Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

domingo, agosto 28, 2005

Ainda sobre Ex.

Já que elas foram citadas no último post, torna-se necessário detalhar a X e a Y. Tenho tanto a dizer sobre X quanto o tempo em que passamos juntos: muito pouco. Conheci-a por intermédio de um amigo e passamos a viver numa irresponsabilidade despreocupada por mais ou menos 2 meses. Conversávamos sobre tudo, mas uma coisa lhe era peculiar: ela perguntava muito. Não tinha vergonha de dizer que não havia entendido as coisas mais estúpidas e simples e a uma certa altura eu comecei a me ver como um desses velhos que ficam dando conselhos e respondendo os porquês das crianças. A gota d´agua veio quando fomos assistir Shreck 2 e ela não parou de me fazer perguntas sobre o filme. Tudo bem que ela não havia visto o primeiro, mas perguntar porque o gato usava botas já é demais. Para resumir, digamos que X parecia levantar a bandeira da sua ignorância com orgulho. Ao menos em uma aspecto ela me surpreendeu e foi sua a iniciativa de terminar o relacionamento.
Fiquei transtornado, não pelo fato de ter sido abandonado, mas sim por conta da constatação de que eu não fui capaz de agradar nem mesmo um ser que não entendeu porque o “gato de botas” usava botas.

Quanto a Y, muita coisa há para ser dita. Ficamos juntos durante quase um ano. Como tudo na vida, as coisas começaram perfeitamente bem, até que o sentido de um possível amor fez as malas e me deixou sem explicações. Fiz tudo o que poderia ser feito por ela, e cantaria “lagrimas sofridas” dos hermanos para definir essa fase. Até que eu mudei para a faixa “descoberta” e tudo passou a fazer sentido.

Ela não fazia tantas perguntas quanto X, mas pior do que isso, ela concordava com tudo e quando discordava não sabia argumentar. Faltava-lhe dizer não, discutir, brigar, enfim manifestar-se. Mesmo assim, algumas vezes ela me surpreendia e mostrava que seu cérebro não era uma área improdutiva. Sua mãe me adorava e quando eu me estendia em sua casa até as avançadas 8 horas da noite ela logo comentava com uma vizinha que só estava esperando eu ir embora para dormir. Depois desses ocasionais convites eu, surpreendentemente manifestava a minha saída e ela lamentava: - Já vai?. Seu pai, era uma espécie de fundamentalista religioso que abraçava a bandeira do “faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. Apesar de tudo isso, ainda valia a pena tê-la ao meu lado. Tudo no entanto, tem um fim e eterno mesmo só as baratas, que segundo os cientistas resistiriam até mesmo a uma bomba atômica.

A descoberta de que o sentido de estarmos juntos não mais existia veio aos poucos. Percebi que ainda gostava dela e seria capaz de fazer qualquer coisa para tê-la comigo quando Y ficou doente, muito doente. Me senti mal de uma forma que nunca havia sentido antes, como se fosse eu o atingido pela enfermidade. Fiz-me no entanto curado e sustentei um apoio que eu não sei de onde veio. Ela logo curou-se e foi aí que os papéis inverteram-se. Precisei fazer uma cirurgia. Um momento de incertezas coincidiu com a internação e a posterior recuperação em casa. No hospital, tive a companhia da minha cama, de um velho senhor que mal falava e daquele mórbido clima de hospital. Em casa, recebia alguns telefonemas de Y me perguntando como estavam as coisas. Suas palavras tornaram-se tão vazia quanto os discursos dos políticos e suas ligações pareciam ser de uma obrigatória e gélida necessidade.

Foi aí que as coisas começaram a ficar claras. Era como se estivéssemos separados por um vidro desde o começo. Eu, iludido, fui pintando uma imagem dela no vidro e com o tempo, passei a olhar apenas para aquela pintura, acreditando estar vendo Y ali. A pintura era perfeita e eu fazia tudo por ela, que por sua vez apenas era admirada. Tal qual um quadro que em si nada faz para que lhe seja dado um valor, assim ela agia. Mas a pintura foi se apagando e o tempo é cruel em termos de desilusões. Ele pode demorar, mais implacavelmente tudo destrói. Com a pintura não foi diferente e ela apagou-se quebrando consigo o vidro. Pude então olhar para Y diretamente e senti-me surpreso ao ver que ela estava virada de costas para mim. Virei-me então e tudo passou a fazer sentido. Com o tempo pude voltar a cantar uma dessas melodias que deixam o coração falar e “...Hoje vivo muito bem sem tua boca e sozinho não conheço mais a dor...”