao longo da conversa, não é que eu descubro que ela tem mesmo. Se isso não bastasse, aquelas poucas que eu conheço, que não tem namorado e para as quais eu mando o meu cupido atirar, logo depois de um tempo arrumam um. Ta certo que leva um tempinho, mas a que mais demorou levou uns 4 ou 5 meses para colocar lá no orkut: “namorando”. Acho que o meu Cupido Jatobá errou o alvo. Além disso, acho que estou me tornando uma espécie de talismã para desencalhadas desencalharem e estou pensando até mesmo em colocar um anúncio no jornal para oferecer meus serviços. Fico até imaginando uma conversa entre amigas sobre a minha especialidade:

ENCALHADA: Tô me sentindo tão sozinha amiga. Tô precisando de um namorado...
RECÉM DESENCALHADA: Você conhece o Junior? Ele é ótimo para isso.
ENCALHADA: Você acha que ele vai gostar de mim?
RECÉM DESENCALHADA: Ih, nem precisa disso. É só você se aproximar dele que arranja um namorado. É infalível. Eu conheci ele e no dia seguinte arrumei um namorado.
ENCALHADA: Não custa nada tentar né...


Agora tenho que ir. Quem sabe no caminho eu não conheça uma nova garota, que logicamente vai falar que tem namorado.

quinta-feira, agosto 11, 2005

A certeza de uma momento*

Haverá um dia em que ela irá me ouvir. Surpreso, eu apreciarei a única voz que anula todos os sons possíveis, traduzir em palavras o desejo de escutar o que eu tenho para lhe dizer. Nesse dia, não haverá ninguém à nossa volta. Não haverá nada, nenhum som, nenhum vento. Nenhuma manifestação da natureza será notada e nem mesmo o tempo nos lembrará que existe. Entre eu e ela nada haverá.

Haverá um dia em que ela vai olhar nos meu olhos. Não como quem observa uma paisagem, mas como alguém que tenta ler o que eles querem dizer. Nesse dia eu terei a sua atenção e pela primeira vez saberei aproveitá-la. Não hesitarei. A certeza de que aquele dia chegará é tão forte que toda vez que o sol bate na janela do meu quarto eu me pergunto se esse dia chegou. E ele chegou, direi para mim mesmo. Tantas foram as tentativas de imaginar aquela ocasião que aquele momento será completo. Eu irei prestar atenção e sentir todos os detalhes. O simples esvoaçar dos seus cabelos ou a mínima mudança de feição eu irei notar com o mesmo impacto das mais grandiosas coisas.

Haverá um dia em que eu não irei pensar duas vezes antes de lhe dizer tudo, absolutamente tudo o que vem à minha mente quando ela ocupa os meus pensamentos. Não irei me questionar se devo ou não. O que realmente irá me interessar será ela e a atenção, a verdadeira atenção que pela primeira vez eu terei. E eu não irei desperdiçar o interesse que, representado por atentos olhos, será dedicado à mim.

Depois de tudo ter lhe dito, eu irei sorrir e deixá-la ir. Nada mais irá importar. A sensação de dever comprido tomará conta de mim. Tudo terá acontecido exatamente como eu havia imaginado. Eu, com uma sensação de trunfo e despreocupação, sorrirei para mim mesmo e terei finalmente a confirmação. Não importa o que acontecerá depois. Não importa se ela irá repousar sobre os meus braços e render-me seus abraços e seus sorrisos. Não importa se ela irá apenas rir de mim e virar as costas. Pouco importa se as lágrimas descerem dos seus olhos. Não lágrimas sofridas, mas lágrimas de emoções verdadeiras, daquelas que poucas vezes lubrificam nossos olhos. Verdadeiramente eu não me importo com o depois. Não me interessa o futuro. Somente a atenção dela e a certeza de que tudo foi dito exatamente como eu sempre pensei em traduzir em palavras irá ater minha atenção.

