Escritos e reflexões de uma mente atordoada Fora dos ilimitados limites da razão

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Bem perto de mim

A indesejada das gentes. Foi assim que Manuel Bandeira nomeou aquilo que foge de qualquer lógica, o que mais do que qualquer coisa é e não é: a morte. Hoje, ela chegou bem perto de mim. Minha bisavó foi alguém mais próximo de mim que ela já havia atingido antes, mas naquela época, eu não tinha mais contato com ela. Hoje, no entanto, foi a vez do meu tio.

Toda a família preocupada com a reunião no reveillon e em uma manha de sexta-feira vem a notícia. 48 anos, e ao caminhar em uma praia pela manhã de hoje, ele a encontrou. Ela como sempre, veio de forma inesperada. Não há o que dizer, o que pensar ou o que esperar. Alguns consolam-se na crença de que de alguma forma ele ainda continua a viver, mas nada anula a eterna ausência que virá. Nada anula o fato de que ele nunca mais será visto.

O mais estranho da morte é que ela traz, junto com a dor da ausência de alguém próximo a você, a certeza de que todos as pessoas com as quais você está hoje podem e certamente irão morrer um dia. Para essa certeza não há uma preparação e todos nós vivemos tentando esquecer dela. Mas aí, de uma hora para outra, alguém que ontem estava ao seu lado simplesmente desaparece desse mundo. Isso, assim como a vida, não é nada justo.

Meu tio não era alguém muito próximo a mim, mas as lembranças das conversas que já tive com ele vêm agora á minha mente e a imagem dele, aqui, sempre brincando com todos, não quer sair da minha mente. Melhor assim, ao menos fica uma boa imagem em meio a toda essa tristeza que agora domina a família.

Vemos a toda hora notícias de mortos no Iraque, no bairro mais próximo ou até mesmo na casa ao lado, mas nunca, nunca esperamos que esse brutal fenômeno chegue perto de nós. Hoje, a morte chegou bem perto de mim e o pior de tudo é saber que certamente ela irá voltar mais vezes.