Fazendo a alegria do penico
Sigmund Freud, tido como o pai da moderna psicanálise, acreditava que o ser humano vive uma eterna adaptação com a perda. Desde que nascemos e somos bruscamente retirados do útero, acostumamo-nos com a perca. O que muda é apenas a forma com que lidamos com essa eterna frustração e violência para a qual somos submetidos. Somos criados para ser independentes e desde pequenos, vamos perdendo todas as regalias proporcionadas pela existência social como criança.
Após o esgotamento do leite materno, uma criança da espécie humana precisa entre outras coisas, aprender a fazer suas necessidades fisiológicas na hora certa. A utilização da fralda vai sendo aos poucos abandonada. Fazer coco ou xixi no penico é algo que precisa ser aprendido. Vale lembrar que uma criança pode fazer coco ou xixi eternamente apenas se ela for do sexo feminino. Se for macho, é preciso passar a cagar e mijar por volta dos seis anos.
Meu irmão, com um ano e sete meses, está na fase de familiarização com o penico. O dele, é um objeto em forma de uma sorridente tartaruga verde, com adesivos que simulam olhos e boca. A tartaruga é bem simpática e as vezes eu quase fico com pena dela, ao pensar que aquele simpático animalzinho de plástico foi feito com o único intuito de receber dejetos humanos. Minha mãe, por outro lado, prefere utilizar a simpatia da tartaruga penico para incentivar a perda da regalia proporcionada pelas fraldas ao meu irmão. Convencer uma criança de que é preciso controlar suas necessidades é difícil. Mais do que isso, é necessário ensiná-la a defecar de acordo com os padrões da sociedade na qual ela insere-se. A melhor argumento encontrado até agora para convencê-lo foi o de que a tartaruga vai ficar feliz se ele defecar dentro dela, e acredite ou não, essa é a única forma de persuadi-lo.
Isso pode parecer um pouco estranho, mas o fato é que todos nós crescemos perdendo e nos conformarmos com a perda ao fazer a alegria do penico. Não quero dizer aqui que enquanto defecamos somos mais felizes. Falo de um metafórico penico que encontramos em vários momentos de nossas vidas. O mesmo penico que sempre estamos nos esforçando para alegrar. Crescemos e amadurecemos quando perdemos regalias e nos tornamos independentes. Precisamos aprender a nos virar sozinhos, necessitamos de um emprego e temos que abandonar os nossos pais e a dependência que sempre tivemos em relação a eles. E por que fazemos tudo isso? Porque crescemos acreditando que isso deve ser feito. Não há razão para nada do que somos impulsionados a fazer durante a nossa vida. Fazemos porque todos fazem. Como forma de trazer uma satisfação pessoal, fazemos tudo simplesmente porque acreditamos estar alegrando o penico. Mudamos nossas atitudes porque precisamos e ao fazer isso, acreditamos estar fazendo algo de bom para alguém, incluindo nós mesmos. Tente identificar o penico que você faz de alvo para sua alegria...