Haverá um dia em que tudo será dito. A certeza de que esse dia chegará é tão concreta para mim que eu apenas o espero. Não o espero como algum ébrio aguarda um futuro incerto. Eu aguardo esse dia com uma convicção tão inabalável que essa certeza chega a ser palpável. Todos os dias eu a toco e a sinto. Não duvido desse dia, como não duvido de nada do que tenho a dizer a ela. Almejo apenas uma oportunidade. A tão esperada chance que ela nunca me concedeu, chegará um dia. A espera por esse dia me arrasta em direção a ele. A certeza de que ele chegará me leva na direção dela e a seu caminho eu me lanço na conquista da sua atenção.
*fortemente influenciado pelas seguidas apreciações do novo albúm do los hermanos.

sexta-feira, agosto 05, 2005

Um espetáculo chamado CPI

Heráclito, o pipoqueiro cronista*

Quatro horas, trinta e dois minutos e 29 segundos de um dia de semana, Rio de Janeiro. Vejo gente, muita gente além do número comum que a essa hora costuma passar por aqui. Finalmente, alguém se aproxima da minha carrocinha e então eu posso resolver a minha dúvida quase insolúvel. Trata-se do Cleonildo, um cara gente boa, tipo franzino, cabelos curtos e olhar conformado. Chega logo pedindo o de sempre:
-E aí mestre, manda aquela pipoquinha caprichada de sempre, pode ser?
-Pode deixar que se há uma coisa que eu sei fazer bem, é pipoca. -Você que é um cara bem informado, me diz o que houve que isso aqui ta tão cheio. Por acaso houve uma demissão coletiva hoje?
- Que isso, mestre, nem brincando diga isso. O meu chefe só liberou a galera para acompanhar a CPI dos correios.
- Até parece que alguém vai querer ver aquilo, disse eu no auge da minha falta de informação, para não dizer ignorância.
- Ih, tu ta por fora. A rapaziada ta vendo mais CPI do que jogo de futebol. Aquilo é muito bom cara. Não tem como ter empate, pois com o Roberto Jefferson em campo, ou melhor, em plenário, sempre tem um gol, ou melhor, uma denúncia nova. Além disso, mestre, o cara é muito comédia e quando ele vai falar, é só esperar e preparar uma gargalhada.
- Vossa excelência está atrasado, a parada já vai começar e o primeiro a falar vai ser o bob Jefferson, disse um meliante, conhecido do Cleonildo. –Vamos logo, antes que lote a birosca do Jonas.

Pipoca pronta, Cleonildo despediu-se de mim e correu para o ponto de encontro da rapaziada, o local mais famoso e mais bem freqüentado da área, a birosca do Jonas. O dono da birosca realmente sabe se adaptar as ondas do momento e é um cara antenado ao mundo da política. Logo que o Severino Cavalcanti assumiu a presidência da Câmara, por exemplo, ele logo colocou uma plaqueta em cima do vaso sanitário do seu banheiro. Em letras miúdas era possível ler:
“VASO SEVERINO; UMA MERDA ATRÁS DA OUTRA. MANTENHA-O BEM CUIDADO, PARA QUE ELE NÃO LHE FAÇA OPOSIÇÃO”.

A placa teve que ser tirada logo depois, devido a uma reclamação do porteiro do prédio ao lado e fiel cliente da birosca que por um acaso era proprietário da mesma graça do deputado. Alguns sugeriram especificar na placa que se tratava do deputado Severino, mas o Jonas preferiu retirar a placa e colocar a antiga mensagem:
“AQUI MÃO É IGUAL À SUA CASA. SUA MULHER NÃO VIRÁ LIMPAR O VASO, PORTANTO DEFEQUE COM DESCÊNCIA E ORDEM”.

Muita gente disse que preferia a antiga placa, mas logo as reclamações cessaram. Agora para aproveitar a onda do mensalão, o Jonas instalou um telão e toda vez que acontece um depoimento, a sua birosca fica lotada de torcedores. Ele fatura com o público que, aliás, adorou a idéia.

