Entrevista especial de Natal
Heráclito conversa com um ajudante de Papai Noel brasileiro*
Eu, Heráclito, o pipoqueiro cronista, pelo poder que me foi concedido pelo Jun1or, apresento-lhes a entrevista especial de Natal do Incomensurável. Papai Noel é sem sombra de dúvida a celebridade das festas de fim de ano. Todos querem autógrafos, entrevistas e fotos com o bom velhinho. Este periódico odeia a unanimidade e alimenta-se de um espírito alternativo. Por isso, resolvemos entrevistar neste natal, uma figura coadjuvante da festa. Passamos uma tarde com um dos ajudantes do Papai Noel. Para nossa surpresa descobrimos que ele era carioca. Ex-membro de uma organização policial não reconhecida pelo governo, o jovem rapaz atuava na defesa de uma fábrica de ervas no complexo do alemão, zona norte do Rio de Janeiro, local que ficou famoso pela morte do jornalista Tim Lopes. No cargo de ajudante de papai Noel, há quase 5 anos, ele nos recebeu em sua casa para uma surpreendente conversa regada a muita água ardente brasileira.
Heráclito: Bom, em primeiro lugar, como podemos chamá-lo? Você tem algum apelido carinhoso dado pelo papai Noel?
Ajudante de Papai Noel: Apelido carinhoso? Tu ta me estranhando? Ta pensando que eu pego no saco do velho? E me chame de Chumbinho, o duende, que já ta bom.
H: Sem ofensas. Agora me fale um pouco sobre esse seu local de trabalho. Eu achei que ficava no pólo norte.
Heráclito: Bom, em primeiro lugar, como podemos chamá-lo? Você tem algum apelido carinhoso dado pelo papai Noel?
Ajudante de Papai Noel: Apelido carinhoso? Tu ta me estranhando? Ta pensando que eu pego no saco do velho? E me chame de Chumbinho, o duende, que já ta bom.
H: Sem ofensas. Agora me fale um pouco sobre esse seu local de trabalho. Eu achei que ficava no pólo norte.
Chumbinho: Ih, maluco, esse papo de pólo norte é lenda. O que que eu ia fazer num lugar frio daqueles. Prefiro o clima tropical aqui de Cuba.
H: É um tanto quando inusitado esse local você não acha? Todos os países capitalistas dependendo de uma fábrica que fica em Cuba.
C: Cara, isso é o mais louco. Sempre rolam uma manifestações aqui. No natal do ano passado, um duende barbudo fundou um movimento que só queria aceitar cartas de criancinhas comunistas. Um cara X novou ele para o chefe e aí a chapa esquentou. O velho batuta, quando ficou sabendo, parecia que estava pelado: ficou vermelho de raiva. Prendeu o barbudinho líder do movimento e mandou torturá-lo com as músicas de bandas brasileiras de axé. O maluco não resistiu nem uma dia (risadas descontroladas e escandalosas).
H: Já que você falou aí sobre comunismo, você poderia dizer se o Papai Noel usa vermelho por ser mesmo comunista?
C: Comunista? Tú ta maluco ou fumou um do bom? Nego viaja pensando que só porque ele usa vermelho ele é comunista, mas a verdade é que ele é membro de um movimento secreto chamado zaikurozosvisky. Em português algo parecido com Somente o ovo direito.
H: Ah, e qual o cunho do movimento?
C: Ih, eles são da ultra direita. São tão de direita que nenhum deles possuí o testículo esquerdo, que é cortado em um ritual que simboliza uma futura descendência exclusivamente de direita. Por isso que o papai Noel carrega um saco; é um trauma que ele tem por ter apenas um testículo.
H: Bom, era justamente o saco do Papai Noel o nosso próximo tema.
C: Ih maluco, eu sabia que tu mordia a fronha. Vai mandar esse papo aí de saco do Papai Noel para os teus nêgos.
H: Na verdade eu iria perguntar sobre os brinquedos que ele carrega no saco.
C: Ah bom (risos). Eu pensei que tu além de pipoqueiro era um desses padeiros distraídos, que gosta de queimar a rosca. (risos)
H: Eu gostaria de saber como é o processo de fabricação dos brinquedos.
C: Ah, isso é bem simples. O velho batuta do nosso patrão chega aqui com uma lista muito doida, nos entrega uns capuzes e aluga um barco. Aí, agente pega, dá um pulinho lá em Miami e passa geral ta ligado (risos). Agente mete aquela rapaziada toda de lá, as lojas, os ricaços e de quebra ainda traz umas gringas para a nossa diversão, tá ligado.
H: Quer dizer que vocês passam o ano todo de férias e quando chega a época de natal vocês comentem roubos?
C: Isso aí, brother, até que tu não é burro não hein.
H: E dá para viver disso?
C: e porque é que tu acha que eu to nessa? Tu acha que eu ía abandonar o complexo de grátis? (risos)
H: E quanto à polícia ou a fiscalização?
C: Aí, isso não é gravação para o fantástico não né? Porque se for, tu vai passar o natal igual a um leitão: assadinho e com uma maça na boca (risos).
H: Não. Isso aqui vai só para um blog mesmo.
C: blog? Ah, e eu pensando que era para algo mais importante. Ah, maluco, me dá licença que eu tenho mais o que fazer. Hoje tem passeio em Miami (risos).
Ao saber que a entrevista iria para um blog, chumbinho interrompeu a entrevista e retirou-se. Muitas dúvidas permaneceram. Não houve nem mesmo tempo para enfatizar que isso não seria publicado em qualquer blog, mas sim no Incomensurável. Fica para a próxima.
*Heráclito, o pipoqueiro, faz entrevistas, vende enfeites de natal, rabanada, peru e tudo mais o que produza dinheiro. Até escrever para o incomensurável ele escreve.