Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

quarta-feira, junho 22, 2005

Em busca de algo mais que uma pátria de chuteiras

Heráclito, o pipoqueiro cronista*.



Aproveitando o baixo movimento, típico dos dias chuvosos, pude retornar ao incomensurável. Um pipoqueiro não tem muito tempo para redigir textos e como eu não recebo mensalão, preciso trabalhar. Dedicar-se ao trabalho aliás, foi o que pouquíssima gente fez hoje a partir das quatro horas da tarde. Até o pregador xiita que fica por aqui gritando que todos vão para o inferno se não aceitarem Jesus trocou o grito de arrependa-se por entusiásticos “Pedala Robinho”. E o atacante brasileiro parecia estar ouvindo os urros do seu compatriota e obedecendo o mandamento pedalou, pedalou, pedalou e pedalou. Pedalou tanto que a corrente caiu e os japoneses, tão hábeis com os inventos tecnológicos, subiram em suas modernas motonetas e alcançaram a nossa humilde magrela brasileira.

A rede balançou tanto, que um alemão resolveu inovar e fez um gol consigo mesmo. Teve gente que até comemorou e aqui no boteco do seu Joaquim, o auto gol humano recebeu mais comentários que a nomeação da nova ministra da casa civil. Coisas de alemão, a única língua em que gol não tem o som de gol, mas sim de thorrrrrrrrrrr. Imagine se o Galvão Bueno fosse alemão. Além do Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaldinho, cuja falta nessa copa das confederações tem causado crises de identidade no locutor brasileiro, teríamos que ouvir o thorrrrrrrrrrrrrr, toda vez que a rede balançasse.
-Até que não foi tão mal assim, comentou o funcionário da pastelaria chinesa, que de tanto ser chamado de Japa, quando viu o segundo gol do Japão, soltou um estrondoso grito que ninguém entendeu.
-Não foi tão mal? Você tá maluco? Não foi tão mal por time de vocês, mas para o Brasil foi uma vergonha, sentencia o vendedor ambulante.
Vergonha é um sentimento, que se tratando de Brasil, só toma conta de nós quando a seleção de futebol perde. Jamais ouvi alguém chegar aqui, depois de tomar conhecimento de alguma dessas infindáveis denúncias de corrupção, e dizer indignado que sente vergonha em ter votado em determinado deputado.
-Isso não é possível. Esse não é o Brasil que eu conheço. Nós temos condições de vencer, mas toda vez deixamos essa chance escapar por causa de alguns jogadores que fazem besteiras em campo. Quando pensamos que o time vai embalar, somos surpreendidos com alguma derrota. Assim não dá! exclama algum torcedor brasileiro, após o término na partida.

Aquilo que Nelson Rodrigues um dia chamou de pátria da chuteiras, parece que não sabe retirar as chuteiras após os jogos. Nossa cobrança e indignação contra o Parreira, não possuem nem 10% de correspondência em relação aos nossos representantes entre o poder público. Imagine algum sujeito indignado, dirigindo-se para o deputado em quem votou e dizendo:
-Pô cara, assim não dá! Você está muito na retranca. Têm que apresentar mais projetos. E aquela lei acerca do dinheiro público que você prometeu? E aquele acessor que você convocou? De onde você tirou aquele cara? Ele é muito ruim. Tem que se preparar bem para o próximo jogo hein. Com bons argumentos, análise do processo e coerência agente pode vencer aquele time de corruptos. Tô de olho em você!
Se ao menos, puséssemos usar a mesma cobrança que exercemos sobre o Parreira para a nossa classe política, seríamos mais que uma pátria de chuteiras.



*Heráclito, o pipoqueiro cronista, escreve para o incomensurável sempre que pode, com uma inconstância que só encontra paralelos no tempo que um mesmo milho levaria para estourar.