O brasileiro encontrou na CPI mais uma diversão. Agora, além de comentar sobre os gols da rodada, a rapaziada se reúne na birosca do Jonas para falar sobre as últimas firulas dos relatores e especialmente sobre as constantes pexotadas dos acusados. Um depoimento de CPI reúne vários programas em um só. Tem suspense, com a expectativa acerca da próxima denúncia do Bob Jefferson. Tem ação com os acalorados discursos e tem também muito humor, com deputados que ficam mandando beijinhos para a câmera e com as falas do Bob Jefferson. Além disso, nas atuais CPI’s o que não tem faltado é comercial de produtos de limpeza. O que mais aparece são garotos propagandas de óleo de peroba, tremendos cara de paus que omitem a verdade descaradamente. Destaque para a madame que era dona, mas que não sabia de nada que acontecia nas suas empresas e que tinha quatro misteriosos milhões em sua conta.

Assim caminha o Brasil com uma CPI atrás da outra. As atuais estão virando verdadeiros espetáculos, e o brasileiro, ao contrário do que muitos dizem, está sabendo assistir ao jogo do poder muito bem. A diversão, esse povo procura em qualquer lugar e não seria diferente com a CPI. Agora é só ver onde as coisas vão parar e esperar mais denúncias estourarem como milhos e mais dos nossos representantes pipocarem freneticamente.



*Heráclito, o pipoqueiro cronista escreve para o incomensurável sempre que pode. Seus textos trazem mais surpresas que os depoimentos do Roberto Jefferson.

segunda-feira, agosto 01, 2005

O Medo

Às vezes, eu sinto ele aproximar-se. E como ele chega depressa. Me vence tão facilmente que me entrego como um soldado cansado e faminto. Me rendo a ele mesmo que a minha vontade lute contra. Vencido, anseio apenas me recolher a um lugar inalcançável e ali ficar sem ser atingido nem mesmo pelo tempo. Mas esse lugar eu não encontro. Procuro, mas não o encontro. Então eu apenas convivo com este aniquilador sentimento que toma conta de mim.

A origem dele está na reflexão e nada me afasta dessa teoria. A maldita reflexão sempre antecede o medo. Pensar em fazer algo já é questionar e esse questionamento, com suas infindáveis possibilidades, invariavelmente leva ao medo. Tudo o que deve ser dito ou feito é tão claro, tão completo. Mas aí vem a reflexão. Dominam-me as inferências acerca do futuro. Dominam-me as possibilidades; de um não, de uma indiferença, de um julgamento. Domina-me o medo. Se ao menos eu não refletisse tanto, talvez ele não tivesse tempo de tomar conta de mim. E aí, eu poderia, como que por instinto, agir, apenas agir. O possível arrependimento poderia algumas vezes tomar conta de mim, mas ao menos seriam algumas vezes. Mas não. Eu sempre tenho que pensar, sempre tenho que refletir e sempre tenho que acreditar que nada é possível. Sempre tenho que crer que o fracasso será o resultado. Sempre tenho que fugir e procurar o tal local inalcançável. Um lugar onde eu não chego. À sua procura eu recolho-me e apenas o medo passa a ser a minha companhia.

Certos inimigos sempre conseguem a vitória e um bom adversário sabe reconhecê-los. Eu reconheço e o conheço muito bem. Sempre que tento me afastar dele, ele faz se presente como se quisesse provar que pode me vencer. Ele, o medo, sempre consegue. Talvez um dia quem sabe eu possa vencê-lo. Crer nessa possibilidade talvez seja algo reconfortante, mas as coisas reconfortantes sempre andam lado a lado com a ilusão. Iludido, eu acredito que um dia eu possa vencê-lo. Iludido eu permaneço dominado por ele. Iludido eu tenho medo, muito medo. Medo do futuro, de ser eu mesmo, de buscar, de dizer, de ser aceito, de ter, de manter, de alcançar, e o pior de todos os medos: o medo de ao menos tentar.