O pregador

Dia desses, estava eu voltando para casa, quando no meio da viagem, levantou-se um pregador e começou a falar dentro do ônibus. Concordei com tudo o que ele disse, só não gostei de três coisas: a altura da voz dele, a forma com que ele falou e o local que ele escolheu para discursar.
O cara falava tão alto que chegava a gritar. Estava proclamando a verdade dele, a salvação cristã, como se fosse uma verdade compartilhada. Esqueceu-se que as pessoas ali poderiam ter crenças diferentes e fez um discurso carregado de um cego juízo de valor. Além disso, ele nem sequer perguntou se os presentes estariam dispostos a ouvir sua mensagem. Dessa forma, todos foram obrigados a ouvir o que ele estava a vociferar. Como já disse, eu compartilho da crença que ele expôs através das suas palavras, no entanto, acredito que a palavra de Deus tenha poder suficiente para penetrar no coração dos homens sem ser imposta de uma forma autoritária. Por isso eu não gosto desses caras que ficam pregando no trem, no ônibus ou em outros lugares onde as pessoas que ali estão não tem outra escolha senão ouvi-los. Isso é desrespeito e não pregação.Em nenhum momento da bíblia, as pessoas são obrigadas a ouvir a mensagem, tal qual aquele pregador fez dentro do ônibus e isso prova que a palavra de Deus não precisa ser imposta.
Outra coisa que me deixou intrigado foi forma como ele falava. Vociferava como se fosse o dono da verdade, coisa que em escalas menores eu já cheguei a fazer aqui no blog no post sobre a “juventude”. Lendo os comentários das pessoas eu percebi como eu estava sendo prepotente ao fazer um juízo acerca dos valores das outras pessoas. Aprendi muito com esse post e hoje já penso de uma forma diferente. Mas voltando ao ônibus, eu fiquei pensando na eventualidade de um defensor de cada religião resolver pregar dentro do ônibus. Será que seria agradável em uma mesma viagem ouvir um espírita, um judeu, um muçulmano, um macumbeiro e um ateu vociferando sobre suas crenças como se fossem as verdades universais?
Odeio pregadores que querem impor a verdade, independente da religião que professam. Se a verdade é mesmo universal ele atinge as pessoas de uma forma natural, não necessitando ser empurrada goela adentro.