Em busca de coisas alegres
O dia estava amanhecendo e ao acordar, ele teve vontade de falar sobre coisas alegres. Buscou na memória todos os bons momentos pelos quais havia passado durante todo aquele ano. As vitórias, os sorrisos, as gargalhadas, o aprendizado, a experiência; tudo isso estava lá, cuidadosamente guardado na sua mente. Pode lembrar daqueles simples momentos em que há um contentamento interior único, alguns poucos minutos em que o sorriso aparece sem pedir licença e sem precisar de uma razão. Momentos singulares que nunca voltam e que ao longo dos anos apenas mandam um recado, nos tocando com um sentimento de saudosismo.
Ele lembrou de todas as coisas que passaram. Coisas alegres que se foram e que ficaram apenas na lembrança. Momentos de ilusão em meio a um passado melancólico. A alegria tem dessas coisas. Não é reflexiva, é vivida. Tão pouco é esquecida e sempre é relembrada com uma triste saudade. É estranho como o passado parece sempre ser bem melhor que o presente. Os bons momentos sempre ficaram guardados na memória e quando a eles recorreu, ele percebeu que só o fez porque a alegria não mais o fazia companhia.
Naquele dia, ele percebeu que um presente lamentável sempre se alimenta da alegria do passado, da medíocre e ilusória alegria. Uma alegria que está sempre nos entorpecendo da realidade, esta sim, um tanto quanto estúpida. Um sentido para tudo isso é o que todos buscam e criá-los é o que o ser humano aprendeu a fazer com maestria. Riquezas, religião, festas, drogas, um outro alguém; tudo parece ter o mesmo objetivo, o de suportar a falta de sentido que é a vida. E assim, seguimos, de alegria em alegria até a morte, concluiu ele.
Ao lembrar de coisas alegres, ele percebeu que jamais poderia revivê-las. Suportou o presente e mastigou toda a sua atual tristeza. Ele sentiu o sabor, o amargo sabor do fracasso, bebeu a dúvida e sentiu o aroma da dor. Assistiu a um inconstante baile, executado pelo seu edifício de crenças, prestes a desmoronar. Naquele dia, ele havia acordado com vontade de falar sobre coisas alegres, buscadas no passado, mas a dolorosa realidade do presente não permitiu que ele abrisse a boca.